Florisvaldo de Oliveira, conhecido anteriormente como Cabo Bruno, assumiu oficialmente no domingo (23) sua função de pastor na Igreja Refúgio em Cristo, em Taubaté. A cerimônia durou mais de duas horas e contou com a presença de mais de dez pastores, uma comitiva de quatro representantes da sede da igreja no Rio de Janeiro, além de carcereiros do presídio e ex-detentos convertidos.
Colocado há pouco mais de um mês em liberdade, Oliveira substituiu na função de pastor sua esposa Dayse França, que comandou a igreja durante dois anos, segundo a agência Estado.
Muitos dos presentes testemunharam sobre sua transformação. “O mundo todo e a sociedade podem olhar para você atravessado. Ele (Jesus) olha reto”, iniciou a pregação o pastor Airton, fitando Oliveira. Este, por sua vez acompanhava os testemunhos e cânticos de olhos fechados e levantando a mão direita.
Conhecido como um dos justiceiros mais temidos de São Paulo, Oliveira passou a atuar matando jovens de bairros da periferia da zona sul a mando de comerciantes locais.
Muitos testemunhos se sucederam, enfatizando a mudança de vida do ex-justiceiro. Seu irmão, Pedro Silvestre, declarou: “todos podem mudar. Essas mudanças são o maior milagre de Deus”.
“Não cabe a nenhum de nós julgar o próximo, ainda que seus pecados sejam vermelhos como o escarlate, se tornarão brancos como a neve”, disse o bispo Vladimir, da Igreja Refúgio em Cristo, que veio da capital fluminense especialmente para a cerimônia.
Após assinar o documento que o empossava como pastor, Oliveira falou pela primeira vez dizendo que “iria saquear o inferno tomando as almas de Satanás e as entregando para um reino de luz”. Ele ainda afirmou que agora vai continuar sua guerra de forma pacífica.
Justiceiro
O ano era 1982 e na época o Cabo Bruno ainda era soldado da Polícia Militar.
Enquanto atuava como justiceiro, Oliveira matou mais de 50 pessoas por encomenda. Segundo ele, matava por não acreditar na recuperação dos “bandidos”, de acordo com a Agência Estado.
Na época ele e os outros justiceiros com quem atuava, além dos comerciantes que ordenavam as execuções, acreditavam que não havia esperança para eles, e por isso deveriam ser exterminados.
De acordo com os depoimentos, depois de se converter Oliveira se mostrou uma pessoa metódica e empenhada. No presídio de Tremembé, onde passou 27 anos, construiu uma igreja e fez pessoalmente alguns elementos, como o púlpito de madeira. “Se eu não ficasse tanto tempo, talvez não estivesse agora aqui”, testemunhou.
Durante o culto não foram mencionados os crimes e fatos do passado. “Queremos esquecer o passado”, disse a mulher, Dayse. “Somos hoje servos de Deus e queremos ter paz para viver”, concluiu.
Por Jussara Teixeira para o Gospel+