Felipe Neto, youtuber, empresário e agora ativista do progressismo, fez ataques ao pastor Silas Malafaia e ao prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (PRB), que é bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus.
Numa entrevista concedida no contexto da repercussão de sua iniciativa para distribuir 14 mil livros com temática LGBT na Bienal realizada no Rio, numa espécie de reação à medida tomada por Crivella para impedir que a HQ Vingadores – A Cruzada das Crianças, com uma representação de um beijo gay, fosse vendida para crianças e adolescentes sem a devida indicação de faixa etária.
“O prefeito é apenas ignorante e autoritário, como aqueles que o cercam nesse desgoverno”, atacou Felipe Neto, que negou que esteja usando a situação para sua promoção pessoal. “O povo que apoia isso [luta contra a erotização infantil] é muito mais sonoro do que aquele que luta por igualdade e amor”, argumentou.
Para o influente youtuber, a iniciativa de Crivella em limitar o alcance de publicações com beijo gay para crianças é “ignorante e sintomática do desejo dessa turma em controlar tudo através da censura e da opressão”.
“Um beijo gay não é material sexual, isso não está aberto a interpretação, é um fato. Logo, não há qualquer relação entre um beijo gay e o que o Estatuto da Criança e do Adolescente diz que deve ser vedado com plástico e informado na capa”, acrescentou.
Sobre a postura do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro José Dias Toffoli – ex-advogado do PT, reprovado em concursos para a magistratura e indicado por Lula para a mais alta Corte do país – no episódio, Felipe Neto afirmou que “ele cumpriu apenas sua obrigação”.
“Acho que foi a decisão mais fácil da vida dele, pois repito: beijo gay não é material sexual. Não havia nenhuma necessidade de se refletir sequer por 10 segundos sobre o assunto. Ele fez o que qualquer pessoa com dois neurônios faria”, afirmou, usando seu tom usual de arrogância.
Questionado se é inimigo do pastor Silas Malafaia e da deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), Felipe Neto negou, mas aproveitou a situação para alfinetar os adversários: “Não tenho inimigos, nem mesmo entre aspas. Os nomes citados são agentes que lutam de maneira reacionária para a volta de medidas opressoras e controladoras da sociedade”, acusou. “Quase sempre brancos, quase sempre homens, lutando pelos próprios interesses e manutenção de um status de privilégio soberano sobre os outros”, continuou, repetindo o discurso da luta de classes, em que a sociedade é dividida por setores e colocada em conflito.
Felipe Neto também atacou o ministro Sérgio Moro, que ocupa a pasta da Justiça e Segurança Pública: “Apenas um espantalho misturado com João-bobo. Não tem moral alguma, nem mesmo com o próprio presidente, que cansa de desmoralizá-lo, sem que ele emita qualquer resposta”.
O jornalista do Uol, Chico Alves, questionou o youtuber sobre os evangélicos, referindo-se à ascensão desse segmento como um avanço do “fundamentalismo religioso” ao centro do poder. Felipe Neto, mais uma vez, expressou seu desprezo pelos fiéis dessa tradição cristã: “Eles planejaram isso e informaram a todos sobre seu plano de poder, basta buscar os discursos do Edir Macedo. Há um plano em execução e que está funcionando muito bem. A sorte é que, normalmente, nem eles se suportam entre si e acabam criando diversas lideranças diferentes”.
Respostas
Malafaia respondeu à declaração de Neto enfatizando apenas a proteção dos menores em relação ao conteúdo erótico: “O Estatuto da Criança e do Adolescente diz que qualquer publicação com imagem erótica, seja de hetero ou homossexual, tem que estar lacrada, só isso”, explicou, negando que a iniciativa seja uma forma de censura.
A deputada Carla Zambelli disse que sempre defendeu a liberdade e que o youtuber demonstra ignorância: “Felipe Neto fala como se as minorias quisessem um tutor ou porta-voz, quando é justamente contra esse tipo de controle que luto”.
O pastor e deputado federal Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ) usou a tribuna da Câmara dos Deputados para expressar repúdio à postura da grande mídia no episódio, que “distorceu a verdade dos fatos” segundo sua visão. Em seguida, parabenizou a iniciativa corajosa de Marcelo Crivella.
“O que o prefeito buscou, por meio de suas ações junto ao Judiciário, foi o que está garantido no Estatuto da Criança e do Adolescente, no nosso Código Penal e na Constituição: que os livros, que eram o meio de comunicação no caso da Bienal do Livro, se tiverem imagem libidinosa, sem contar imagens pornográficas — que não era o caso —, estejam lacrados em plástico e tenham indicação da idade. Isso é a lei, mas parece que estamos vivendo num país dos fora da lei. Então, eu quero me solidarizar com o prefeito por exercer o papel da lei”, declarou.
Em seguida, Sóstenes Cavalcante também atacou a postura do STF: “O desespero é tamanho daqueles que querem afrontar os valores da família, que subiram o processo ao Supremo Tribunal Federal. Com todo respeito, o que se arrasta de processo na Suprema Corte, ano após ano, altos salários são pagos, processo de pobre fica lá anos e anos e não é pautado, mas esse tipo de processo ideológico é pautado com velocidade. O presidente da Suprema Corte pauta o processo num domingo e resolve de maneira arbitrária, ao arrepio da lei. A lei é clara. O que se pede não é nenhum tipo de censura”.
“Ninguém é mais prioritário neste país do que as nossas crianças e adolescentes. Vamos manter a pureza das nossas crianças! Elas, sim, são o futuro deste País. Nós que hoje detemos um mandato e algum poder não podemos usá-los para sexualizá-las antes da idade adequada para entender sobre todo e qualquer tipo de assunto. Essa é uma prerrogativa constitucional dos pais”, disse o pastor, convidando os colegas de Parlamento a protegerem as crianças.
Por fim, disparou contra o ativismo da imprensa: “Parem de enganar a população! Imprensa, isso não é censura: é direito da criança e do adolescente. Parem de enganar as pessoas! Nós precisamos falar desta tribuna, as verdades que alguns não gostam de ouvir. Viva as nossas crianças! Viva o Estatuto da Criança e do Adolescente! Viva a legalidade neste país, a qual aqueles que se travestem de democracia estão rasgando!”, concluiu.