A repercussão do texto publicado pelo bispo Edir Macedo sobre o casamento de homens com mulheres mais velhas ou de etnias diferentes gerou artigos de protestos e inúmeros comentários no Twitter.
Em seu texto, Macedo recomenda que homens membros da Igreja Universal do Reino de Deus envolvidos com as atividades da denominação não se casem com mulheres mais velhas, abrindo exceção para casos em que a mulher tenha uma diferença de no máximo dois anos de idade. O bispo também sugere que seus membros não se casem com pessoas de etnia diferente, para evitar que os filhos do casal sofram com o preconceito alheio.
O jornalista Reinaldo Azevedo, da revista Veja, publicou artigo em sua coluna repudiando as palavras de Macedo, e considerou as orientações como “racismo e misoginia”, desprezo às mulheres.
Azevedo afirma que Macedo é um teólogo de “meia pataca” e cobrou das autoridades uma resposta ao “texto asqueroso” do líder da IURD. O artigo faz críticas severas ao bispo e à sua postura em relação às mulheres: “A recomendação de Macedo a seus pastores é de tal sorte cretina que não comporta considerações. O que é espantoso é, sim, o juízo que ele faz do sexo feminino”, observa.
O artigo de repúdio do jornalista ironiza ainda as palavras do bispo a respeito das etnias e da não recomendação à miscigenação: “Macedo é um revolucionário também da biologia. Descobriu a existência de novas ‘raças’, além da humana. Gostaria de saber quais são. Segundo o Censo do IBGE de 2010, os brancos são 47,73% do país; 7,61% são negros; os pardos formam o segundo maior grupo: 43,13%. Vale dizer: quase a metade do Brasil é formada por mestiços, fruto do que o Macedo chamaria de mistura de ‘raças diferentes’. É um acinte e um despropósito que o líder de uma igreja, concessionário de uma rede de televisão, se manifeste nesses termos — especialmente quando se sabe que muitos de seus pastores são… mestiços”.
A psicóloga e colunista do Gospel+ Marisa Lobo, comentou o texto do bispo Edir Macedo: “Perdoe-me o bispo Macedo, mas suas palavras são preconceituosas, em nada expressam o amor propagado por Jesus Cristo”, frisou. Para Lobo, as palavras do líder da IURD são preconceituosas: “Sinto nessas declarações preconceito contra raça negra e contra mulheres”.
Marisa Lobo ressaltou o ponto de vista feminino para rebater a opinião de Macedo a respeito da idade, e citou seu próprio exemplo: “Meu marido é mais novo que eu, e nos damos muito bem! Ele é um gato, e eu sempre estou cuidando de mim. A verdade é que se, seu marido é mais novo te motiva a se cuidar mais!”, afirmou a psicóloga, que ponderou a respeito do temperamento do casal: “Depende muito do relacionamento… O meu marido é mais pé no chão que eu, mais velho em personalidade, não tenho problemas”.
Lobo avalia que com base bíblica, a questão étnica ou etária não pode ser critério para escolha do par: “O que conta em um casamento não é absolutamente a idade e ou a cor, mas o amor que está a sua base. A diferença de idade pode causar certas incompreensões, diversas opiniões, mas certamente essas coisas, como nos ensinam os textos bíblicos, não condicionam o amor verdadeiro”.
O blogueiro Hélio Pariz, do blog “O contorno da sombra”, comparou as palavras de Macedo com o conceito de “Eugenia”, criado por Francis Galton em 1883. Esse conceito afirmava que a mistura de raças poderia modificar as “qualidades raciais das futuras gerações seja física ou mentalmente” e teve seu ápice no regime nazista de Adolf Hitler.
Segundo Hélio, o artigo é “nojento” e “ressuscita as bases da eugenia para a sua organização”, referindo-se à Igreja Universal do Reino de Deus, e ironiza a orientação de Edir Macedo: “Como tudo na universal deve ser analisado sob a ótica econômica, é muito provável que eles estejam tendo prejuízos em razão dessas situações que seu bispo-mór agora combate. Curioso, por exemplo, que ninguém fala nada sobre mulheres se casarem com homens mais velhos”, frisa.
