O cristianismo no Iraque está à “beira da extinção”, afirmou um sacerdote durante um evento sobre religião no grupo das 20 maiores economias do mundo.
O Fórum de Religião do G20 está sendo realizado em Bali, na Indonésia, e conta com a presença de mais de 300 líderes de diversas religiões de diferentes países. O encontro tem como objetivo falar sobre a liberdade religiosa e os riscos que a perseguição oferece.
Nesse evento, o reverendo Bashar Warda, arcebispo de Arbil – quarta maior cidade do Iraque – afirmou que seu país é o exemplo de como a intolerância pode resultar em extinção de uma religião.
O norte do Iraque, assim como o leste da Síria, foi tomado pela facção terrorista Estado Islâmico anos atrás. Essas regiões eram o lar da maioria dos cristãos existentes nesses países, e aqueles que não foram mortos foram obrigados a fugir para salvar a própria vida.
O discurso de Warda, “O Futuro do Pluralismo Religioso: Um Aviso do Iraque”, enfatizou que a “violência sectária” é um problema significativo no Iraque.
“Sem o fim dessa violência sectária, não há futuro para o pluralismo religioso no Iraque, ou em qualquer outro lugar do Oriente Médio”, alertou o reverendo de origem caldeia. “A lógica brutal disso é que, eventualmente, chega-se a um ponto final em que não restam minorias para matar e nem minorias para perseguir”, disse Warda.
“O futuro do pluralismo religioso no Iraque hoje é sombrio. Ao compartilhar com vocês esta experiência, oro para que encontrem em nossa história um aviso claro para todos vocês”, lamentou o bispo católico.
Warda observou que, após cerca de 1.900 anos de existência na região, “nós, cristãos do Iraque, agora nos encontramos à beira da extinção”.
“Nossos ancestrais cristãos compartilharam com os árabes muçulmanos uma profunda tradição de pensamento e filosofia e se engajaram com eles em diálogos respeitosos desde o século VIII d.C. A Idade de Ouro árabe, observou o historiador Philip Jenkins, foi construída sobre erudição caudeia e siríaca”, pontuou o bispo.
“Agora enfrentamos o fim no Iraque, o mesmo fim enfrentado pelos judeus iraquianos antes de nós, e o mesmo fim enfrentado agora pelos yazidis, com quem sofremos tanta dor, ao nosso lado”, disse, referenciando duas minorias religiosas que já foram impactadas de forma praticamente irreversível, segundo informações do portal The Christian Post.
O arcebispo afirmou que existe “uma crise fundamental de violência dentro do Islã” e que “se esta crise não for reconhecida, abordada e corrigida, então não pode haver futuro para os cristãos ou qualquer outra forma de pluralismo religioso no Oriente Médio”.
“De fato, há poucas razões para ver um futuro para qualquer um no Oriente Médio, inclusive dentro do próprio mundo islâmico, exceto no contexto de violência, vingança e ódio contínuos. […] É aqui que nós, cristãos iraquianos, estamos hoje: não esquecendo, mas perdoando. Nossos irmãos e irmãs muçulmanos podem nos seguir nisto, ou sua própria história de violência continuará, destruindo-se eventualmente?”, questionou, concluindo.