Há aproximadamente três décadas, um ex-guarda de trânsito da Rússia, fundou uma seita dizendo ser a reencarnação de Jesus e passou a atrair seguidores para sua comunidade, na Sibéria. Até ser preso recentemente.
Sergei Torop, que passou a se identificar como Vissarion, fundou a Igreja do Último Testamento após seu “despertar”, que coincidentemente ocorreu após perder seu emprego como guarda de trânsito. Dizendo-se a reencarnação de Jesus, o homem de 59 anos vinha atraindo cada vez mais fiéis e chamou atenção das autoridades russas.
De acordo com informações do jornal The Guardian, soldados russos do serviço de segurança do país, (FSB), contaram com apoio de um helicóptero para levar Vissarion preso. Ele vinha sendo investigado, e será acusado, por gerir uma organização religiosa ilegal que extorquia os seguidores e os sujeitava a abusos emocionais.
Além dele, foram presos dois dos seus auxiliares mais próximos, um deles chamado Vadim Redkin, um ex-baterista de uma “boy band” da era soviética e desde há muito seu braço direito.
Quando fundou sua seita, Vissarion dizia que Jesus cuidava das pessoas a partir de uma órbita próxima à Terra e que a virgem Maria “comandava a Rússia”. No entanto, com o passar dos anos, o discurso foi mudando até a fase em que passou a dizer que era a última reencarnação de Jesus.
“Eu não sou Deus. E é um erro ver Jesus como Deus. Mas eu sou a palavra viva de Deus pai. Tudo o que Deus quer dizer Ele diz através de mim”, disse ele em 2002.
Vissarion foi um dos místicos que surgiram no início dos anos 1990 após a queda da União Soviética, quando o vazio ideológico diante do fracasso do comunismo abriu espaço para novas percepções de mundo. Entretanto, ao contrário de outros, Vissarion resistiu ao tempo.
Com o cabelo comprido e longas barbas, criou uma imagem que replicava a figura atribuída a Jesus nas representações artísticas, e acabou se instalando no sul da Sibéria, literalmente seguido por milhares de ‘fiéis’ que se mudaram para a mesma região. Atualmente o grupo tem cerca de quatro mil pessoas vivendo em assentamentos rurais na região de Krasnoyarsk.
Esses assentamentos se tornaram autossuficientes devido à rígida disciplina imposta, com rotina de trabalho comunitário intensa. Vissarion, juntamente com o seu núcleo mais próximo, vinha vivendo no topo de uma colina chamada “A Casa do Amanhecer”.
Entre os convertidos não estão apenas russos mas algumas pessoas de outros países. Vivem cumprindo uma seleção de ritos extraídos do cristianismo ortodoxo, sendo a comunhão com a natureza uma das filosofias principais.
O veganismo é imposto e a circulação de dinheiro está proibida, tal como o consumo de álcool ou a tecnologia mais moderna. Vestem-se com roupas simples e orientam-se segundo um calendário próprio, contando os anos a partir de 1961 – o ano do nascimento de Vissarion -, tendo o Natal sido substituído por um dia de festa, a 14 de janeiro, a data de aniversário do fundador.
Em maio último, Vadim Redkin disse ao jornal The Moscow Times que os pedidos para receberem mais seguidores tinham triplicado após o início da pandemia por causa do novo coronavírus: “As pessoas estão à procura de algo e sentem-se atraídas pelo nosso estilo de vida. Procuram uma saída para o isolamento e a solidão”, avaliou.