No Brasil, lideranças conservadoras sempre atentaram para a possibilidade de que a ideologia de gênero pudesse produzir casos surreais de assédio ou abuso sexual. Agora, a imprensa mundial tem dado repercussão à prisão de um estuprador que se disse identificado com o sexo feminino, foi preso em uma ala de mulheres, e estuprou as colegas de cela.
Stephen Wood, 52 anos, adotou o nome social Karen White e foi preso preventivamente na Inglaterra após acusações de estupros e abusos contra mulheres. Como se identificou como uma mulher transgênero, as autoridades do país o prenderam na ala feminina de um presídio.
Segundo informações da BBC, o homem se vestia de mulher e usava maquiagem, e por isso, recebeu autorização para ser mantido junto a outras mulheres e cumprir sua pena. Essa decisão aconteceu num contexto de que, no Reino Unido, os diretores dos presídios adotam políticas que, a princípio, garantem ao detento sua reclusão na ala do sexo em que ele se define.
O caso de Stephen levantou extremas críticas às autoridades porque ele não fez cirurgia de mudança de sexo, e assim, terminou se aproveitando da intimidade com as outras presas para assediá-las, apenas alguns dias após ter chegado. O histórico de crimes sexuais contra mulheres fora da cadeia não foi levado em consideração, o que intensificou a polêmica.
Antes da transferência, Stephen Wood havia cumprido 18 meses de sua sentença numa ala masculina. Essa condenação referia-se à conduta obscena contra uma menor, e como ele se identificava como homem, não houve maiores problemas.
Durante o julgamento desse crime, ele admitiu que, já na nova prisão, agrediu sexualmente duas das quatro detentas que a acusam de abusos. Os crimes teriam ocorrido entre setembro e novembro de 2017, com assédio, toque indevido, exibição de genitais e comentários impróprios sobre sexo oral.
As autoridades agora se veem diante de uma situação que ofende o politicamente correto: a autodeclaração de um detento sobre sua identidade de gênero é suficiente para definir onde será mantido? Diversos grupos sociais têm se oposto a esse critério, alegando que traz risco de que homens – que eventualmente se passem por mulheres trans – possam atacar mulheres.
Janice Turner, colunista dos jornais britânicos The Times e The Guardian, o caso de Stephen Wood é uma exceção, pois os antecedentes eram claros: “Prender estupradores em cadeias femininas, deixá-los no meio de presas vulneráveis, alumas delas vítimas de estupro, é como colocar a raposa no galinheiro”, escreveu, acrescentando que a segurança das mulheres parece ser menos importante que a “expressão de gênero”.
“É um debate muito tóxico, mas acho que o sistema prisional tem sido influenciado por conversas extremas e se viu forçado a tomar decisões que têm feito mal às mulheres, tendo colocado os funcionários em uma situação extremamente difícil”, disse Frances Crook, gerente-executiva da organização Howard League para a Reforma Penal, em um artigo publicado no Guardian.