A citação à promessa de Jesus sobre a libertação através do conhecimento da verdade tem sido constante da parte do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), que voltou a mencionar João 8:32 na entrevista concedida ao Jornal Nacional na noite da última segunda-feira, 29 de outubro.
Durante a conversa, que durou pouco mais de 12 minutos, Bolsonaro afirmou que irá combater as mentiras, muitas vezes amplificadas pela própria imprensa. “Nós tivemos uma bandeira, baseada em uma passagem bíblica de João 8:32, Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará. Está na hora do Brasil conviver com a verdade”, destacou. “Chega de mentira, chega de fake news”, acrescentou, em resposta a William Bonner sobre supostos “riscos à democracia”.
Bolsonaro também destacou que defenderá o cumprimento da Constituição Federal, em vigor desde 1988, e comparou a carta magna à “Bíblia” no sentido de que todo brasileiro deve obediência à ela.
Renata Vasconcelos abordou o “projeto polêmico de educação sexual nas escolas”, e Bolsonaro – num tom bastante conciliador – afirmou que suas declarações mais fortes contra a militância LGBT se deram em momentos marcados pelo calor da discussão em torno do famigerado programa “Escola sem homofobia”, apelidado de “kit gay” e desenvolvido pelo Ministério da Educação na gestão de Fernando Haddad (PT).
Bonner então falou sobre a liberdade de imprensa, recapitulou que o presidente eleito já havia reconhecido a importância dessa atividade para a democracia, e então questionou se Bolsonaro mantinha sua visão, já que havia dito que desejava se a Folha de S. Paulo desaparecesse. O presidente eleito demonstrou que não tomará nenhuma iniciativa contra os veículos, apenas se manterá firme contra as notícias tendenciosas, e destacou: “Por si só, esse jornal se acabou. Está sem credibilidade nenhuma”.
A co-apresentadora do Jornal Nacional, então, questionou o que Jair Bolsonaro quis dizer com “banir da pátria os marginais vermelhos”. O presidente eleito não titubeou: “Eu estava me referindo à cúpula do PT e do PSOL. O próprio [Guilherme] Boulos [candidato derrotado no primeiro turno] havia, momentos antes, dito que invadiria minha casa por ela não ser produtiva”, contextualizou.
“Vimos o candidato do PT, derrotado, em vídeo dizendo que a crise no Brasil só acabaria quando Lula fosse eleito presidente. Então foi um momento de desabafo, um discurso acalorado, mas não ofendi a honra de ninguém. O que eu quero dizer com aquilo? No Brasil de Jair Bolsonaro, quem desrespeitar a lei, sentirá o peso da mesma contra sua pessoa”, acrescentou.
O presidente eleito também pediu união ao país: “Estamos todos no mesmo barco, Nós precisamos estar juntos. Temos tudo para sermos uma grande nação”, afirmou, fazendo referência à necessidade de por um fim no clima de disputa eleitoral e trabalhar pelo Brasil.
Sobre suas declarações de que pretende convidar Sérgio Moro para atuar numa função de maior destaque no cenário nacional, como ministro da Justiça ou eventual ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) – quando ocorrer a aposentadoria compulsória do decano da corte, Celso de Mello, que se aposentará em 2020 por alcançar a idade limite, 75 anos – Bolsonaro disse que sua ideia é valorizar o trabalho de excelência realizado pelo juiz.
“O juiz Sérgio Moro é um símbolo aqui no Brasil. Eu costumo dizer que é um homem que perdeu a sua liberdade no combate à corrupção. Ele não pode mais ir à padaria sozinho, ou ir passear com sua família no shopping sem ter um enorme aparato de segurança ao lado. É um homem que tem que ter o seu trabalho reconhecido. Para mim – pretendo conversar com ele brevemente, já foi feita essa sinalização positiva. Pretendo convidá-lo para o Ministério da Justiça, ou – seria no futuro – abrindo uma vaga no Supremo Tribunal Federal”, confirmou.
Bolsonaro poderá indicar dois ministros do STF ao longo de seu mandato se não houver imprevistos. Além de Celso de Melo em 2020, em 2021 acontecerá a aposentadoria compulsória de Marco Aurélio Mello. Rumores indicam que a ministra Cármem Lúcia gostaria de se aposentar antes do limite de idade, mas nunca houve uma declaração sua de forma mais clara nesse sentido. Em 2023, já durante o mandato seguinte ao qual Bolsonaro foi eleito em 2018, acontecerá a aposentadoria dos ministros Rosa Weber e Ricardo Lewandowski, que devem deixar o STF em 2023.
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