A disputa política e a presença de personagens do meio evangélico como ferramentas de ataque entre os candidatos à prefeitura de São Paulo serviu de tema para o jornalista Hélio Schwartzman, que publicou em sua coluna do jornal Folha de S. Paulo um artigo a respeito, lamentando a falta de “hombridade” durante a campanha.
Segundo Schwartzman, não fosse a busca por votos, os dois candidatos defenderiam a distribuição do kit gay: “Se Fernando Haddad e José Serra fossem um pouco mais destemidos e não tivessem transformado a busca por munição contra o adversário em prioridade absoluta de suas campanhas, estariam ambos defendendo a necessidade do kit anti-homofobia, como aliás fizeram quando estavam longe dos holofotes sufragísticos, desempenhando funções executivas”, escreveu.
O jornalista afirma ainda que a postura defendida pelo pastor Silas Malafaia não é apreciada pelos candidatos e seus respectivos partidos políticos: “Não é preciso ter o dom de ler pensamentos para concluir que, nessa matéria, ambos os candidatos e seus respectivos partidos têm posições muito mais próximas um do outro do que da do pastor Silas Malafaia ou qualquer outra liderança religiosa”.
O artigo de Hélio Schwartzman pontua ainda que a liberdade de expressão deve ser garantida a todos: “Oponho-me a qualquer tentativa de criminalizar discursos homofóbicos. Acredito que clérigos e skinheads devem ser livres para dizer o que pensam a quem esteja interessado em ouvi-los. Se não gostam de homossexuais, julgam sua conduta pecaminosa ou mesmo escandalosa, não devem ser impedidos de manifestar essas ideias”, e emenda, ressaltando que as pessoas devem ser responsabilizadas em caso de excessos: “Mas, se o Estado democrático é obrigado a respeitar e salvaguardar a liberdade de expressão, isso não significa que ele deva aceitar passivamente qualquer coisa”.
Defendendo a distribuição do kit gay sob o argumento de ser dever do Estado “promover valores republicanos”, o jornalista afirma que “se há grupos que não gostam desse discurso, podem contestá-lo com palavras”, e demonstra crer que o livre-arbítrio é superior às supostas influências do kit gay: “Pelo menos em teoria, jovens, à medida que crescem, vão se tornando mais capazes de comparar argumentos e tirar suas próprias conclusões. É a democracia em ação”.
Confira abaixo a íntegra do artigo “Uma questão de hombridade”, do jornalista Hélio Schwartzman, na Folha:
SÃO PAULO – Disputas eleitorais parecem roubar a hombridade dos candidatos. Se Fernando Haddad e José Serra fossem um pouco mais destemidos e não tivessem transformado a busca por munição contra o adversário em prioridade absoluta de suas campanhas, estariam ambos defendendo a necessidade do kit anti-homofobia, como aliás fizeram quando estavam longe dos holofotes sufragísticos, desempenhando funções executivas.
Não é preciso ter o dom de ler pensamentos para concluir que, nessa matéria, ambos os candidatos e seus respectivos partidos têm posições muito mais próximas um do outro do que da do pastor Silas Malafaia ou qualquer outra liderança religiosa.
Não digo isso por ter aderido à onda do politicamente correto. Oponho-me a qualquer tentativa de criminalizar discursos homofóbicos. Acredito que clérigos e skinheads devem ser livres para dizer o que pensam a quem esteja interessado em ouvi-los. Se não gostam de homossexuais, julgam sua conduta pecaminosa ou mesmo escandalosa, não devem ser impedidos de manifestar essas ideias. Mas, se o Estado democrático é obrigado a respeitar e salvaguardar a liberdade de expressão, isso não significa que ele deva aceitar passivamente qualquer coisa.
O poder público não só pode como deve promover valores republicanos, e um bom lugar para fazê-lo é a escola. Assim como se deseja que professores guiem os alunos pelos fundamentos da álgebra, espera-se que ensinem também as bases do Código Penal, que proíbe agressões, e os rudimentos da civilização, segundo os quais as preferências sexuais de uma pessoa não afetam sua cidadania nem lhe subtraem direitos.
Se há grupos que não gostam desse discurso, podem contestá-lo com palavras. Pelo menos em teoria, jovens, à medida que crescem, vão se tornando mais capazes de comparar argumentos e tirar suas próprias conclusões. É a democracia em ação.
Por Tiago Chagas, para o Gospel+