O crescimento das igrejas evangélicas no Brasil tem preocupado setores da esquerda política nacional, incluindo alguns pastores progressistas, segundo o teólogo Guilherme de Carvalho. Isto, realmente, não é por acaso, considerando o grande salto no número de templos nos últimos 20 anos.
De acordo com dados levantados pelo Centro de Estudos da Metrópole (CEM), da Universidade de São Paulo (USP), o Brasil registrou um aumento de 543% no número de templos evangélicos entre 1990 e 2019.
No primeiro ano da métrica, em 1990, haviam 7.033 templos no país, enquanto que em 2019 já haviam 109.560. Esse montante corresponde aos diferentes segmentos do protestantismo nacional, incluindo denominações históricas como a Batista, Presbiteriana, Luterana e Metodista, a pentecostal centenária Assembleia de Deus e outras como a Quadrangular e Deus é Amor, assim como as neopentecostais de origens variadas.
Impacto social
Para o pesquisador Victor Silva, autor do estudo “Surgimento, trajetória e expansão das igrejas evangélicas no território brasileiro ao longo do último século”, o crescimento dos evangélicos no país pode estar relacionado ao impacto social que essas denominações têm feito nos últimos anos.
“As igrejas evangélicas conseguiram se adaptar mais rapidamente às necessidades dessas populações periféricas e passaram a oferecer uma rede ampla de apoio às famílias de baixa renda. Os cultos passaram a integrar elementos da cultura local, o que tornou o culto mais aprazível e interessante para jovens, adolescentes e grupos marginalizados”, disse ele à BBC.
A importância das igrejas para a melhoria de vida da população também foi destacada pela especialista em Estudos da Religião e professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Nisa Rosas.
Rosas lembrou do quanto as igrejas evangélicas têm atuado, por exemplo, na transformação de famílias que possuem membros com problemas como dependência química. Só o projeto Cristolândia, por exemplo, mantido pela Convenção Batista Brasileira (CBB), já atendeu mais de 130 mil pessoas desde a sua fundação.
Mas para Rosas, esse suporte vai além, impactando a vida dos fiéis como um todo. “É comum o relato de pessoas que abandonaram a bebida, outros vícios, se voltaram ao cuidado do casamento e da família, se tornaram mais diligentes no trabalho e até conseguiram fazer economias ao ingressarem em uma igreja evangélica”, disse ela.
Ameaça
Todas essas transformações, apesar de positivas, têm causado incômodo em alguns setores, segundo o pastor e teólogo Guilherme de Carvalho, que fez uma publicação dias atrás a esse respeito.
“Essa liberdade está na mira dos laicistas. Há importantes setores da esquerda nacional que gostariam de tomar ‘providências’ diante da ameaça que o crescimento evangélico coloca à sua hegemonia”, escreveu ele.
Associar o crescimento evangélico a narrativas como a propagação de “discursos de ódio”, por exemplo, parece ter se tornado uma estratégia para a criação de um ambiente de censura e dificuldades burocráticas para a abertura de igrejas no futuro. Para entender, leia também a matéria abaixo:
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