O pastor Milton Ribeiro, nomeado pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) para a Comissão de Ética Pública da Presidência, falou sobre a oportunidade de servir ao país e também sobre o preconceito contra evangélicos que permeia os veículos de imprensa.
“Estou me sentindo muito honrado, mas o mais importante para mim é que em tudo o nome de Deus seja engrandecido através do meu testemunho, do meu trabalho e da minha vida. É isso que acredito”, afirmou Ribeiro, que é mestre em Direito Constitucional pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e doutor em Educação pela Universidade de São Paulo (USP), dentre outras qualificações.
Na entrevista concedida ao portal Guia-me, Ribeiro explicou que sua função é estritamente técnica: “Sou o primeiro indicado do Governo Bolsonaro. Outros membros da equipe são inclusive ex-ministros do [ex-presidente Michel] Temer, tinha até pouco tempo um ex-ministro da presidente Dilma [Rousseff}. É um grupo de pessoas notáveis em conhecimento técnico, todos com formação em Direito, como a minha”.
Em sua atuação na Comissão de Ética Pública da Presidência, o pastor se deparou com situações diversas e deu a entender que o trabalho do atual governo para que as coisas sejam colocadas em ordem será grande. “Deus abriu essa porta e, usando aquilo que Ele me deu, eu tenho procurado então, analisar os assuntos que chegam. Os assuntos são de caráter sigiloso […] mas conforme eu fui tomando pé dos temas e dos assuntos, a gente vai se humilhando mais diante de Deus e pedindo a restauração para o nosso país e procurando dar a nossa contribuição”, afirmou.
Sobre a matéria publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, que sugeriu sua nomeação como um gesto de preferência por evangélicos no governo Bolsonaro, o pastor afirmou que se “entristeceu”, já que, segundo ele, nunca pleiteou cargos na administração, mesmo possuindo as qualificações necessárias.
“Houve […] uma tentativa de vincular o meu nome e a minha presença nessa comissão ‘apenas como um pastor evangélico’ e, em nenhum momento considerando a minha qualificação técnica. Isso me entristeceu, não pelo fato de não citar [a competência], mas sim pela repercussão da notícia, os comentários dos leitores. Via de regra, a ideia do público em geral é de que o pastor é um ser ‘despreparado’, que gosta de usar as pessoas, de oprimir as pessoas, de tirar o que elas têm”, comentou Ribeiro.
“Eu estou nessa comissão, não porque eu sou pastor, ali não é uma capelania, ali é um ambiente técnico. Então, eu estou lá, mesmo sendo pastor. […] Eu estou muito tranquilo, não me envergonho do Evangelho e mais ainda, eu também não quero nunca envergonhar o Evangelho”, declarou.
Confira a íntegra da entrevista:
Como o governo Bolsonaro chegou ao seu nome para a nomeação a esse cargo e como o senhor avaliou esta proposta de integrar a Comissão de Ética da Presidência?
Quando eu era pastor em Pederneiras (SP), um dos gerentes do banco tinha os filhos adolescentes e eu era solteiro. Nós estávamos juntos, lá na igreja, e um desses jovens cresceu, estudou e se tornou recentemente ministro do governo Bolsonaro. Ele foi um dos contatos. Me pediu meu currículo, eu entreguei, mas nem pensei que diante de tantos nomes seria chamado para compor essa comissão tão importante da Presidência da República. Então, foi assim que o meu nome chegou ao Governo. Eu fui convidado para a posse presidencial através desse ministro, o meu contato com o presidente foi de longe. Mas creio que esta foi uma oportunidade que Deus abriu as portas para eu poder contribuir de alguma maneira com a minha pátria, com o Brasil.
Eu não imaginava o tamanho da proposta da Comissão de Ética. Na verdade é uma Comissão importantíssima, que tem como finalidade preliminar e ainda, administrativa, analisar possíveis desvios de conduta ética por parte da alta administração do governo, desde os ministros até o alto escalão que compoe cada ministério. Então, eu estou me sentindo muito honrado, mas o mais importante para mim é que em tudo o nome de Deus seja engrandecido através do meu testemunho, do meu trabalho e da minha vida. É isso que acredito.
Agora o senhor é um dos responsáveis por investigar ministros e servidores do governo federal, junto aos outros seis integrantes do colegiado. Como espera lidar com uma função de tal relevância e com esse trabalho em equipe?
Eu sou o primeiro indicado do Governo Bolsonaro. Outros membros da equipe são inclusive ex-ministros do Temer, tinha até pouco tempo um ex-ministro da presidente Dilma. É um grupo de pessoas notáveis em conhecimento técnico, todos com formação em Direito, como a minha. O trabalho está indo muito bem. Eu estou chegando e por enquanto nós não tivemos nenhuma dificuldade.
A gente analisa esses pedidos, não só de denúncias contra o alto escalão, mas também quando um ministro ou um componente do alto escalão deixa o trabalho do governo, existe um período no qual ele tem de ficar de quarentena. Ele não pode sair do Estado e imediatamente ir para a iniciativa privada, porque isso poderia trazer um conflito de interesses e nós também julgamos esse tipo e eles se submetem à apreciação dessa comissão, se eles poderiam trabalhar para a empresa A, B ou C e nós damos, então a nossa palavra, diante da regra de funcionalismo público que ele assinou e assumiu que iria cumprir. Esse é um trabalho que também é bem grande e nós estamos envolvidos neste tipo de trabalho.
