A força política dos evangélicos foi finalmente demonstrada numa eleição presidencial, uma vez que em disputas anteriores, este segmento se dividia em múltiplas partes, apoiando desde candidatos do Partido dos Trabalhadores, aos clássicos opositores do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) e até figuras que se apresentavam como uma “terceira via”, como Marina Silva, que passou por diversas legendas.
Este ano, numa aliança multidenominacional e informal, os evangélicos do Brasil – movidos também pelo sentimento de antipetismo – se uniram em sua ampla maioria em torno da candidatura de Jair Bolsonaro (PSL), que desde o começo de sua pré-campanha manifestou-se contrário a temas progressistas, como ideologia de gênero e aborto, por exemplo.
“De todos os candidatos, o único que fala a língua dos evangélicos é Bolsonaro. Não podemos deixar a esquerda voltar ao poder”, destacou o jornal francês Le Figaro, reproduzindo uma declaração recente do pastor José Wellington Júnior, presidente da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil.
O mestre em filosofia da Universidade de São Paulo, André Bassi Barreto, afirmou em entrevista ao programa Brasil Notícias, da Rede Aleluia, que a vitória de Bolsonaro expressa como o voto evangélico pode ser decisivo e também que o brasileiro como um todo está cansado da velha política.
“O sentimento antipetista foi, sim, aglutinado na campanha de Jair Bolsonaro, mas a sua vitória também representa a adesão das pessoas a um projeto positivo, eu diria um projeto patriota, então a gente tem um quadro de confirmação de tendências”, pontuou André Bassi.
Os jornalistas Ana Carolina Cury e Décio Caramigo recapitularam os fatos mais marcantes da campanha de Bolsonaro, que foi repleta de tensão, como o atentado em Juiz de Fora, assim como manifestações de ódio contra cristãos por parte de militantes adversários, como por exemplo, fake news e vandalismos contra templos evangélicos.
“Os evangélicos, sem dúvida, foram cruciais para essa eleição e os rumos que ela tomou; insisto muito na tese da representatividade dos valores. As pessoas evangélicas tomaram ciência disso e procuraram escolher candidatos harmonizados com esses valores, e isso está rumando num sentido bastante positivo de participação, de melhora, de esclarecimento. O voto evangélico foi decisivo para essa eleição”, enfatizou o mestre em filosofia.
Novo ciclo
Para o cientista político Leonardo Barreto, o resultado eleitoral deve ser visto também como a primeira vitória de um político de fora da polarização entre PSDB e PT, que protagonizavam as eleições presidenciais desde 1994.
“A vitória de Bolsonaro põe fim a um ciclo de grande instabilidade política que se iniciou nas eleições de 2014 e culminou no processo de impeachment da ex-presidente Dilma; o presidente eleito terá que contornar velhos hábitos e procedimentos que já estão arraigados dentro da política brasileira”, observou Barreto.
A diretora do Movimento Voto Consciente e educadora política, Rosângela Giembinsky, comentou os desafios que Bolsonaro terá pela frente e salientou que a participação popular não termina com a posse do novo presidente.
“A gente entende que esse caminho se inicia; não é um caminho que termina no voto, mas que começa com o voto, e sinto que as redes sociais e a própria internet vão ajudar muito nisso, então se comunique, fale com a assessoria, esse é o caminho, ou seja, quanto mais pessoas participarem, mais atingiremos a todos”, declarou Rosângela.