O ataque de hackers aos celulares de procuradores da Operação Lava-Jato, assim como do ministro Sério Moro, ex-juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba (PR), está sendo investigado pela Polícia Federal (PF), que suspeita de uma junção de interesses de diversas partes.
O aplicativo que foi usado pelos integrantes da força-tarefa da Lava-Jato, Telegram, foi fundado em 2013 pelos irmãos russos Nikolai e Pavel Durov. Os dois podem ser peças-chave na elucidação do caso segundo a PF, que também desconfia da participação de Edward Snowden, ex-funcionário da NSA (Agência de Segurança Nacional, na sigla em ingês) exilado na Rússia.
Snowden, que fugiu dos EUA para não ser preso por espionagem após vazar detalhes do sistema de vigilância do país, contou com o jornalista Glenn Greenwald em 2013 para divulgar as informações sigilosas da NSA, assim como da CIA. Há pouco tempo, ele se tornou próximo dos fundadores do Telegram.
Greenwald, atual companheiro do deputado federal David Miranda (PSOL-RJ) – que tomou posse como suplente após a renúncia de Jean Wyllys (PSOL) -, é o fundador do portal The Intercept BR, e se mudou para o Brasil por causa das repercussões do vazamento das informações sigilosas da NSA feitas por Snowden, que ele ajudou a divulgar.
De acordo com informações da revista IstoÉ, Snowden e Greenwald nunca perderam contato. Hoje, o primeiro é presidente da Freedom of the Press Foundation (“Fundação Liberdade de Imprensa, em tradução livre), da qual o segundo é cofundador.
Islamismo x Israel
O trabalho dos hackers na invasão dos celulares de procuradores e do ex-juiz Sérgio Moro pode ter sido facilitado pelos irmãos Durov, proprietários do Telegram, segundo uma linha de investigação da PF.
A motivação dos bilionários russos, que seguem o islamismo e vivem em Dubai, nos Emirádos Árabes, seria o interesse em desestabilizar o governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL), admirador de Israel e descrito pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu como um “amigo”.
“Agentes da PF colheram informações que os levam a crer que os Durov, atualmente abrigados em Dubai, podem ter agido com motivações puramente ideológicas. Adeptos do islã, eles teriam ficado enfurecidos com a proverbial predileção do presidente Jair Bolsonaro por Israel em detrimento aos árabes […] Desmoralizar o juiz e a Lava Jato significaria enfraquecer o bolsonarismo e trazer a esquerda lulista de volta ao jogo”, resumiu a revista IstoÉ.
O delegado Maurício Valeixo, diretor-geral da PF, é o responsável pela operação destinada a encontrar os hackers responsáveis pela violação das conversas dos procuradores da Operação Lava-Jato. A equipe de investigadores já sabe que o acesso ilegal ao aplicativo Telegram dos procuradores não foi realizado por amadores.
“Não foi uma ação de um adolescente por trás de um computador. Tratou-se de um trabalho feito por uma organização criminosa altamente especializada”, comentou Sérgio Moro em depoimento que prestou no Senado na quarta-feira, 19 de junho.
Bolsonaro
Glenn Greenwald, que é financiado pelo bilionário Pierre Omidyar, fundador do eBay e um feroz entusiasta das ideologias de esquerda, já havia dado indícios de que buscava uma forma de “derrubar” o presidente Jair Bolsonaro.
Afeito à tática de “vazamentos” – vide caso Snowden/NSA – Greenwald (que alavancou sua carreira jornalística e foi premiado com as reportagens deste caso para o jornal inglês The Guardian) escreveu no Twitter em 30 de julho de 2018, às vésperas da campanha eleitoral que era preciso combater o então presidenciável.
“Os jornalistas ainda não têm uma estratégia eficaz para bater Bolsonaro, e a entrevista #RodaViva acabou de provar isso. É preciso desenvolver uma rapidamente”, publicou Greenwald, expondo sua inclinação ideológica atual, já que nem sempre esses interesses foram assim.
Os jornalistas ainda não têm uma estratégia eficaz para bater Bolsonaro, e a entrevista #RodaViva acabou de provar isso. É preciso desenvolver uma rapidamente.
— Glenn Greenwald (@ggreenwald) 31 de julho de 2018
“Podemos nos dar ao luxo de fazer uma coisa diferente porque temos por trás um tipo de apoio com recursos infinitos”. Segundo a Veja, essa afirmação foi feita por Greenwald à revista New York em uma reportagem sobre Omidyar, seu financiador, explicando como consegue custear a produção de matérias ditas investigativas, que podem ter ligação com a ação dos hackers.
Antes da carreira como jornalista, Glenn Greenwald atuou como advogado nos EUA, e ficou conhecido por defender por cinco anos, gratuitamente, um líder neonazista chamado Matthew “Matt” Hale, que prega a supremacia branca no mundo.
Greenwald largou a carreira no Direito após seu cliente ser condenado a 40 anos de prisão por envolvimento em um assassinato de uma juíza, e iniciou sua carreira como “jornalista”, em um blog. Posteriormente, ele passou a atuar na edição norte-americana do The Intercept.
Enquanto isso, a PF trabalha silenciosamente para elucidar o crime que serviu de catapulta para a audiência do The Intercept BR. Fontes ligadas ao diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, garantem que a análise de documentos apreendidos numa operação contra a atuação de hackers em Santa Catarina será decisiva para apontar a existência de uma a conexão Brasil-Rússia-Dubai na invasão dos celulares das autoridades brasileiras.
“O elucidamento (sic) do caso parece estar próximo. Quem acompanha as investigações assegura: se os indícios encontrados até agora se confirmarem, a PF estará bem perto mudar o rumo do rumoroso episódio que monopolizou as atenções dos brasileiros nas últimas semanas”, encerra a IstoÉ.