O ativista gay e deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) atacou os parlamentares que fizeram duas críticas ao Banco Santander e demais organizadores da exposição Queermuseu, com apologia à zoofilia e pedofilia, durante um discurso na Câmara dos Deputados, e foi rebatido por diversos colegas, incluindo integrantes da bancada evangélica.
Jean Wyllys criticou a postura da sociedade em relação ao caso e alegou que o Ministério Público havia descartado a hipótese de haver apologia à pedofilia e zoofilia nas obras expostas na mostra. Em seguida, atacou os deputados da bancada evangélica que protestavam contra a iniciativa patrocinada pelo Banco Santander.
“O que está havendo aqui é um bando de vendilhões do templo, investigados pela Justiça, querendo utilizar esse caso para abafar seus próprios crimes. Essa gente não tem moral para falar de artista nesse país. Volto a dizer: bando de ignorantes, hipócritas, corruptos”, disse Jean Wyllys.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que conduzia a sessão, alertou Wyllys sobre seus excessos: “Respeite os deputados”, afirmou. Mas, diante da insistência do ex-BBB em atacar os colegas, determinou que parte do discurso fosse apagado dos registros: “Eu peço a retirada das últimas palavras do deputado Jean Wyllys dos anais da Casa”, acrescentou.
O momento de maior tensão foi quando o pastor Marco Feliciano (PSC-SP) expôs fotos da exposição enquanto Wyllys discursava. Irritado, o ex-BBB tomou as fotos da mão de Feliciano e foi contido por outros deputados, enquanto o veterano parlamentar Arolde de Oliveira (PSC-RJ) o repreendia por seu comportamento.
Outro que fez duras críticas à decisão do banco em patrocinar a mostra foi o deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), membro da bancada evangélica, da Assemebleia de Deus Vitória em Cristo (ADVEC) e afilhado político do pastor Silas Malafaia.
“Prática de crime. Vilipêndio à fé alheia, e também a prática mais profana de crime chamada pedofilia. O Santander deve, sim, desculpas à população brasileira. Isto aqui não pode ser tolerado por uma sociedade plural que respeita a tudo e a todos. Nós precisamos, de maneira efusiva nesta Casa, deixar claro que o Santander precisa agora investir R$ 800 mil do dinheiro daquele banco, para apoiar crianças que foram abusadas por pedófilos neste Brasil nosso”, comentou.
Marco Feliciano voltou a discursar e pediu que o banco sofresse consequências de sua decisão: “O Santander não deve ser apenas punido. Deve ser punido com muito rigor. As pessoas que têm conta no Santander deveriam bloquear as contas desse banco, que deveria reembolsar esses R$ 800 mil aos cofres públicos e assim fazer que a Justiça seja feita”, afirmou.
Por fim, Feliciano aproveitou a oportunidade para novamente provocar Wyllys, seu adversário histórico na Câmara: “Eu parabenizo o deputado Jean Wyllys, que tem muita coragem de defender aqui sua posição, mas é difícil defender o indefensável. Isso foi canalhice e cara de pau”.
Senado
O senador Magno Malta (PR-ES) discursou no Senado para expressar sua indignação com o conteúdo da exposição Queermuseu, e salientou que a verba usada na produção da mostra tinha origem na Lei Rouanet, mecanismo em que o governo autoriza que uma empresa use parte do imposto devido para patrocinar eventos culturais diversos.
“Renúncia fiscal é como renunciar a uma creche, uma UPA, dinheiro de saúde, de segurança pública. Eles fizeram uma exposição que é um verdadeiro acinte a uma sociedade majoritariamente cristã. Com agressões abertas ao cristianismo, às famílias, e às crianças”, explicou.
Malta mostrou fotos da exposição e afirmou que o escârnio com a figura de Jesus Cristo era um limite que não deveria ser ultrapassado: “Eu gostaria de vê-los fazer isso aqui com Maomé. Se vocês são tão corajosos, mexam com o islã. Coloquem Maomé aqui e façam a mesma coisa”, instigou.
Sobre as cenas que representam zoofilia, o senador capixaba disse duvidar até mesmo que os colegas parlamentares de esquerda aprovem o que a exposição incentivava.
“Aqui está: uma mulher tendo coito com um porco. A prática da bestialidade, da zoofilia. Aqui, uma mulher segura para que um homem tenha coito anal com um carneiro. Uma ‘exposição cultural’, promovida pelo Santander. Eu vou mostrar aos senhores, que têm netos… Eu duvido que isso seja uma pauta de esquerda, de senadores que têm filhos, netos”, afirmou.
“O maior investidor do Santander é George Soros, esse canalha que tem andado pela América Latina patrocinando a legalização do aborto”, contextualizou, em outro momento do discurso, fazendo referência ao bilionário investidor que dedica a vida e a fortuna a fomentar ideais de extrema esquerda no mundo.
Racismo
Magno Malta chamou atenção para uma das cenas de um dos quadros mais polêmicos da mostra, em que um negro é representado numa situação de sexo a três, em que dois homens brancos aparecem como “ativos”, em uma cena que sugere abuso.
“Agora, os que defendem os negros… Eu sou negro, [senador Paulo] Paim (PT-RS) é negro; Romário (PODEMOS-RJ) é negro. Aqui um negro sendo obrigado a fazer sexo oral e anal com dois homens brancos. Porque não é o branco no meio dos dois negros. Cadê os defensores dos negros? Tá aqui, exposição do Santander”, queixou-se.
“Povo do Brasil, fechem o Santander, porque isso não é arte, é artimanha”, disparou, encerrando seu discurso.
Nazismo
Durante um programa de bate-papo, com a presença do jornalista Leonardo Sakamoto, ativista de esquerda, e Guilherme Boulos, ligado à Coordenação Nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, Jean Wyllys comparou a repulsa popular à exposição Queermuseu ao nazismo.
O deputado questionou se o próximo passo seria “queimar livros” e, curiosamente, sugeriu aos adeptos de sua ideologia a fecharem suas contas no Santander, porque considerava inaceitável um banco ceder à pressão popular.
“Cancelem suas contas no Santander. Você, gay, humanista, ateu, libertário, povo de santo, você, diversidade, que tem conta no Santander, cancele hoje a conta, porque é inadmissível que um banco se preste a isso, a montar uma exposição que tem Portinari, Lígia Clark, [Alfredo] Volpi, uma curadoria em cima da diversidade, ele [banco], cancele isso”, disse Wyllys.