A teologia da prosperidade corrompe o ensino bíblico e deteriora o cristianismo, resultando numa religião que foca no bem estar pessoal ao invés da transformação individual a partir do arrependimento oferecida pelo Evangelho. Essa conclusão foi tirada de um novo estudo sobre os impactos da mensagem que vem se popularizando ano após ano no meio cristão.
O estudo, conduzido pela Universidade de Toronto, foi publicado em novembro pela revista Psychology of Religion and Spirituality, com alertas sobre “um dos movimentos religiosos de maior crescimento” no mundo.
O pesquisador Nicholas M. Hobson, do Departamento de Psicologia da Universidade de Toronto, um dos responsáveis pelo estudo, afirmou que essa linha teológica, também chamada de “confissão positiva cristã”, é uma mutação do conceito presente no Evangelho.
“A doutrina central do evangelho ensinado por eles é que Deus deseja que os fiéis sejam prósperos financeiramente. As bênçãos materiais, portanto, fazem parte da vontade de Deus. Só que para se beneficiar dessas bênçãos, a pessoa deve (a) adotar um pensamento ou discurso sempre positivo e (b) doar uma certa quantia de dinheiro para a igreja ou ministério”, resumiu o pesquisador.
Segundo Hobson, essa doutrina tem origem recente em termos históricos: “O evangelho da prosperidade surgiu na década de 1950. A explosão desses movimentos evangélicos da prosperidade resultou da popularização dos televangelistas. Os mais influentes hoje são Joel Osteen, Creflo Dollar e T.D. Jakes”. Esses líderes neopentecotais alcançam milhões de pessoas ao redor do mundo com vídeos de suas pregações, livros traduzidos e programas de TV.
“Usando termos como ‘semente de fé’, a maioria dos seguidores do evangelho da prosperidade acredita que fazer doações regulares para sua igreja os ajudará a colher uma safra abundante em algum momento no futuro”, constatou o pesquisador.
Metodologia
De acordo com informações do portal The Christian Post, os responsáveis pelo estudo reuniram ateus e teólogos para ouvirem um sermão típico da teologia de prosperidade, e depois fizeram medições de seus sentimentos.
“Ao verificar o efeito positivo, descobrimos que o evangelho da prosperidade oferece um impulso de positividade, gerando uma sensação de bem-estar, mesmo entre o grupo de ateus. Isso comprovaria a ideia de que o impacto da mensagem tem mais a ver com o bem-estar do ouvinte que com suas crenças pessoais”, concluíram os pesquisadores.
“O sucesso crescente do evangelho da prosperidade como um sistema de crenças religiosas pode ser atribuído às suas experiências positivas e excitantes – não aos seus ensinamentos teológicos”, frisaram os pesquisadores, indicando que para o movimento, as palavras da Bíblia Sagrada se tornam apenas um meio para o fim pretendido. “As mensagens religiosas sobre prosperidade aumentam o viés otimista e estimulam comportamentos financeiros arriscados. […] Ironicamente, seu sucesso como movimento religioso crescente tem menos a ver com ‘sentir Deus’, e mais com ‘sentir-se bem’”, concluíram.