O apresentador da MTV e ateu PC Siqueira ironizou em seu perfil no Twitter as recomendações do bispo Macedo para os “homens de Deus” da Universal: “Tenho tanto orgulho de não ser um homem de deus”, escreveu.
Confira abaixo a íntegra do artigo “Edir Macedo, racismo e misoginia: cadê os ministros da Igualdade Racial e das Mulheres?”, do jornalista Reinaldo Azevedo sobre as recomendações do bispo Edir Macedo:
Nunca subestimem o empresário Edir Macedo, dono da Rede Record e da Igreja Universal do Reino de Deus. Ele sempre pode se superar. Este homem de Deus já pisoteou o Eclesiastes para defender o aborto em livro e vídeo. Numa “aula” ministrada a seus colaboradores, diz como convencer as pessoas a doar dinheiro para a sua igreja: se preciso, jogue-se a Bíblia no chão, ensina, e se demonstre valentia até contra Deus! Deixou-se ainda filmar com um chicote na mão, expulsando o demônio do corpo de um gay. Os “progressistas” ficaram calados porque o empresário é hoje um dos principais aliados do lulo-petismo. A Record é apontada por patriotas como José Dirceu como um exemplo de isenção no jornalismo. Alguns dos grandes difamadores de lideranças da oposição, de ministros do Supremo e da própria imprensa são contratados da empresa comandada por este gigante moral. Ele é o patrão.
Muito bem! Na sexta-feira, Macedo publicou num site ligado à sua igreja um texto intitulado “Homem de Deus quanto à idade e à raça”. Trata-se de mais uma peça grotesca produzida por este teólogo de meia-pataca. Misoginia — repúdio às mulheres — e evidente discriminação racial se juntam num texto asqueroso. Até agora, não vi nenhuma reação da Secretaria das Mulheres, comandada por Eleonora Menicucci, parceira de Macedo na defesa intransigente do aborto. Até agora, não vi nenhuma reação da Secretaria da Igualdade Racial, que, não obstante, foi torrar a paciência de Alexandre Pires — um negro! — por suposto racismo num vídeo que é apenas galhofeiro.
Leiam trechos do texto de Macedo. Volto depois.
O rapaz que deseja fazer a Obra de Deus não deve se casar com uma moça que tenha idade superior à dele, salvo algumas exceções, como por exemplo aquele que é suficientemente maduro e experiente na vida para não se deixar influenciar por ela. Mesmo assim, a diferença não deve ultrapassar dois anos.
Muitas pessoas não gostam quando fazemos estas colocações; entretanto, temos visto que quando a mulher tem idade superior à do seu marido, ela, que por natureza já tem o instinto de ser ‘mandona”, acaba por se colocar no lugar da mãe do marido.
E o pior não é isto. A mulher normalmente envelhece mais cedo que o homem, e quando ela chega à meia-idade, o marido, por sua vez, está maduro mas não tão envelhecido quanto ela. E a experiência tem mostrado que é muito mais difícil, mas não impossível, manter a fidelidade conjugal.
Para evitar este ou outros transtornos, oriundos da diferença de idade (a do marido inferior à da esposa), é preferível que não haja qualquer compromisso de casamento.
(…)
Quanto à raça
Não haveria nenhum problema para o homem de Deus se casar com uma mulher de raça diferente da dele, não fossem os problemas da discriminação que seus filhos poderão enfrentar nas sociedades racistas deste mundo louco.
É preciso que ambos estejam conscientes quanto aos riscos de traumas ou complexos que as crianças poderão absorver durante os períodos escolares, e, a partir daí, carregarem-nos por toda a vida.
Infelizmente, os pais não terão como evitar que aconteçam rejeições ou críticas por parte dos coleguinhas nas escolas nos países onde eles poderão estar pregando o Evangelho.
O homem de Deus precisa estar sempre preparado para servir a Deus onde quer que Ele assim determine, e, assim, nem sempre estará em um país onde não haja esse tipo de situação. Portanto, é necessário que o casal examine também esta questão, antes de qualquer compromisso mais sério.
