O julgamento de uma ex-policial que matou um ministro de louvor por confundi-lo com um ladrão virou notícia ao redor do mundo por causa de dois gestos singelos e muito significativos: a juíza que a condenou a 10 anos de prisão dee uma Bíblia de presente, e o irmão da vítima manifestou seu perdão com um abraço. Em meio a tudo isso, ativistas ateus querem processar a magistrada.
O caso da ex-policial Amber Guyger se tornou notícia em setembro de 2018, quando ela chegou ao prédio onde morava após um longo turno de trabalho, e confundiu o apartamento de seu vizinho do andar de baixo com o seu. Ao entrar, deparou-se com “uma silhueta grande”, sacou sua arma e efetuou disparos.
A vítima, Botham Jean, era ministro de louvor e faleceu em seguida após ser socorrido pela própria policial, que ao se dar conta de que estava no apartamento errado, chamou uma ambulância e os policiais que estavam em serviço.
Na última semana, Amber foi julgada pela morte do vizinho e condenada a dez anos de prisão. Ao concluir a sentença, a juíza responsável, Tammy Kemp, se ausentou por um instante do tribunal e buscou um exemplar da Bíblia Sagrada em seu gabinete, entregando à ex-policial.
“Você pode pegar a minha. Eu tenho três ou quatro em casa”, disse a juíza a Amber, antes de aconselha-la, em voz baixa, e recomendar a leitura de João 3:16, recitando o versículo: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que n’Ele crer não pereça, mas tenha a vida eterna”.
Ao ouvir as palavras da juíza, a ex-policial acenou com a cabeça, positivamente. Então, a magistrada acrescentou: “Você só precisa de uma pequena semente de mostarda de fé. Você começa com isso”, afirmou, sendo abraçada pela condenada em seguida.
Amber Guyger sussurrou algumas palavras para a juíza, que respondeu: “Senhora, não é porque eu sou boa. É porque eu acredito em Cristo. Você não fez algo que não pode ser perdoado. Você fez algo ruim em um momento no tempo. O que você está fazendo agora importa”, declarou Tammy Kemp, de acordo com informações da emissora WFAA-TV.
Perdão
O irmão mais novo da vítima, Brandt Jean, pediu autorização da juíza para abraçar a ex-policial ao final do julgamento. Ele disse que era um gesto de perdão, e foi autorizado.
Brandt Jean disse a Amber que ele acredita que seu irmão gostaria que ela entregasse sua vida a Jesus Cristo, e acrescentou dizendo que se ela pedisse perdão a Deus, ela seria perdoada de seu erro fatal.
“Quero o melhor para você. Isso é exatamente o que Botham gostaria que você fizesse, e o melhor seria entregar sua vida a Cristo. Eu te amo como pessoa. Não desejo nada de ruim para você”, disse ele à ex-policial.
“Não sei se isso é possível, mas posso dar um abraço nela?”, perguntou Brandt à juíza, que consentiu. Ao ser abraçada pelo rapaz, a ex-policial não conteve o choro.
O procurador do distrito de Dallas, John Creuzot, um ex-juiz processual, concedeu uma entrevista e classificou o abraço como “um incrível ato de cura e perdão, que é raro na sociedade de hoje […] especialmente para muitos de nossos líderes”.
“Se seu irmão de 18 anos puder expressar a cura dessa maneira em suas palavras e atos, espero que a comunidade maior, não apenas Dallas, mas todo o Texas e todos os Estados Unidos, possa entender a mensagem que há nisso”, disse ele a repórteres.
O prefeito de Dallas, Eric Johnson, declarou que ele também estava “profundamente comovido” pelo gesto de Brandt Jean: “Jamais esquecerei os exemplos incríveis de amor, fé e força personificados […] por todos da família de [Botham] Jean”.
Ativistas ateus
O julgamento, realizado na terça-feira, 01 de outubro, revoltou os integrantes da organização ateísta Freedom From Religion Foundation (FFRF), que dois dias depois apresentou uma queixa contra a juíza Tammy Kemp por seu gesto de ler um versículo bíblico e presentear a ré condenada com um exemplar da Bíblia Sagrada.
Segundo os ativistas ateus, a juíza teria ultrapassado limites éticos do Estado laico, segundo informações do jornal The New York Times. Alguns protestos, inclusive, questionavam se um juiz branco teria o mesmo gesto com um réu negro, já que Tammy é negra e a ex-policial condenada, é branca.
Em resposta à reclamação da FFRF, Hiram Sasser, consultor geral do First Liberty Institute, disse que “a FFRF está protestando contra a juíza Kemp, em vez de se juntar ao resto do país comemorando a compaixão e a misericórdia que a juiz Kemp demonstrou”.
“Todos devemos ser gratos à lei que permite as ações da juíza Kemp e nós a apoiamos e, com prazer, lideramos a defesa de suas ações nobres e legais”, concluiu.