O contexto social e político na América do Sul, com a aprovação em primeiro estágio da descriminalização do aborto na Argentina, vem mobilizando a sociedade em um debate acalorado. Nesse contexto, o depoimento da modelo paraguaia Adela Alonso, que admitiu ter praticado um aborto no passado, traz um quesito essencial ao debate: as consequências.
Adela concedeu uma entrevista a um programa de televisão relatando sua experiência com o aborto, quando era uma modelo em começo de carreira. E suas palavras são marcantes: “Eu abortei. Escutei o ruído que fez quando o trituravam. Não consigo lidar com isso. Não consigo esquecer. Me sinto uma assassina”.
De acordo com informações do portal Sempre Família, o depoimento de Adela Alonso foi dado ao reality show Mundos Opuestos, da emissora Red Paraguaya de Comunicación. Seu caso veio à tona em agosto do ano passado, e desde então, tem sido apresentado como um exemplo do trauma que o aborto gera às mães.
“Abortei em um dia 17 de abril, dois dias depois do meu aniversário”, lembrou ela, às lágrimas, contextualizando o caso em meio a seu relato de história de vida. “Foi a coisa mais difícil da minha vida. Mesmo que tenha me confessado, me custa perdoar a mim mesma. Não estou tranquila comigo mesma”, acrescentou a modelo de 22 anos.
“Perdão, Fausto, ou perdão, Adela”, disse ainda a modelo, olhando para o alto, relembrando os nomes que havia escolhido. “Porque se o bebê fosse menino, seria Fausto, e se fosse menina, Adela”.
A questão psicológica já foi tema de artigos e entrevistas da psicóloga Marisa Lobo, que dimensionou o tamanho do impacto nas mães: “A situação é tão séria que algumas chegam a ouvir vozes do bebê por muitos anos, têm dificuldade de engravidar e, muitas vezes, sem problema aparente, sofrem com gravidez psicológica, problemas em sua sexualidade, medo de abortar espontaneamente”, disse.
“Já tive pacientes que somatizaram tanto o aborto que sofreram ao aborto espontâneo e atribuíram ao emocional o medo de ter um filho e abortar quando este estivesse formado. Enfim, a mulher sofre com aborto de alguma forma. Pode ser um alívio no momento da crise, mas o seu inconsciente cobra de alguma forma. Não é somente a questão social. Ela mesma que se cobra”, alertou, em entrevista concedida ao portal Guia-me.