O pastor que ficou internacionalmente conhecido como conselheiro do cantor Justin Bieber afirmou que, a seu ver, a “Igreja pode ser uma das maiores propagadoras de racismo”.
O debate sobre racismo se tornou predominante na sociedade norte-americana, assim como tem ocupado a mídia no Brasil e em diversos outros países ocidentais. Carl Lentz, pastor líder da filial da Hillsong Church em Nova York, concedeu uma entrevista sobre o assunto e afirmou que as igrejas evangélicas nos Estados Unidos são parte do problema.
Lentz participou do programa Uncomfortable Conversations With a Black Man (“Conversas desconfortáveis com um homem negro”, em tradução do inglês) e apresentou seus argumentos sobre sua visão de que a Igreja nos EUA foi cúmplice no racismo.
“Historicamente falando, a pessoa mais poderosa da América é um homem branco religioso. Bem, mais especificamente… o cristão, homem branco”, introduziu Emmanuel Acho, ex-jogador da NFL, que agora é comentarista da ESPN. Em seguida, ele questionou o pastor sobre o porquê da existência do racismo no país, que é majoritariamente cristão.
“É difícil ouvir um pregador pregando se você sabe que esse pregador acredita em sistemas que estão prejudicando seu povo”, disse Carl Lentz. “Portanto, às vezes é mais seguro ir a uma igreja negra [porque] ‘eu não sei se posso confiar em alguém que afirma amar a Jesus e professa me ensinar sobre esse homem, se você fica calado sobre questões que prejudicam meu povo’”, teorizou o pastor.
Quando perguntado por que Lentz acredita que os pastores brancos não foram sinceros sobre o assunto, ele usou o exemplo de uma casa extremamente suja: “Vou deixar minha casa suja, porque dá muito trabalho [limpar]. É o que acontece com o racismo”, simplificou o pastor.
“No momento em que você começa a investigar isso, percebe: ‘Oh, uau, isso vai até o topo. Isso está no coral da igreja, isso está na administração da igreja, isso está na maneira que ensinamos a Bíblia. E há muitos cristãos que partem para limpar a ‘casa’ até descobrirem quão perto de [sua própria] casa [essa limpeza] pode chegar”, argumentou.
“Eu acho que, de fato, pode-se dizer que as igrejas podem ser um dos maiores propagadores da ideologia racista em nosso país”, disparou Carl Lentz. “Há uma diferença entre o seu princípio e a sua prática. Portanto, se meu princípio na Hillsong da cidade de Nova York é ‘nós valorizamos todas as pessoas’, falando na prática, você deve ver isso [acontecendo]”, continuou.
Emmanuel Acho, então, questionou se o pastor se via como parte do problema ou da solução: “Eu me fiz essa pergunta quando George Floyd foi assassinado, e minha resposta foi: ‘Eu sou mais parte do problema do que solução’. Nesse segundo momento, você se depara com uma escolha decisiva de seguir em frente, levantar os braços? Ou se olha no espelho e diz: ‘Nunca mais quero dizer isso de mim mesmo’”.
“Minha posição vem do Antigo Testamento, onde Deus diz ‘eu quero justiça, oceanos dela’. Portanto, a menos que eu faça parte da equipe de oceanos da justiça, não estou fazendo o suficiente. Sou parte do problema. Agora posso dizer que sou parte da solução”, se aprofundou.
Um exemplo citado por ele é que, agora, ele tem ensinado seus três filhos sobre o racismo, ensinando-os que isso é errado: “Ensine o que você sabe, mesmo que seja ‘filho, eu posso ter algumas coisas racistas da maneira como fui criado, mas eu e você estamos nessa jornada juntos’. Essa semente na vida de uma criança tem mais impacto do que qualquer pai poderia imaginar”, disse o pastor, segundo informações do portal The Christian Post.