Contrariando uma fala recente do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao dizer que “ninguém foi mais de esquerda do que Jesus“, pastores do Ceará assinaram um manifesto contra o que consideram ser uma politização do Evangelho de Jesus Cristo no estado.
No centro da questão está a disputa eleitoral pela Prefeitura de Fortaleza, onde o candidato André Fernandes (PL), apoiado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, trava o segundo turno contra o candidato Evandro Leital (PT), apoiado por Lula.
De acordo com a Revista Comunhão, o manifesto intitulado “Proclamação pela integridade do Evangelho durante as eleições municipais de Fortaleza em 2024” foi divulgado no último fim de semana, em grupos de WhatsApp.
Sem destacar questões morais que refletem ou não o pensamento cristão através das propostas políticas defendidas pelos diferentes candidatos, o documento afirma, dentre outras coisas, que o Evangelho de Cristo “jamais será de esquerda ou de direita”, e que “não há candidato enviado por Deus e nem pelo inferno.”
“A escolha de nossos governantes deve ser feita com responsabilidade e oração, mas jamais devemos atribuir caráter divino ou demoníaco a qualquer candidato, pois isso é uma distorção da fé”, diz um trecho do manifesto.
“Que o Senhor nos dê sabedoria para discernir o tempo em que vivemos, nos capacite a manter a integridade da fé e nos ajude a preservar a santidade dos templos como lugares de adoração, intercessão e pregação do Evangelho. Oramos para que o Reino de Deus continue sendo nossa principal busca e que as eleições não obscureçam nossa verdadeira missão”, conclui o documento.
Para o pastor Sandro Fiuza, da Comunidade Evangélica Verdadeiros Adoradores (Ceva), a Igreja deve, sim, participar das discussões políticas na sociedade, “mas o que a gente está vendo aqui em Fortaleza principalmente – mas não só aqui – é um exagero dessa situação e uma proselitização da eleição”, afirma.
Fiuza está na lista dos signatários do manifesto, ao lado de nomes como o pastor Carlos Queiroz [foto], um dos principais nomes da Teologia da Missão Integral (TMI) no Brasil, corrente teológica normalmente associada ao viés ideológico de esquerda.
“Ao seguirmos o exemplo de Cristo, devemos zelar para que nossos altares permaneçam focados na pregação do amor, da justiça e da esperança, e não se tornem palanques de campanhas eleitorais”, ressalta Fiuza.
Perspectivas diversas
A discussão envolvendo a relação entre fé e política é uma realidade dentro e fora do Brasil. Para o pastor Josh Howerton, por exemplo, presidente da Igreja Lakepointe no Texas, Estados Unidos, a atuação cada vez maior dos líderes cristãos nesse quesito tem sido uma reação natural à interferência do Estado nos assuntos da Igreja.
“Quando o governo passou de [discutir] coisas como construir estradas, emitir carteiras de motorista e ensinar matemática, para coisas como redefinir o casamento, apagar o gênero, reformular o aborto como direitos reprodutivos e, depois, usar o sistema escolar para doutrinar os filhos de todos a acreditar nessas coisas, a Igreja não foi a culpada. Foi a política que fez isso”, disse ele.
Em outras palavras, é possível dizer que apesar do Evangelho de Cristo não poder se enquadrado em determinado espectro ideológico político, ele é composto por um conjunto de princípios e valores que se encaixa mais, ou menos, em algum dos segmentos dispostos no mundo atual, sendo a direita e esquerda os dois maiores polos.
Na Coreia do Sul, outro exemplo, o revendo Hyun-bo Son está a frente de um evento que reunirá 2 milhões de coreanos cristãos na próxima semana. O objetivo é fazer um levante das igrejas contra o avanço de projetos progressistas, tipicamente defendidos pela esquerda, como o “casamento gay”.
“A política e a religião não podem ser separadas”, diz o reverendo, conforme notícia do GospelMais. “A Igreja faz parte do sistema político que governa a nação. Você não pode dizer que esta parte pertence à igreja e essa parte pertence aos políticos. Quando os políticos fazem uma lei, as igrejas estão sob a lei, por isso são afetadas pela lei”.