Assaltantes armados fizeram com que a fé fosse trocada pelo pânico em uma igreja evangélica da Asa Norte. Na noite de domingo, mais de 50 pessoas tiveram dinheiro e jóias levados por dois homens encapuzados que invadiram o culto e usaram a toalha do púlpito para levar o produto do roubo. Os ladrões fugiram em um Fiat Tipo cinza ou azul claro e são procurados pela Polícia Civil, que promete dar atenção especial ao caso.
O culto da igreja Presbiteriana Independente, na 610 Norte, estava quase acabando quando os assaltantes chegaram. Faltavam 15 minutos para que os fiéis fossem para casa, às 21h, mas eles tiveram que ficar mais tempo: dois homens bem vestidos, usando máscaras e luvas, entraram gritando. Exigiam que todos ficassem longe dos telefones celulares. Armados, ameaçaram os fiéis, entre os quais várias crianças, e se dirigiram principalmente ao pastor.
As vítimas atenderam todas as ordens dos bandidos e ficaram reféns por mais de 20 minutos, enquanto eles recolhiam os pertences. O presidente do Conselho dos Pastores de Brasília, Josimar Francisco da Silva, afirma que não há registros desse tipo de ocorrência nas igrejas evangélicas do Distrito Federal. “O que nos preocupa são os furtos. Muitas igrejas são vítimas de bandidos que arrombam portas e janelas à noite, normalmente em busca da aparelhagem de som, mas um arrastão assim é a primeira vez”, garante. “Esse é um caso muito preocupante, absurdo até. Nós pedimos às autoridades que prestem mais atenção à nossa segurança”, roga.
O pastor informa que várias igrejas têm adotado mudanças nos horários dos cultos – que normalmente são noturnos – pensando na segurança dos fiéis. “Na minha igreja, que fica no Lago Norte, por exemplo, nós adiantamos em duas horas. Acabava às 22h e agora acaba às 20h. Tememos que os fiéis sejam assaltados”, informa. A Secretaria de Segurança Pública foi procurada pela reportagem e informou, por meio da assessoria de comunicação, que não existem estatísticas referentes a crimes contra templos religiosos.
Fiéis da igreja Presbiteriana ouvidos pelo Correio disseram que os assaltantes não foram violentos durante a ação, pelo menos não fisicamente. O pastor, que preferiu não se manifestar, foi quem ouviu a maioria dos insultos e ameaças. O público, no entanto, não ficou imune. Quem não tinha muito a entregar para os bandidos era hostilizado. “Só isso? Como uma crente do Plano tem tão poucas jóias?”, teriam dito. Após mais de 20 minutos de ação, os dois usaram a toalha que cobria a mesa da entrada da igreja e embrulharam os produtos do roubo. Do lado de fora, pelo menos um comparsa os esperava dentro do carro em que fugiram. Com medo de represálias, nenhum dos entrevistados quis divulgar o nome, mas todos disseram confiar em Deus e prometem continuar apegados aos princípios religiosos.
O local onde fica a igreja, que é alugada, não oferece muita segurança. Pela frente há uma cerca baixa. Pelos fundos, um portão aberto de fácil acesso. Apenas uma pessoa vigia a área, onde funciona uma faculdade de teologia, à noite. No momento do assalto, a pessoa não estava no local. Funcionários da faculdade disseram à reportagem que o terreno é ponto de passagem para indivíduos que querem ir da via L2 até um acampamento de moradores de rua que fica logo abaixo, na L3, para comprar drogas.
depoimento – Vítima dos criminosos
“Capuz escondia o rosto”
O pastor estava fazendo o sermão quando eu percebi que passou um homem de camisa amarela. Não dei atenção, mas ele voltou, já com uma meia na cabeça, quando uma irmã da igreja Metodista que nos visitava começou a fazer a oração final. Estava armado com um revólver grande, prateado. Veio junto um outro, de camisa azul, com um revólver preto e uma balaclava escondendo o rosto.
Eles disseram para todo mundo ficar quieto que nada ia acontecer. Falaram para colocar o celular no chão, tirar o dinheiro da carteira e as jóias. Um deles foi indo de pessoa em pessoa para pegar as coisas. Demoraram mais de 20 minutos.
O próprio reverendo sugeriu que eles pegassem a toalha azul que estava na mesa de entrada, para levar as coisas. Não sei o valor que foi levado, mas foi muita coisa. Levaram um laptop da igreja que deve valer uns R$ 2 mil, os celulares e o dinheiro de todo mundo.
Um irmão que estava chegando quando eles saíram disse que eles foram embora em um Fiat Tipo cinza ou azul claro.
Ameaças intimidam fiéis
Após roubarem jóias, celulares e o dinheiro das pessoas, os bandidos disseram que voltariam para colocar fogo no prédio e matar todos os fiéis caso fossem denunciados. “É o modo de atuação de todos os assaltantes. Um jeito de intimidar as vítimas”, avalia Antônio José Romeiro, delegado titular da delegacia da Asa Norte (2ª DP). “Me surpreenderia se eles cumprissem a ameaça, mesmo porque o objetivo desse tipo de criminoso é o lucro. O homicídio é um crime muito mais grave e eles sabem disso”, completa.
Ainda assim, as palavras dos bandidos amedrontaram os fiéis. Até ontem, apenas duas pessoas haviam prestado queixa pelo assalto. Romeiro pede que as outras vítimas compareçam à delegacia porque o foco da investigação será nos objetos roubados. Por isso, enfatiza, é importante que eles sejam detalhados.
“Como eles estavam mascarados e usavam luvas, não haverá retrato falado nem impressões digitais”, explica. “Por isso vamos buscar as jóias, os telefones e todos os outros objetos roubados. A investigação não será fácil, mas vamos dar prioridade porque o caso é muito grave”, promete o delegado, que também não tem conhecimento de outras ocorrências do tipo no Distrito Federal.
O poder público precisa prestar mais atenção nas pessoas que saem de casa aos domingos para reuniões religiosas”, diz outra testemunha da ação dos bandidos, que preferiu não se identificar.
Fonte: Correio Braziliense
Via: IPI do Cruzeiro