O historiador americano Andrew Chesnut comentou o cenário social e político da América e afirmou que o crescimento dos evangélicos se tornou um fator de forte influência na dinâmica do poder no continente.
Chesnut, autor de dezenas de livros e artigos sobre o crescimento das igrejas, em especial as pentecostais e neopentecostais, acredita que uma das “tendências” para os próximos anos na política nas Américas seja a ampliação de valores conservadores.
Recentemente, a senadora Jeanine Añez, que assumiu a presidência da Bolívia de forma interina após a renúncia do esquerdista Evo Morales – acossado pela população diante de uma fraude clamorosa nas eleições presidenciais -, disse que “a Bíblia voltou ao palácio”, indicando que o respeito aos valores cristãos da maioria da população boliviana fará parte da realidade no país.
A Bolívia, em especial, viveu momentos de tensão meses atrás quando Morales, ainda gozando de força política, colocou em marcha um projeto que tinha claros contornos de perseguição religiosa aos evangélicos do país.
“A Bolívia, é interessante, porque é um país mais predominantemente católico que o Brasil. Na faixa de 70% dos bolivianos ainda são católicos. Mas, na retirada de Morales do poder, vimos uma forte influência evangélica”, avaliou o especialista.
Para o historiador, a força evangélica é inegável: “Até no México, onde a população pentecostal é pequena, de apenas 8%, um partido político fundado por um pastor pentecostal ajudou a eleger o atual presidente do país, Andrés Manuel Lopez Obrador”, disse Chesnut à BBC News Brasil.
“A influência política evangélica é uma das tendências políticas mais importantes das últimas quatro décadas no continente americano”, acrescentou ele, que é professor na Virginia Commonwealth University.
Autor do livro Born Again in Brazil: Pentecostal Boom and the Pathogens of Poverty (“Nascido de novo no Brasil: a explosão pentecostal e a patogenia da pobreza”, em tradução livre), Andrew Chesnut acredita que são diversos os fatores que explicam o crescimento dos evangélicos nos países latino-americanos.
Para ele, esses fatores passam por coesão ideológica entre os evangélicos, o que facilitaria alianças no âmbito político; Costumes adotados nas igrejas evangélicas serem “condizentes” com aspectos da cultura da América Latina; Adoção de regras menos rígidas para a formação de sacerdotes, permitindo ascensão dos mais pobres a postos de liderança; Criação de redes de apoio em comunidades carentes; e, por fim, a alta capacidade desse segmento em ecoar pensamentos compartilhados por setores conservadores de classes sociais mais abastadas.
“Dentro do catolicismo você tem setores conservadores, ligados ao Opus Dei, por exemplo, e mais progressistas, como os membros da teologia da libertação. Então, há mais diversidade e isso torna a tarefa de fazer uma aliança católica mais difícil. Já os evangélicos são mais homogêneos politicamente. Isso facilita a união e as alianças para eleger determinados políticos”, resumiu o historiador, que se dedica a estudar os evangélicos pentecostais há 25 anos.