As igrejas inclusivas, que se dedicam a congregar homossexuais sem pregar contra a prática, vêm crescendo ano após ano no Brasil. Uma amostra disso é uma comunidade no Facebook que reúne 4 mil membros.
A ideia do grupo virtual chamado Namoro Evangélico LGBT é proteger gays e lésbicas contra “mundo lá fora”. Um dos participantes, Douglas dos Santos, 18 anos, se apresenta como um gay evangélico pentecostal.
“Já falaram que eu ia à igreja só por interesse pelo pastor e pelos irmãos”, afirmou Douglas, em entrevista à jornalista Anna Virginia Balloussier, do jornal Folha de S. Paulo.
O jovem frequentador da Assembleia de Deus por muito tempo ouviu que precisava ser liberto, e para isso fazia jejum até de chocolate: “Diziam que se eu jejuasse seria liberto, que [ser gay] era coisa da carne”, contou.
Ao contrário da maioria dos homossexuais assumidos, ele não se sentiu bem em uma igreja inclusiva: “Não tinha o fervor que eu precisava”, afirmou Douglas, que voltou a frequentar os cultos de uma igreja pentecostal.
Já para Simone da Silva, 43 anos, e Márcia Inocêncio, 55 anos, aconteceu justamente o contrário. Como sentiam-se reprimidas em igrejas tradicionais, buscaram um lugar em que se ajustassem e passaram a frequentar a Igreja Cristã Contemporânea (ICC), do casal de pastores gays Marcos Gladstone, 39 anos, e Fábio Inácio, 35 anos (foto).
Simone, mãe de três filhos, sentia-se “ferida por tantas agressões” sofridas em relacionamentos heterossexuais, até que passou a namorar mulheres. Conheceu Márcia, que era frequentadora de uma igreja tradicional, e ouviu do pastor que “tinha que ser Adão e Eva, não Eva e Eva”.
“Fiquei murcha por dentro. Não é possível que Jesus não ame a gente”, afirmou Simone. Márcia, que se esforçava para não externar sua orientação, disse que não se sentia bem na igreja: “Era dificultoso disfarçar [sua orientação sexual]. Procurava sempre fazer escova no cabelo. Camiseta, jamais”, contou.
A frustração das duas as levaram a encontrar a igreja inclusiva de Gladstone e Inácio, que atualmente tem nove templos, espalhados por São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, e três mil membros.
A pregação de ambos é que a Bíblia deve ser interpretada conforme a época que está sendo lida, e argumenta que a passagem de Levítico que considera a homossexualidade como “abominação” como algo que ficou no passado: “A mesma passagem diz que você não pode comer carne de porco, tocar na mulher durante seu ciclo e fazer a barba”, observou Gladstone.
Nos cultos da ICC, mulheres tocam vestidas de terno e gravata, e homens usam camisas brilhantes enquanto dançam com guarda-chuvas coloridos, como num espetáculo de frevo. As celebrações atraem os homossexuais e suas mães e amigos.
Em breve, o casal de pastores gays vai lançar uma versão da Bíblia, comentada, chamada “Graça sobre Graça”, com explicações sobre a homossexualidade, o racismo e o preconceito contra mulheres.