O senhor entra em uma comissão citada como um grupo mais “enxuto”. Isto lhe soa como algo positivo (pela agilidade) ou negativo (pela sobrecarga)?
Na verdade, essa comissão sempre foi composta por 7 pessoas e, como eu disse, são advogados, mas são mais experientes em termos de vida política e pública do que eu. Apesar disso, Deus abriu essa porta e, usando aquilo que Ele me deu, eu tenho procurado então, analisar os assuntos que chegam. Os assuntos são de caráter sigiloso. Eu jamais poderia declinar nomes ou situações, mas conforme eu fui tomando pé dos temas e dos assuntos, a gente vai se humilhando mais diante de Deus e pedindo a restauração para o nosso país e procurando dar a nossa contribuição. Eu nunca pedi para estar nessa posição, nunca pleiteei isso e agora, simplesmente eu faço parte dela e estou acesso a assuntos que eu nem imaginava que existiam também. Eu estou bem tranquilo, porque a Bíblia diz que quando a gente anda por caminhos, por vales de sombra e de morte, o Senhor estará conosco. É Nele que eu confio e somente Nele.
O senhor é pastor da Igreja Presbiteriana de Santos e obviamente foi nomeado para esta comissão, não pelo título eclesiástico e sim pela competência jurídica. Porém, acredita que sua fé cristã possa guiar de alguma forma suas decisões?
Algumas vezes me questionei pelo fato de Deus ter aberto algumas portas. No início do meu ministério eu fui pastor de uma igreja muito pequena, perto de uma grande faculdade de Direito, em Bauru. Eu era solteiro, tinha mais tempo e aproveitei a companhia do meu irmão, que morava comigo e fui fazer um curso de Direito. Então, Deus me abriu essa porta, me formei em Direito, mas não sabia nem para quê e por que, sendo pastor, fazer um curso de Direito. Depois Deus me trouxe ao Mackenzie, onde eu fiz um mestrado, depois Deus me levou para a USP, onde eu fiz um doutorado, depois Deus me levou para Brasília, onde fiz um curso junto a um grupo de reitores do Brasil, Deus abriu a porta e eu fui nomeado vice-reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, onde fiquei dois anos e meio, fora seis anos que que eu fiquei no board da Universidade, que foi uma experiência muito grande. Então, de alguma maneira, Deus foi me preparando e agora eu posso entender porque eu fui parar em um lugar como esse. Eu creio que os caminhos de Deus são justos e perfeitos. e ele foi me levando por esse caminho.
Houve, recentemente, na última matéria que saiu do Estadão (Agência Estado), uma tentativa de vincular o meu nome e a minha presença nessa comissão “apenas como um pastor evangélico” e, em nenhum momento considerando a minha qualificação técnica. Isso me entristeceu, não pelo fato de não citar [a minha competência técnica], mas sim pela repercussão da notícia, os comentários dos leitores. Via de regra, a ideia do público em geral é de que o pastor é um ser “despreparado”, que gosta de usar as pessoas, de oprimir as pessoas, de tirar o que elas têm. Essa é a ideia geral, infelizmente que parte da sociedade tem sobre o pastor. Isso me entristeceu bastante, quando li os comentários, mas Deus levantou dois nomes. Um deles é a ANAJURE (Associação Nacional dos Juristas Evangélicos), que entrou rapidamente em minha defesa, citando os meus títulos, a minha experiência administrativa e acadêmica. Outro foi um juiz federal do Nordeste, o William Douglas, que embora eu não o conheça pessoalmente, também escreveu um artigo muito interessante, mostrando três casos [de matérias] que envolvem três evangélicos: o Bretas, eu e mais um deputado que é pastor da Assembleia de Deus, no qual somente se fala que é pastor, mas não se declina nada sobre a condição técnica dele.
Eu estou nessa comissão, não porque eu sou pastor, ali não é uma capelania, ali é um ambiente técnico. Então, eu estou lá, mesmo sendo pastor. O interessante é que em nenhum momento, a gente vê, diante de uma nomeação ou indicação a um cargo do executivo, um título, uma manchete como foi a minha “Bolsonaro nomeia pastor para Comissão…”. Eles não fazem em outro momento um título do tipo “Bolsonaro nomeia líder espírita para ser membro de comissão…” ou “Bolsonaro nomeia líder católico…”. A religião é algo subjetivo da pessoa, é uma opção. Não é isso que me qualifica. Então, houve um primeiro momento em que tentaram me desqualificar, mas eu encerro dizendo o seguinte: ser pastor, para mim, é o primeiro e mais qualitativo título. Eu não sou ministro do Supremo do Brasil, eu sou ministro do Supremo Deus e é isso que me alegra. Eu estou muito tranquilo, não me envergonho do Evangelho e mais ainda, eu também não quero nunca envergonhar o Evangelho.