Uma pesquisa realizada durante a edição da Marcha Para Jesus na última semana mostrou que o voto dos participantes do evento não é definido por questões religiosas. A constatação joga um pouco de luz em um cenário que é campo fértil para conjecturas diversas de analistas políticos.
O levantamento foi realizado pelo Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política (Neamp) da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), em parceria com o Grupo de Pesquisa Comunicação e Religião da Intercom (Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação).
De acordo com informações do jornal Folha de S. Paulo, o relatório da pesquisa mostrou que a maioria (40,9%) dos frequentadores da Marcha para Jesus não espera que o próximo presidente da República seja evangélico, sendo que 32,62% do total dos entrevistados vê com bons olhos que o chefe do Executivo seja adepto de outra fé, ou até, ateu.
Eleições
As pesquisas de intenção de voto continuam sendo realizadas com a figura do ex-presidente Lula (PT), mesmo após sua condenação em segunda instância e prisão com negativa de habeas corpus do Supremo Tribunal Federal (STF). Nesse contexto, os participantes da Marcha para Jesus também foram questionados sobre sua preferência para o pleito de outubro.
Lula surge em primeiro lugar na pesquisa da PUC em parceria com a Intercom, com 20,09% das intenções dos participantes da Marcha. Em segundo lugar, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL) registrou 15,6%, seguido da ex-ministra e ex-senadora Marina Silva (Rede), com 5,91%.
Sem a presença de Lula na disputa – cenário mais provável – Bolsonaro alcança 17,49%. O segundo lugar fica com Marina Silva, que chega a 9,46% das intenções de voto, com o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB) em terceiro, somando 6,15%.
Marina Silva é evangélica, mas não parece conquistar a confiança desse público. Outro evangélico, o empresário Flávio Rocha, somou 0,23% das intenções de voto em um cenário com Lula, e 0,24% sem o ex-presidente na disputa.
Segundo Magali Cunha, pesquisadora da Intercom, “não existe voto evangélico”. A afirmação, baseada na amostragem feita durante a Marcha Para Jesus, leva em consideração a similaridade com as outras pesquisas feitas por institutos tradicionais, como Datafolha, Ibope, Paraná Pesqusas, e outros.
“O que pesa, nessa hora, é a questão da classe social, a da formação educacional. São os interesses da população em torno daquele que querem que seja a sua liderança maior”, acrescentou Magali Cunha.
Outra leitura possível é que o evangélico está adotando uma postura de “tanto faz”, segundo o pesquisador Leandro Ortunes. A motivação para um suposto desinteresse é a constatação de que a política, marcada pela corrupção, não seria espaço para atuação de um cristão, além da desconfiança generalizada em relação às instituições e partidos.
“Isso leva ao pensamento de ‘tanto faz’. Os entrevistados não acreditam que um evangélico faria a diferença”, pontuou Ortunes.
No total, foram entrevistadas 423 participantes da Marcha Para Jesus, sendo 16,78% de membros da Assembleia de Deus; 15,37% da igreja Renascer em Cristo; 14,89% católicos; 4,26% de Adventistas do Sétimo Dia; 3,31% da Igreja Universal do Reino de Deus; e 32,86% de uma série de outras denominações.