O ator global Carlos Vereza, filósofo, concedeu uma polêmica entrevista em que ataca frontalmente todo o discurso da esquerda e defende as ações econômicas do governo Michel Temer (MDB), além de denunciar a tentativa de ditadura cultural que atualmente acontece no país.
Nos anos 1960, quando o país sofreu intervenção militar, Vereza era membro do Partido Comunista, e conforme se aprofundou nas propostas e práticas dessa linha política/ideológica, se afastou do movimento e passou a ser um ácido crítico.
Em 2006, numa entrevista ao extinto Programa do Jô, da TV Globo, Vereza fez duras críticas ao PT e tudo que a esquerda estava silenciosamente impondo à sociedade brasileira. Agora, na entrevista ao portal do jornal O Povo, o ator destacou que o clima de animosidade que o Brasil atravessa é consequência da vocação autoritária do PT.
A entrevista começa abordando a peça Iscariotes: A Outra Face, um monólogo que Vereza apresenta no Cineteatro São Luiz, no Rio de Janeiro. O repórter questiona se há possibilidade de traçar uma analogia entre a história do discípulo de Jesus e o atual contexto político, mas o ator nega.
“Não. Sabe por quê? Porque o Judas não foi um traidor, ele errou estrategicamente, ele era um guerrilheiro, quando viu aquela multidão seguindo Jesus, ele imaginou que, se ele entregasse o mestre, o povo se levantaria com aquela lealdade e tiraria o mestre da prisão. Mas não foi isso, porque um povo, em geral é uma massa amorfa. Sem liderança, sem perspectiva, ele pode ser levado para qualquer lugar. Ele não era traidor e, nesse contexto atual do Brasil, são muitos os traidores. Traidores do destino do povo o partir de um discurso demagógico, populista. Não tem nada a ver com meu Judas”, comentou o ator.
Doutrinação cultural
Sobre a determinação inicial de extinção do Ministério da Cultura feita pelo presidente Michel Temer (MDB), Vereza observou que “há um excesso de ministérios, sempre houve um excesso, nessa política de coalizão que a gente é obrigado a coexistir”.
Para Vereza, antes de Michel Temer, “o Ministério da Cultura estava aparelhado”, e o atual presidente colocou um ministro que “é um técnico, ele não é ligado a nenhum tipo de corrente ideológica […] muito honesto”.
“Certas correntes alinhadas com essa ideologia [de esquerda] mandavam projetos para lá e nem precisava de análise, era aprovado imediatamente. Ao contrário de outros, que não estavam alinhados”, acrescentou.
Mantendo a linha de raciocínio, Carlos Vereza repudiou as críticas ao presidente: “‘Fora, Temer’ é de uma pobreza ideológica… eu não votei nele, por isso eu estou muito tranquilo de falar. O ‘fora, Temer’ é ausência de um discurso que seja uma alternativa”, introduziu.
“Eu estudo filosofia e trabalho muito com fatos… Isso é fato como essa cadeira é uma cadeira, você é um homem, ela é uma moça e está tirando fotos de mim (referindo-se à fotógrafa Tatiana Fortes). O Temer tirou o Brasil do abismo, ele está recuperando a economia do país, a inflação está lá embaixo, batendo recordes históricos. Isso é o cara que fez, não é o Vereza que está dizendo. São organismos nacionais e internacionais que comprovam isso”, contextualizou.
Radicalismo
A política econômica do presidente, segundo o ator, está obrigando a esquerda a arrumar assuntos que desviem o foco da população, pois todos os erros dos governos petistas ficaram expostos e as medidas corretas que foram tomadas começaram a dar resultado. A partir desse raciocínio, Vereza se arriscou a dizer que o assassinato da vereadora carioca Marielle Franco (PSOL) foi um ato estratégico.
“A Petrobras está se recuperando. De 14 milhões [de desempregados], ele conseguiu recuperar 1 milhão de vagas. Isso é o IBGE, a Fundação Getúlio Vargas, o [jornal] Valor Econômico que diz. ‘Fora, Temer’ é criança zangada que tiraram a chupeta. Qualquer coisa é ‘Fora, Temer’. Vai colocar quem? Rodrigo Maia? O Eunício Oliveira, que está aí com o maior escândalo em cima dele? Ao invés de ‘fora, Temer’, diga assim: eu proponho que a reforma agrária seja feita definitivamente, que o Movimento Sem Terra deixe de ser um grupo terrorista e passe a ser um movimento que lute realmente por terra. Eu não sou esquerda nem de direita, mas isso são fatos. Eles não tiveram terra esse tempo todo e não reclamaram com o PT, por quê? Porque é uma organização paramilitar, terrorista, estão aí fechando estrada, queimando pneu, estão lá em Curitiba fazendo necessidade na calçada das casas dos moradores, que não têm nada a ver. São fatos. Estão radicalizando a tal ponto como se quisessem fabricar mais um cadáver, além da Marielle… Marielle é um cadáver fabricado por eles”, disparou.
