Em setembro começará a Bienal de Arte de São Paulo, que terá como tema “transgressão, transcendência e transsexualidade”. Com a promessa de muitas polêmicas, uma das obras que será exibida na mostra é o filme “Inferno”, que terá como personagem principal um travesti que será mostrado como líder religioso na réplica do Templo de Salomão que está sendo construído pela Igreja Universal em São Paulo.
Dirigido pela artista israelense Yael Bartana, o filme será interprestado por Carlos Márcio, de 44 anos, que é conhecido na noite paulistana por seus espetáculos como a drag queen Márcia Pantera. Segundo a Folha de S.Paulo, no filme ele ira viver “um líder religioso com ares e vestes papais, num simulacro do templo bíblico de Salomão que a Igreja Universal do Reino de Deus constrói no Brás”.
Além de mostrar um homossexual como pastor no templo, o filme promete ainda mais polêmica por anunciar que irá sumular a destruição completa da obra de 74 mil m² que está sendo levantada pela igreja liderada pelo bispo Edir Macedo.
O britânico Charles Esche, curador da Bienal, comentou sobre o foco das obras que serão exibidas na edição desse ano da mostra de arte, misturando a religião com a transsexualidade, afirmando que “isso é algo que resume nossa condição contemporânea”.
– A arte nos mostra que essa absoluta dicotomia entre masculino e feminino não reflete a forma como nós, de fato, experimentamos a realidade – afirmou Esche.
Carlos Márcio também comentou sobre a mensagem que pretendem transmitir com a obra. Autodeclarado religioso, ele afirma que frequenta cultos evangélicos, missas católicas e terreiros de macumba. Taxativo, ele afirma: “Quando vou em qualquer igreja, vou procurar Deus”.
Ele diz também que não acredita em “ex-gay”, e afirma que a igreja evangélica tem muitos preconceitos em relação à sexualidade.
– Acho que o preconceito da igreja evangélica é demais da conta. Se eu morrer e nascer de novo, quero vir exatamente como eu sou. Gay que seja. Sou feliz assim – afirma Carlos Márcio, que revela também não ter tido uma boa experiência quando visitou um templo da Igreja Universal.
– Me senti acuada. Primeiro, tem que estar vestidinho pra entrar na igreja. Aí você vai para a igreja e o pastor vai falar: se acreditar em Deus, vai levantar agora. Levanta e anda! Eu já sabia daquilo. Da força que tenho para levantar e andar – afirmou.
– Eu tenho um Deus que é muito verdadeiro na minha vida. Qualquer lugar, dentro de um ônibus lotado, posso estar conversando com Ele – completa.