O padre Cícero Romão Batista, cearense, ícone dos católicos da Região Nordeste e popularmente conhecido como “padim Ciço”, foi perdoado pelo Vaticano das acusações de heresia.
Em 1889, padre Cícero passou a ser punido pela Igreja Católica após alegar que havia vivenciado um milagre por que uma hóstia teria sangrado na boca de uma beata. “Padim Ciço”, então, teria dado um pano para a fiel limpar a boca, e passado a mostrar o sangue como se fosse o sangue do próprio Cristo.
Nos dois anos seguintes, o fato teria se repetido, o que gerou novas punições, até que em 1892 ele foi impedido de oficiar missas por 24 anos. Especula-se que o sangue expelido pela beata fosse resultado de tuberculose.
Mesmo afastado da sacristia, o padre Cícero ganhou fama de milagreiro, passou a atuar na política, sendo eleito prefeito de Juazeiro do Norte (CE) em 1911 pelo Partido Republicano Conservador. Permaneceu no cargo por 15 anos, e em 1926 foi eleito deputado federal, mas não assumiu o mandato, e morreu em 1934, aos 90 anos.
Ao longo da vida política, enriqueceu, acumulando imóveis, grandes extensões de terra e milhares de cabeças de gado.
Agora, nove anos após um apelo do bispo dom Fernando Panico, da diocese de Crato (terra natal de Cícero), o papa Francisco enviou uma carta reconhecendo que não existem motivos para que o religioso não tenha sua condição perante a Igreja Católica reabilitada.
De acordo com o jornal O Globo, Francisco reconhece ainda que, caso os critérios estabelecidos para beatificação e/ou canonização sejam atingidos, “padim Ciço” poderá alcançar status de santo católico, mas frisa que a mensagem pregada através da figura do religioso cearense deve ser centrada em Jesus Cristo.
“A presente mensagem foi redigida por expressa vontade de Sua Santidade, o papa Francisco, na esperança de que Vossa Excelência Reverendíssima não deixará de apresentar à sua diocese e aos romeiros do padre Cícero a autêntica interpretação da mesma, procurando por todos os meios apoiar e promover a unidade de todos na mais autêntica comunhão eclesial e na dinâmica de uma evangelização que dê sempre, e de maneira explícita, o lugar central a Cristo, princípio e meta da História”, dizia trecho da carta enviada pelo secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin.
A história do padre Cícero atrai, todos os anos, 2 milhões de romeiros à cidade de Juazeiro do Norte. Armando Lopes, chanceler da diocese de Crato, comemorou a decisão do papa: “Com o perdão e reconciliação, fica entendido que padre Cícero não errou. Todas as punições foram suspensas. A Igreja entendeu que sua pregação estava no caminho certo, e por isso a devoção a ele continuou crescendo durante todos esses anos”, concluiu.