A falta de verbas publicitárias do governo federal, assim como a crise econômica causada pela pandemia de Covid-19, resultou em uma considerável dificuldade financeira para a TV Globo, que vem demitindo muitos artistas de seus quadros, assim como reduzindo salários de outros funcionários. O cenário se agravou ao ponto de a emissora aceitar veicular um comercial de uma igreja.
No último intervalo do telejornal matinal Bom Dia Brasil da última sexta-feira, 12 de junho, uma inserção chamou atenção da mídia especializada: um comercial da Igreja Cristã Maranata foi veiculado pela emissora.
O texto do comercial era um convite à audiência para que acompanhasse a programação preparada pela igreja nas plataformas digitais. No rodapé do vídeo, uma mensagem indicava que até mesmo o portal G1 fazia parte do informe publicitário de cunho religioso.
“Olá, eu quero te fazer um convite todo especial: neste fim de semana, um programa feito pra você e toda a sua família. A Igreja Cristã Maranata realizou um grande evento, com uma mensagem muito adequada para este momento pelo qual todo o planeta está passando. E neste fim de semana, vamos transmitir o evento na íntegra, para que você entenda o plano de Deus. Domingo, às 10h30 da manhã, nas nossas plataformas digitais”, dizia o representante da igreja no comercial.
Consultada pela jornalista Cristina Padiglione, da Folha de S. Paulo, a emissora da Família Marinho emitiu nota confirmando que veiculou o comercial e que o conteúdo cumpria as exigências da emissora no que se refere à ética.
“A veiculação de campanhas de teor religioso nos intervalos da TV Globo está prevista no Manual de Práticas Comerciais da empresa. No documento, que consolida as melhores práticas, normas legais e éticas que regem as atividades comerciais da companhia, fica claro que: ‘As mensagens de ofícios religiosos limitar-se-ão a convidar fiéis para eventos e serviços litúrgicos, bem como à divulgação dos respectivos local, data e hora’ – tal qual o conteúdo do filme publicitário veiculado”, informou.
O Grupo Globo vem passando por uma política de corte de gastos nos últimos anos, e essa redução de despesas se intensificou desde que o presidente Jair Bolsonaro tomou posse e implementou uma de suas promessas de campanha: reduzir gastos com publicidade, cujas verbas que eram em sua maioria, destinadas às empresas do conglomerado.
Além do corte nos salários de muitos profissionais de primeiro escalão, como os jornalistas William Bonner e Galvão Bueno, e os apresentadores Fausto Silva e Luciano Huck, muitos atores foram demitidos ou não tiveram seus contratos renovados.
Outro detalhe envolvendo a crise que a empresa atravessa foi o encerramento das atividades da Rádio Globo em São Paulo, após 68 anos de sua inauguração. Em 2018, a emissora havia inaugurado um novo estúdio, inaugurando uma nova programação, mas a queda de audiência levou a emissora a optar por fechar as portas.