Enquanto a Copa do Mundo acontece, a repressão antimissionária na Rússia está aumentando e alvejando principalmente os cristãos protestantes. Esse alerta partiu de um grupo de direitos humanos que trouxe luz ao caso de dois estudantes africanos que serão deportados por terem sido filmados em um culto na cidade de Nizhny Novgorod.
O Serviço Federal de Segurança da Federação Russa multou a igreja Jesus Embassy (“embaixada de Jesus”) à qual os estudantes pertenciam. Os alunos foram informados de que deveriam deixar o país até o final do mês, informou o Forum 18, um grupo norueguês que promove a liberdade religiosa.
O advogado da União Pentecostal, Vladimir Ozolin, disse que as acusações de atividades missionárias ilegais, aparentemente por vídeos de cultos em que os estudantes compareceram, são “completamente ilegais”, no entanto.
“Eu gostaria de ter esperança de que os casos tenham sido iniciados por um excesso dos siloviki (termo usado para se referir aos ex-agentes dos serviços secretos da União Soviética e que é aplicado ainda hoje para policiais “valentões”), disse o advogado Ozolin. “Caso contrário isso enfraquece muito a autoridade da Rússia na arena internacional”, acrescentou.
O Forum 18 detalhou que vários outros protestantes em Nizhny Novgorod se tornaram alvo desde a adoção da lei “anti-missionária” em julho de 2016, que o governo russo alega ter como objetivo combater as atividades terroristas. A lei proibiu as pessoas de compartilhar sua fé em qualquer lugar que não seja uma casa de culto sancionada pelo governo e levou à prisão de alguns líderes cristãos.
Ozolin disse que, de acordo com documentos judiciais, 50 regiões na Rússia relataram a violação das leis anti-missionárias em 2017, com Nizhny Novgorod representando oito investigações separadas.
O advogado Aleksey Vetoshkin, que esteve envolvido em vários casos recentes, disse ao Forum18 que o Serviço Federal de Segurança tem um interesse particular na igreja Jesus Embassy e nos protestantes em geral: “Depois dessa pressão, o número de membros africanos caiu de 150 para 20”, disse Vetoshkin em maio.
Outros advogados, como Vasily Nichik, observaram que é difícil entender como as autoridades interpretam a lei anti-missionária, embora estrangeiros em várias regiões tenham sido deportados por se engajar em atividades religiosas. “Eu entendo que por trás de toda a perseguição aos protestantes está alguém da liderança das agências de segurança. Quem [seria essa pessoa], é difícil de responder sem ambiguidades”, disse Nichik, na semana passada, de acordo com informações do portal The Christian Post.
“Se uma pessoa altamente intolerante entra na estrutura de poder, então ele vê inimigos em todos e começa a construir esquemas para restringir as liberdades e perseguir as pessoas por discordância. Tal tipo provavelmente acabou na liderança das agências de segurança no Nizhny, região de Novgorod”, acrescentou.
Nizhny Novgorod (foto) é uma das cidades-sede da Copa do Mundo de 2018 na Rússia. O evento, como em outros países, representou oportunidade para campanhas evangelísticas, apesar do que os líderes religiosos dizem ser uma ofensiva contra o evangelismo.