Fábio Porchat anunciou que o próximo Especial de Natal do Porta dos Fundos se chamará Teocracia em Vertigem, e adiantou que o grupo de humoristas seguirá fazendo piadas com a fé alheia.
A declaração foi dada pelo humorista ateu durante discurso pela premiação recebida pelo filme anterior, A Primeira Tentação de Cristo, por parte da Associação Brasileira de Autores e Roteiristas (ABRA). O evento, realizado através de videoconferência, foi transmitido pelo YouTube.
Segundo Porchat, não há “polêmica” em insinuar que Jesus teve uma experiência homossexual após sua provação de 40 dias no deserto: “Ser gay não é um problema, não é uma falha, não é uma questão de caráter. Ser gay é uma característica. Então, Jesus ser gay não depõe contra Jesus. Ao contrário”, disse ele.
“Tenho certeza que se Jesus voltasse, e tenho certeza que já tentou, ele teria voltado gay, travesti, mulher, preta e teria morrido em três dias, e não em 33 anos”, acrescentou Porchat.
O humorista reiterou que manterá o deboche com a fé alheia no próximo filme natalino: “Se tentam nos intimidar falando que a gente não pode falar nada, que a gente não deve tocar neste assunto, fique sabendo que dia 10 de dezembro estreia o especial de Natal do Porta dos Fundos no YouTube, chamado Teocracia em Vertigem. Fiquem atentos porque a gente não se cala. A gente não vai se calar”, disse.
O título do novo filme é uma referência ao documentário Democracia em Vertigem, da cineasta e ativista de esquerda Petra Costa, que sustenta a ideia de que o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) foi um golpe político.
Netflix
O filme A Primeira Tentação de Cristo foi veiculado pela Netflix no Natal de 2019. Para esse ano, a empresa de streaming não repetiu a parceria, o que pode ser uma consequência do repúdio generalizado à empresa registrado no Brasil e no mundo, com diversas petições públicas pedindo a retirada do conteúdo de seu catálogo.
Recentemente, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, de forma unânime, manter a exibição do filme no território brasileiro. Inicialmente, uma decisão liminar do ministro José Antonio Dias Toffoli já havia garantido a exibição, após o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro atender a um pedido da Associação Centro Dom Bosco de Fé e Cultura.
O relator da ação foi o ministro Gilmar Mendes, que decidiu a favor da Netflix a partir de uma jurisprudência estabelecida pelo STF no conceito de liberdade de expressão artística: “Ao analisar os presentes autos, concluo que a obra ‘Especial de Natal Porta dos Fundos: A Primeira Tentação de Cristo’ não incita violência contra grupos religiosos, mas constitui mera crítica, realizada por meio de sátira, a elementos caros ao cristianismo”.
“Por mais questionável que possa vir a ser a qualidade desta produção artística, não identifico em seu conteúdo fundamento que justifique qualquer tipo de ingerência estatal”, resumiu Gilmar Mendes.