Os diversos casos recentes de suicídio entre evangélicos, em especial envolvendo pastores, despertou o interesse de grande parte dos cristãos sobre a depressão, doença que tem sido descrita como o “mal do século”. O psiquiatra e escritor cristão Augusto Cury concedeu uma entrevista e abordou o assunto do ponto de vista médico e social.
Para Cury, a depressão ainda é fonte de tabu no meio evangélico, mas deve ser encarada como um distúrbio comum a qualquer pessoa, incluindo cristãos, que geralmente “confundem os problemas psicológicos”.
“Infelizmente, no mundo todo, o cristianismo tem um certo preconceito com a psiquiatria e a psicologia — não são todos, mas uma boa maioria. É um conceito errado. Quando se tem um transtorno emocional, deve-se procurar um psiquiatra e um psicólogo competente. Até porque, quem não reconhece suas mazelas, suas fragilidades e seus cárceres mentais, será assombrado por eles a vida toda”, contextualizou durante a entrevista concedida ao pastor Cássio Miranda, no programa Mente Aberta, exibido pela Rede Super de Televisão.
“A maioria das pessoas são assombradas por fobias, e não apenas isso, muitos cristãos sofrem de depressão e não se tratam. A depressão é o último estágio da dor humana. Preconceito infantil, eu posso dizer, porque há bons profissionais de psiquiatria e psicologia preparados para usar técnicas adequadas”, explicou.
Augusto Cury citou Jesus como “o homem mais inteligente da história” – repetindo o título de um de seus livros – e se debruçou sobre a sabedoria do filho de Deus ao abordar os aspectos da ansiedade. “Eu, que fui um dos maiores ateus que já pisou nessa terra, fiquei espantado quando o estudei sob os ângulos da psiquiatria, psicologia, sociologia e psicopedagogia. Como esse homem antecipou dois mil anos e falou sobre ansiedade?”, disse o escritor.
Em Mateus 6:25 Jesus disse: “Não estejais ansiosos quanto à vossa vida”. Essa pequena frase de Jesus despertou o interesse do psiquiatra na busca pela compreensão de sua abrangência: “Eu me perguntava: que homem é esse que falava de uma patologia que assombraria o ser humano na era moderna? E não apenas isso, ele falou de algumas ferramentas, dentre elas a mais importante: não antecipe o problema. Ou seja, uma pessoa que sofre pelo futuro, é escravizada pelo presente”.
Em seguida, Cury citou ainda a análise feita por Jesus a respeito do rei Salomão, que segundo o psiquiatra, apresentava sinais de sofrer com a doença em questão: “Salomão tinha problemas emocionais graves, ele desenvolveu uma depressão importante. Por isso que, poeticamente e intelectualmente, ele era muito inteligente, mas emocionalmente falido”, afirmou.
Polêmica
Augusto Cury discordou da afirmação “não há nada de novo debaixo do sol”, eternizada por Salomão em Eclesiastes 1:9, dizendo que a vida e sua dinâmica tornam todos os dias um cenário novo.
“Ora, a vida é um espetáculo único e imperdível. Aí o homem mais inteligente da história, Jesus, faz a crítica: nem Salomão vestiu-se como o lírio dos campos. Ele estava dizendo que contemplar o belo e fazer das pequenas coisas um espetáculo aos olhos, é vital para um ser humano ser feliz”, declarou o psiquiatra, numa análise isolada do versículo.
Por fim, Augusto Cury definiu o século XXI como a era dos “mendigos emocionais”, que segundo ele estão em todos os lugares, incluindo a Igreja: “Existem muitas pessoas morando em grandes condomínios e mendigando o pão da alegria. Eles não conhecem as ferramentas do homem mais inteligente da história, ainda que sejam cristãos”.