A decisão do Supremo Tribunal Federal em reiterar a Constituição e manter o Ensino Religioso confessional nas escolas públicas poderá levar a um favorecimento da Igreja Católica, afirmou um professor especialista no assunto.
Embora a lei que trata do Ensino Religioso proíba o proselitismo – a tentativa de converter alguém a uma religião – dentro das salas de aula, o coordenador-geral do Fórum Nacional Permanente de Ensino Religioso (Fonaper), Elcio Cecchetti, acredita que a proporção de professores católicos será maior do que de evangélicos e de religiões afro-brasileiras.
Nesse cenário, mesmo com as aulas sendo facultativas, Cecchetti acredita que a Igreja Católica poderá ser beneficiada, por contar com uma estrutura de catequistas, editoras e meios de comunicação capaz de atuar em todo o país.
“As outras instituições saem em desvantagem. Fico imaginando uma instituição como a umbanda, que não tem editoria, não tem TV, não tem estrutura, como vai formar professores para dar aula nas escolas? Como as culturas indígenas vão preparar professores? Estamos selando uma desigualdade de partida”, disse ao G1.
“A escola é o lugar onde se pode estudar as coisas de maneira científica, e esse conhecimento ilumina as práticas, ilumina as concepções das pessoas, e isso pode sempre fomentar atitudes pelo menos de reflexão, de argumentação. Ele pode não concordar com a crença do outro, mas deve respeitá-la. Então, saber lidar com o pensamento divergente. E isso nós perdemos, nesse momento”, afirmou.
Cecchetti demonstra, entretanto, desconsiderar o fato de que não houve mudanças na lei, e sim, uma reafirmação da parte do STF da única interpretação possível da Constituição Federal de 1988 no que tange ao tema do Ensino Religioso. O texto da Carta Magna propõe uma abordagem que reflita a cultura predominante junto à população, o que foi destacado por ministros durante o julgamento do tema.