(…)
Procuramos alertar sobre esta situação não porque a Igreja Universal do Reino de Deus tenha qualquer objeção quanto ao casamento envolvendo mistura de raça ou cor. Não, muito pelo contrário!
Temos vários homens de Deus casados com mulheres de raças diferentes. Não teríamos absolutamente nada a comentar a este respeito, mas temos visto este tipo de problema acontecendo com as crianças dentro das nossas igrejas, em outros países.
Procuramos, portanto, trazer à baila esta situação a fim de evitarmos transtornos no futuro do homem de Deus e na obra que está reservada para ele.
Voltei
Nem vou entrar no mérito sobre o casamento com mulheres mais velhas. A recomendação de Macedo a seus pastores é de tal sorte cretina que não comporta considerações. O que é espantoso é, sim, o juízo que ele faz do sexo feminino. A mulher é uma espécie de agente desestabilizador do homem, sempre pronto a influenciá-lo de modo nefasto. Afinal, diz o sábio, a mulher, “por natureza, já tem o instinto de ser mandona”. Se mais velha, acaba virando “mãe do marido”. O “bispo”, então, decide ser o coautor de um novo Levítico, criando leis: a diferença deve ser de, no máximo, dois anos… Por que dois? Vai ver o Altíssimo revelou essa verdade a este grande profeta!
Note-se ainda que Macedo não aposta na fidelidade ao casamento. Se a mulher é mais velha, diz ele, fica difícil não trair. Esse homem que converte almas parece acreditar que há forças superiores às quais mesmo os convertidos não conseguem resistir. E dá um conselho: “é preferível que não haja qualquer compromisso de casamento”.
Discriminação racial
Macedo é um revolucionário também da biologia. Descobriu a existência de novas “raças”, além da humana. Gostaria de saber quais são. Segundo o Censo do IBGE de 2010, os brancos são 47,73% do país; 7,61% são negros; os pardos formam o segundo maior grupo: 43,13%. Vale dizer: quase a metade do Brasil é formada por mestiços, fruto do que o Macedo chamaria de mistura de “raças diferentes”. É um acinte e um despropósito que o líder de uma igreja, concessionário de uma rede de televisão, se manifeste nesses termos — especialmente quando se sabe que muitos de seus pastores são… mestiços!
Mas este grande homem de Deus, vocês sabem, é uma alma caridosa. Naquele vídeo nojento em que defende o aborto, ele tenta nos convencer de que só o faz por amor à humanidade e até em defesa do próprio feto assassinado. Segundo ele, melhor esse destino do que uma criança solta por aí… Entenderam? Em defesa, então, da vítima, por que não matá-la? Age do mesmo modo quando recomenda o não casamento de pessoas de “raças ou cores diferentes”. Seria para o bem das criancinhas…
Espantosamente, ele aponta a existência de discriminação racial dentro da sua própria igreja: “(…) temos visto este tipo de problema acontecendo com as crianças dentro das nossas igrejas, em outros países”. Que coisa! O homem que aparece de chicotinho na mão enfrentando ninguém menos do que o demônio deixa claro que não pretende combater o racismo nem dentro dos templos de sua igreja. Ao contrário: já que o racismo existe, melhor se adaptar a ele e evitar a mistura. Tudo para proteger as criancinhas…
É isso aí… A título de registro, deixo aqui alguns vídeos sobre a trajetória deste homem santo e suas afinidades eletivas. Volto depois dos filmes para encerrar.
Aqui, na posse da “mandona” Dilma Rousseff, com direito a conversa ao pé do ouvido e mão no ombro:
Macedo, de chicote na mão, expulsa demônio do corpo de um gay:
Macedo defende que se expulse o feto do corpo da mãe:
Encerro
Eis aí… Edir Macedo é hoje a mais cara joia do “progressismo” dos companheiros. Os petistas o consideram um verdadeiro exemplo a ser seguido. Pouco mais de um ano depois daquela conversa ao pé do ouvido com Dilma, o senador Marcelo Crivella, sobrinho do “bispo”, levou o Ministério da Pesca.
Cadê a Secretaria das Mulheres?
Cadê a Secretaria da Igualdade Racial?
Por Reinaldo Azevedo
Fonte: Gospel+