Circula nas redes sociais e aplicativos de mensagens um meme que diz que “crente não pode assistir a Copa porque ela é do mundo”. A brincadeira, no entanto, é levada a sério por alguns pastores, que consideram que o gosto pelo futebol seja prejudicial à fé cristã.
Em meio à empolgação pelo evento que reúne os principais jogadores das 32 melhores seleções de futebol do mundo, a velha discussão sobre a liberdade do cristão para torcer por um time ou acompanhar jogos de futebol, seja no estádio ou pela TV, voltou à tona nas redes sociais.
Um dos que se opõem é o pastor Maurício Cerqueira, que considera o futebol é satânico e uma arma maligna para conduzir as pessoas à perdição: “Deus abomina o futebol e seus adoradores… fãs… torcedores… fanatismo… todos no caminho do inferno”, opina o pastor, em 2013, em um artigo escrito para seu blog.
A argumentação de Cerqueira é montada, basicamente em versículos do Antigo Testamento em que Deus reprova o homem que vive para paixões terrenas, como Jeremias 17:9,10, Deuteronômio 32:39 e Amós 3:6,7.
No artigo, o pastor associa o esporte a sociedades fechadas, como maçonaria e “illuminatis”, apontando o futebol como uma manipulação desses grupos que levaria as pessoas à idolatria. “Quantos ‘pastores’ amantes do futebol… Quantos que se diziam crentes e já ardem no inferno sem ter mais como se arrepender… Jogador, ídolo do mundo… Adorado, idolatrado e ao mesmo tempo odiado por rivais, feiticeiros de mente e bruxos que são a totalidade dos torcedores e fanáticos”, afirma.
No mesmo espectro, um texto publicado pela Igreja da Fé Apostólica, de Cubatão, litoral paulista, aponta o futebol como um incitador da violência, e que por isso, deve ser ignorado pelo cristão.
“A santidade cristã faz do homem um ‘filho de paz’”, diz o texto. “Desde seus primórdios a violência está engatada ao futebol. Não são somente fatos recentes que comprovam isso, mas as modalidades que deram origem ao atual futebol já procediam violentamente”, contextualiza.
Segundo a denominação, ” à luz da Bíblia, não há harmonia, em hipótese alguma, entre a fé cristã e o futebol”. A compreensão que a igreja adota sobre o esporte é de completa depravação: “Todas as violências, brigas, desavenças, contendas, xingações, mortes, etc., presentes nos jogos de futebol, são contrárias à vontade de Jesus”, acrescenta.
Entretenimento
Há, no entanto, outros pontos de vista – opostos – sobre o assunto. Há casos diversos de pastores que externam suas preferências clubísticas, assim como atletas que se dedicam, no tempo livre, ao aprendizado da Bíblia. Um dos casos mais icônicos é o do atacante Ricardo Oliveira, do Atlético-MG, que se tornou pastor e desempenha a função paralelamente aos jogos.
O pastor Antônio Júnior publicou um artigo afirmando que a Bíblia não condena a diversão, embora faça ponderações sobre a idolatria e a ira. Na visão do pastor, o cristão que compreende esse contexto e aprende a separar a diversão do fanatismo, não comete nenhum erro.
“O futebol é um jogo muito divertido, faz bem para a saúde e nos ensina a trabalhar em equipe. E a Bíblia não condena a diversão, por isso nós podemos jogar bola e até mesmo assistir a uma partida de futebol na televisão ou no estádio, desde que isso não atrapalhe a nossa comunhão com Deus”, escreve.
Seguindo a linha de raciocínio, o pastor pontua que a prática do esporte pode levar o cristão a conhecer seus limites e se dedicar a controlar o ímpeto, já que durante a disputa, é muito fácil perder as estribeiras: “Dentro do campo de futebol, muitos cristãos revelam quem realmente eles são e começam a xingar, brigar e até machucam seus companheiros porque não conseguem controlar a raiva. Outros são tão fanáticos ao torcer pelo time que acabam humilhando as pessoas ao fazer piadas de mau gosto. Ao invés de darem um bom testemunho para seus amigos que não são crentes, acabam afastando-os de querer conhecer a Deus, porque não vivem o que pregam”, exemplifica Antônio Júnior.
A mesma perspectiva é apontada em outro ponto: “Conheço também pessoas que sofrem muito quando seu time perde, e quando ganha, ficam muito eufóricas. Elas são tão apaixonadas por futebol que ele domina a sua mente, seus sentimentos e a sua vontade. Porém, o apóstolo Paulo disse que existem certas coisas que não são pecaminosas em si mesmas, mas que podem nos dominar, e por isso devemos ficar longe delas, pois se tornam um embaraço em nossas vidas”, contextualiza o pastor.
Ao final, o conselho de Antônio Júnior é resumido em equilíbrio: “Nós estamos em ano de Copa do Mundo e é muito gostoso torcer pela Seleção. Basta agirmos da maneira correta e Deus se agradará de nós. Se você discorda de tudo o que eu falei, tome cuidado para não ser uma pessoa radical, legalista, que proíbe tudo (Leia Colossenses 2:20-23). Nós temos o direito de nos divertir e Deus gosta de nos ver felizes, desde que o futebol não atrapalhe a nossa comunhão com Ele”.