O crescimento do número de evangélicos na sociedade brasileira tem levado as lideranças religiosas e políticas do segmento a estipularem outra expansão, agora no Poder Legislativo. A expectativa é que em outubro, cerca de 165 parlamentares evangélicos sejam eleitos entre Câmara dos Deputados e Senado.
As eleições de 2018 devem ser marcadas por uma grande quantidade de candidatos ligados a igrejas, e isso faz com que partidos políticos que possuem algum trânsito com o segmento comecem a fazer uma estimativa de quantos poderão ser eleitos, já que a reforma política aprovada em 2017 não alterou de forma significativa a regra do quociente eleitoral.
De acordo com informações do jornal Valor Econômico, a expectativa das lideranças evangélicas na política é que o número de deputados federais ligados às igrejas suba de 93 para 150, e que no Senado o número seja quintuplicado, saindo de três para quinze parlamentares.
Estratégia
O esforço para alcançar a meta no Senado envolve um acordo entre diferentes partidos e denominações evangélicas, com o lançamento de apenas um candidato por estado, evitando que dois evangélicos “canibalizem” os votos entre si. Em 2018, dois terços do Senado poderão ser renovados.
Em relação à Câmara dos Deputados, a ideia é que em cada estado sejam lançados poucos candidatos, a fim de evitar que os votos sejam divididos entre os postulantes e só uma fração termine eleita. Ambas as estratégias são consideradas pelos analistas políticos como difíceis de serem implementadas, já que a heterogeneidade do segmento é muito abrangente.
Segundo o jornalista Fabio Murakawa, do Valor, a pauta da bancada evangélica no próximo mandato é continuar resistindo às investidas progressistas na Câmara e Senado, opondo-se às constantes tentativas de legalização do aborto e liberação das drogas.
“Dessa coordenação, também pode surgir apoio a um candidato a presidente- algo mais provável em um eventual segundo turno. Na economia, a preferência dos líderes é pelo modelo que definem como liberal adotado no governo Michel Temer. Um desafio é conquistar o eleitor evangélico das regiões Norte e Nordeste, ainda muito fiel ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)”, avaliou Murakawa.
Protagonistas
Os principais articuladores da estratégia são representantes das igrejas batistas, Assembleia de Deus, Evangelho Quadrangular, Universal do Reino de Deus, Internacional da Graça de Deus, Mundial do Poder de Deus, Fonte da Vida e Sara Nossa Terra, entre outras. Nomes como o senador Magno Malta (PR-ES) e os deputados João Campos (PRB-GO), Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ) e Antonio Bulhões (PRB-SP) são protagonistas nas conversas.
A pesquisa Datafolha, que em dezembro de 2016 estimou em 29% o total de evangélicos no país, é usada como principal argumento para almejar o crescimento da bancada: “Temos de 28% a 33% de representatividade na população, mas somos apenas 15% do Congresso”, contextualizou o bispo Robson Rodovalho, presidente da Confederação dos Conselhos de Pastores do Brasil (Concepab).
Em relação ao Senado, o pastor Sóstenes Cavalcante – afilhado político de Silas Malafaia – acredita que é preciso dar um passo além: “Estamos muito descobertos no Senado, com apenas três senadores”, disse.
Um nome que sonda a possibilidade de chegar ao Senado é o pastor Marco Feliciano (PSC-SP), que obteve quase 400 mil votos na última eleição para deputado federal. “Meu sonho é o Senado. Mas, se não houver uma boa articulação [entre as igrejas], não vou trocar o certo pelo duvidoso”, pontuou Feliciano.
Para o pastor Silas Malafaia, o evangélico estará ainda mais criterioso na hora do voto nas próximas eleições: “Quem estiver citado na Lava-Jato não irá prosperar entre os evangélicos. É o caso de Geraldo Alckmin e Rodrigo Maia”, previu, em entrevista ao O Globo.
Rodovalho acrescentou outro ponto: “O público evangélico está de olho em um candidato que seja liberal na economia e conservador nos valores”.