Na mesma linha de raciocínio, Carlos Vereza diz que a “ideologia radical sectária de esquerda” é capaz de ir às últimas consequências para manter o discurso: “Eu tenho certeza, não tenho a menor dúvida, porque está havendo no Rio de Janeiro uma investigação (sobre a morte de Marielle) que já chegou a um ponto que, se eles mudarem a narrativa, vai ser uma decepção para muita gente”.
“Por que a Marielle teve quarenta votos na Maré se ela era uma líder comunitária? Acho que a investigação tinha de começar pela Maré. Ela teve votos no Leblon, no Jardim Botânico e na Gávea, só a classe média de iPhone X. Essa menina, ou foi assassinada pela milícia ou foi assassinada por pessoas que aparentemente compactuam com a ideologia dela”, contextualizou, destacando que dos 1.688 votos recebidos pela vereadora assassinada, apenas uma pequena porção veio de sua comunidade de origem.
A disposição pela barbárie e desordem, segundo Vereza, vem da ausência de fé e temor em Deus das pessoas que mergulham nas ideologias que formam o pensamento político de esquerda.
“Eles não acreditam em Deus, eles acham que as pessoas todas não passam de massas de manobras adaptáveis ou não aos seus objetivos. O cara que acredita que a vida continua após a morte, se ele fizer uma besteira, ele sabe que tem a lei de causa e efeito, que, aliás, nem é nem religioso, é matemática. A lei de causa e efeito reordena o universo […] Deus é um matemático emocionado. A grande ciência é a matemática. Eles não acreditam nisso, eles acham que a gente é obra do acaso, que foi uma amebazinha que nasceu da lama e depois ela deu um pulinho pra terra. Aí virou mineral, animal, vegetal até virar ser humano. A gente sabe que há um plano construindo a nossa história, um plano divino. Eles não acreditam nisso”, lamentou.
Bolsonaro
Quando foi questionado sobre a postura do deputado federal Jair Bolsonaro (PSL-RJ), o ator destacou que a ascensão de um político conservador sem papas na língua é resultado da inconsequência da esquerda enquanto esteve no poder.
“Eu avalio matematicamente. É uma lei física, a cada ação, uma reação. Como a esquerda radicalizou demais, surge uma reação que é o Bolsonaro, que eu não considero nem de extrema direita, considero de direita. Extrema direita mesmo é o que está acontecendo na Alemanha, que voltou a ter um antissemitismo, alegando, com alguma razão, que os imigrantes estão deturpando os valores nacionais e culturais. Bolsonaro é um cara da direita, não tem saída, é dialética, se você radicaliza de um lado, do outro ele vai desaparecer. É na política, na vida”.
“Ao mesmo tempo a esquerda também prega matar as pessoas, a esquerda está lá. No primeiro dia que o Lula foi preso, eles quebraram os portões da Polícia Federal. A Polícia Federal teve de reagir com bala de borracha e gás, eles inventaram que foram agredidos primeiro. Você é a favor do que eles fizeram em Curitiba? É a favor de as pessoas não poderem sair de casa? Eles chegam com celular e obrigam os moradores a carregar o celular. Estão fazendo necessidade na calçada. Isso é uma observação neutra, imparcial. E os moradores que pagam impostos naquela rua de Curitiba?”, questionou.
O repórter de O Povo não teceu comentários sobre o ponto de vista do ator, e devolveu a pergunta questionando se, em caso de eleição de Bolsonaro, haveria a possibilidade de opositores serem presos. “Aí você está radicalizando, comparando o Bolsonaro a um nazista… Você está pressupondo que ele vá sequestrar as pessoas”, reagiu Vereza.
