Um casal evangélico que publicou um anúncio (foto) nos classificados de um jornal à procura de uma babá para uma criança de um ano de idade está sendo acusado de promover o trabalho infantil e a adoção ilegal de crianças.
O texto do anúncio veiculado no Diário do Pará diz que o “casal evangélico precisa adotar uma menina de 12 a 18 anos que resida [na casa da família] para cuidar de uma bebê de um ano”.
O anúncio também descreve o casal como empresários e pede que as interessadas se apresentem com os pais ou responsáveis. A TV Liberal veiculou reportagem em que uma produtora se passa por interessada e gravou a conversa, onde um homem admite a procura por crianças para “adoção”.
Posteriormente, um repórter da emissora se identificou e perguntou sobre a legalidade daquele tipo de oferta, e ouviu do mesmo homem uma declaração diferente, dizendo que aquilo havia sido um “equívoco” cometido por outrem, sem “maldade”.
Após as denúncias, o Ministério Público do Trabalho e a Polícia Civil instauraram uma investigação que tem como objetivo esclarecer as responsabilidades das pessoas físicas envolvidas e do jornal responsável pela veiculação do anúncio.
O professor e blogueiro Douglas Belchior publicou um artigo comentando o caso, e o considerou uma “situação absurda de promoção do trabalho infantil análogo à escravidão”.
A repercussão desse caso levou à divulgação de outra situação semelhante, coincidentemente novamente protagonizada por evangélicos. A blogueira Franssinete Florenzano, que vem acompanhando as investigações, denunciou outro anúncio do tipo, desta vez, feito nas redes sociais.
“Há cerca de duas semanas uma mulher, identificada como Cristiane Soares Melo, evangélica, casada com um pastor e com uma filha de dois anos, postou no grupo de bazar no Facebook ‘Venda, compras e trocas – Marabá’ que estava procurando uma menina carente para ajudar, que morasse com ela, e “se fosse menor de idade” pretendia ‘pôr na escola para estudar, levar e buscar, cuidar como filha’”, denunciou Florenzano.
Segundo a blogueira, o caso já vem sendo apurado pela Justiça do Trabalho: “O caso chegou ao conhecimento do juiz do trabalho Jônatas Andrade – cuja brilhante atuação no combate ao trabalho escravo já lhe rendeu ameaças de morte, além de prêmios de entidades de defesa dos direitos humanos. O magistrado acionou de imediato ao Ministério Público do Trabalho em Marabá. Amanhã [segunda-feira, 04 de maio] mesmo o MPT vai abrir procedimento apuratório. Ecos da herança escravagista? Quadrilha de pedófilos? Ou tráfico de pessoas?”, questionou.