Um renomado escritor e físico cristão, que muitas vezes palestrou em universidades sobre a questão da ciência e da fé, afirmou que uma visão de mundo apenas da ciência não é prática, apontando as falhas inerentes à visão puramente científica da vida.
O dicionário Merriam-Webster define “cientificismo” em parte como sendo “uma confiança exagerada na eficácia dos métodos da ciência natural aplicada a todas as áreas de investigação (como na filosofia, nas ciências sociais e nas ciências humanas)”. O dicionário de português Michaelis pontua a prática como uma “teoria filosófica positivista defensora da superioridade científica sobre todas as formas de compreensão humana da realidade”.
Ian Hutchinson, físico de plasma e professor de Ciência e Engenharia Nuclear no Massachusetts Institute of Technology (MIT), explicou as deficiências do cientificismo em uma entrevista ao The Veritas Forum. Ele argumentou que o cientificismo é uma “crença errônea” amplamente aceita que falha em parte porque a ciência é inerentemente incapaz de provar a existência de vários aspectos “intangíveis deste mundo”.
“Isso não prova que existe algo como justiça, misericórdia ou amor e, no entanto, essas são realidades em nosso mundo que todos reconhecemos e consideramos muito importantes”, contextualizou Hutchinson. “E da mesma forma são as questões teológicas. Elas são importantes, são vitais e, no entanto, não são suscetíveis de serem investigadas pela ciência”.
Hutchinson também criticou o cientificismo, observando que muitas figuras importantes na história da ciência também eram cristãos devotos, o que significava que eles não aderiam ao cientificismo: “As pessoas que fundaram a Revolução Científica no século 17 eram crentes religiosos em geral, a maioria cristãos” , acrescentou o físico.
“Eles certamente acreditavam que muito do que sabemos vem de fontes externas à ciência […] eram pessoas que acreditavam em milagres, em geral. No mínimo, acreditavam no milagre da ressurreição”, salientou.
Hutchinson também falou sobre como ele sente que há uma “abertura” na ciência para examinar o significado de “coisas religiosas”, citando como exemplo o programa da Associação Americana para o Avanço da Ciência, o Diálogo sobre Ciência, Ética e Religião.
Esse programa, criado em 1995, é descrito no site da AAAS como uma iniciativa que busca fomentar a “comunicação entre comunidades científicas e religiosas”. Seus objetivos declarados incluem melhorar o entendimento científico entre as comunidades religiosas, aumentar “o engajamento das comunidades científicas no diálogo sobre ciência, ética e religião” e fomentar a colaboração entre “cientistas, especialistas em ética e religião e líderes” sobre “questões multidisciplinares críticas” relacionadas à ciência, ética e religião.
Seus comentários ecoam os comentários que ele fez em um evento do Veritas Forum intitulado “A ciência pode explicar tudo?”, organizado pela Universidade Quinnipiac em abril último. A ideia comum de que a ciência e a fé estão em conflito umas com as outras foi rejeitada pelos historiadores especializados na história da ciência, observou Hutchinson.
“Isso foi completamente desmentido pelos historiadores da ciência nos últimos 50 anos como algo falso para a história. Cristãos sérios, incluindo o clero, foram predominantes no desenvolvimento da ciência moderna por séculos”, disse ele no evento de abril, segundo informações do portal The Christian Post.
“Mas o mito ainda exerce poderosa influência tanto sobre os secularistas quanto sobre os cristãos. É sustentado por uma afirmação frequente de que não há evidência para o cristianismo, mas isso não é verdade”, pontuou. A entrevista de Hutchinson foi divulgada no mesmo mês da publicação do mais recente livro do físico, Can a Scientist Believe in Miracles? (“Pode um cientista acreditar em milagres?”, em tradução livre).
O livro de apologética é uma compilação de centenas de perguntas que ele recebeu de estudantes sobre ciência, teologia e sua fé cristã. “Sem minimizar questões desafiadoras, ele explora como a ciência e o cristianismo se apoiam mutuamente e são intelectualmente consistentes. Tanto Deus quanto a ciência abordam verdadeiramente nossa curiosidade e destino. Encontre respostas para suas perguntas mais profundas”, resume a editora IV Press.
Hutchinson acredita que seu novo livro terá dois tipos distintos de leitores: cristãos que querem entender melhor a relação entre fé e ciência, e não-cristãos que estão interessados na questão de como ciência e fé são compatíveis. “O que eu quero que ambos os grupos façam é, em primeiro lugar, reconhecer que a questão é realmente importante. As grandes questões da vida”, disse Hutchinson. “Isso é o que meu livro quer ajudar as pessoas a serem capazes de fazer, é voltar às grandes questões da vida, para fazê-lo com uma melhor compreensão da ciência e do cristianismo”, concluiu.