Insistente, o repórter tenta argumentar dizendo que Bolsonaro “prega censura à arte, pena de morte”. O ator, no entanto, não cedeu em seu ponto de vista: “A Gleisi Hoffmann e o Lindbergh Farias [senadores petistas] estão incitando a massa a invadir a Polícia federal e, obviamente, se invadir a Polícia Federal, vai ter gente morta. Qualquer extremo não dá certo”, pontuou.
Ideologia de gênero
A famigerada tese de identidade de gênero foi denunciada pelo ator em novembro do ano passado, quando uma escola obrigou alunos do sexo masculino usarem batom. O repórter abordou o tema dizendo que Vereza “supostamente” teria se envolvido na polêmica, e a resposta seguiu o mesmo tom de indignação expressado nos outros temas.
“Supostamente não. Foi o colégio Pinheiro Guimarães [no Rio de Janeiro]. Eu afirmei. O colégio disse que se o aluno vier de saia e de batom, ele vai ter a nota aumentada. Eu reafirmei e estou esperando o processo até agora. Cadê o processo? Eu, que não votei no Temer, fui ao Temer pedir para ele tirar a ideologia de gênero do Plano Nacional de Educação e ele tirou. É um absurdo você dizer que sexo é uma construção cultural”, disparou.
“Você começa a atacar biologia, começa a atacar os códigos genéticos, que é XX e XY, agora estão inventando T, W, Z, A, E, I, O, U. Ou você é homem ou é mulher. As pessoas têm suas opções sexuais respeitáveis, daí a você dizer que nasceu homem porque isso é uma construção cultural, isso é de um ridículo. Isso é um plano, cara, um plano sofisticadíssimo, porque quando você traumatiza uma criança, você vai ter lá frente um adulto manipulado politicamente. Até sete anos a criança é mais espírito do que matéria, ela não pode ser traumatizada”, enfatizou.
A postura de Carlos Vereza sobre o assunto é semelhante à adotada por lideranças cristãs ao longo dos últimos anos, embora o ator não tenha associação pública religiosa. Nomes como o padre Paulo Ricardo, os pastores Silas Malafaia e Marco Feliciano (Podemos-SP), o senador Magno Malta (PR-ES) e a psicóloga Marisa Lobo denunciam a manipulação e, constantemente, são tratados por defensores da ideologia de gênero como fundamentalistas.
Após a crítica à ideologia de gênero, o repórter questionou como ficam os “casos de pessoas adultas que não se identificam com o gênero que nasceu”. Carlos Vereza, novamente, se posiciona de forma enfática.
“Sabe qual é a estatística de trans? Um em 100 mil. Agora, todo mundo é trans, só que eles não estão divulgando as pessoas que estão arrependidas, que estão querendo recuperar e não conseguem, porque não tem mais jeito. Não tem como recuperar”, lamentou.
“Todo mundo é trans, isso é uma novidade. Na minha época, você tinha um trans a cada 15 anos, agora a cada dia da semana todo mundo virou trans e vai para o Paraguai operar, aí depois se arrepende porque o DNA não muda, o DNA do trans é do gênero que ele nasceu. Eu sei que eu não estou te agradando, você é petista, porque eu sou médium e eu estou vendo no teu perispírito que você é petista”, acrescentou, referindo-se ao repórter.
Segundo Carlos Vereza, o radicalismo da esquerda se volta, inclusive, contra os próprios homossexuais: “Eu era amigo do Clodovil e ele não tinha essa palhaçada. Há inclusive uma suspeita de que ele tenha sido assassinado, a cama dele era baixa, como ele fraturou a cabeça caindo da cama, cara? Eu conheci a Rogéria, ela cantava em cinco idiomas, era uma puta de uma cantora, uma puta de uma atriz, mas não faziam essa palhaçada, esse lobby. Eu amo o homossexual e odeio o lobby gay. Eu amo o pecador e odeio o pecado”, salientou.
Por fim, Carlos Vereza diz que sofre com o desprezo dos colegas de profissão por ter uma opinião contrária à da classe artística: “Há 12 anos eu avisei o que seria o PT e as portas de trabalho se fecharam para mim. Eu fui ao Jô Soares e disse e cantei tudo o que ia acontecer com o PT […] 90% dos autores e diretores da Globo são petistas. Agora, eles não me mandam embora, porque provavelmente deve ter algum tipo de respeito por mim. Exatamente porque eu vou ao contrário dos meus colegas e boto minha cara a tapa. Eu sou formado em Filosofia. Isso aqui para mim é uma cadeira e não um helicóptero. Eles falam que é um helicóptero”, esbravejou.