A busca pela justiça social pode facilmente afastar um cristão dos ensinamentos bíblicos, pois a ideia de entronizar valores filosóficos e/ou ideológicos na rotina da Igreja transmite a mensagem de que a mensagem do Evangelho é incompleta. Esse raciocínio foi desenvolvido pelo teólogo e pastor Voddie Baucham Jr numa entrevista recente.
Voddie é pastor na Grace Family Baptist Church, em Spring, Texas (EUA) e também atua como professor de teologia na Universidade Cristã Africana em Lusaka, Zâmbia.
Em entrevista a um programa de rádio apresentado por Glenn Beck, falou sobre o assassinato de George Floyd e as ações do movimento Black Lives Matter, que para ele age de maneira anticristã sob a bandeira do “combate ao racismo”.
Para o teólogo, parte dos cristãos tendem a achar que a Igreja deve abraçar essas pautas, em busca da chamada justiça social, e se terminarem se distanciando do que a Bíblia ensina e prega.
Para conceituar seu argumento, citou o termo grego gnose, que pode ser traduzido como “possuir conhecimento secreto”. Dentro desse contexto, Voddie Baucham se aprofundou sobre o que chamou de “gnosticismo étnico” que é “a ideia de que os negros (e outras etnias, incluindo também os brancos) têm a capacidade de possuir um conhecimento secreto de motivos, intenções e objetivos em situações específicas, como os casos recentes envolvendo policiais e homens negros”.
Para ele, trata-se de algo que, por estar presente no movimento, torna-se crítico no que se refere ao distanciamento da Palavra de Deus: “Temos que entender que nosso conhecimento vem de Deus, que Deus é a fonte de todo conhecimento. […] Entendemos que as Escrituras são suficientes. E nós vamos à Bíblia, para entender a verdade. E olhamos para o mundo do jeito que ele é… Então, como cristãos, esses são os caminhos que buscamos pela verdade. Não através de indivíduos especiais, que têm conhecimentos especiais”.
Justiça social é a falsa religião
Voddie frisou que os líderes dos movimentos que, supostamente, pregam a justiça social, agem como se estivessem à frente de “uma religião”: “Jim Wallis escreveu um livro, e o título de seu livro era Pecado Original da América [Racismo, Privilégio Branco e a Ponte para uma Nova América]. Então, novamente, há conotações religiosas por lá”, exemplificou, referindo-se ao escritor, teólogo e ativista político de esquerda.
“O que me preocupa é que existem problemas reais. O racismo é real. Existe um verdadeiro mal. Existe um verdadeiro ódio. Existe uma verdadeira injustiça. E a resposta para essas coisas é um Deus que salva, através de Jesus Cristo. Essa é a nossa mensagem como cristãos, certo? Ou pelo menos deveria ser”, disse.
O teólogo continuou seu raciocínio apontando que muitos cristãos têm se perdido na procura por respostas fora da Bíblia: “A resposta não é outra senão o perdão que encontramos, através de Deus, em Cristo. Agora a resposta é: de alguma forma, você precisa fazer ‘penitências suficientes’. E tem sido interessante assistir cenas de pessoas brancas, literalmente ajoelhadas, curvadas em arrependimento, você sabe, pelo pecado deles, por terem o ‘privilégio branco’. Ou, você sabe, preconceito. Ou viés consciente. Ou preconceito inconsciente. Ou qualquer outra coisa”, ironizou.
Em sua argumentação, o teólogo insistiu que, exatamente por esses motivos, o movimento que alegadamente luta por justiça social se comprova problemático, mesmo que aparentemente, bem-intencionado: “Essa ‘religião’ está prometendo salvação em algum lugar que não é em Deus. E, infelizmente, há muitos cristãos que parecem satisfeitos com isso”.
Muitos fatores que são elementos definidores desse movimento político terminam por serem ignorados pelos cristãos que embarcam em suas aventuras: “A justiça social busca a redistribuição de recursos e oportunidades. Justiça social não é o mesmo que a ideia bíblica e o conceito bíblico de justiça. Você também precisa entender que a justiça social é construída com base na teoria crítica. Ela se baseia na ideia de hegemonia e estruturas de poder”.
Divisões
A essa altura, o apresentador Glenn Beck fez uma intervenção, descrevendo esse aspecto como “um mundo invertido, contrário ao que Deus quer”, e destacou que as pessoas parecem “querer se dar bem” no âmbito pessoal como consequência de ajudar a situação, quando apesar de toda solidariedade, também estão sendo acusadas de serem causadoras do sofrimento que combatem. “Isso não faz sentido para mim”, resumiu ele.
Em resposta, Voddie Baucham agradeceu o adendo: “Acho que você encontrou algo muito importante quando diz que não faz sentido para você. O que está acontecendo é que as pessoas estão tendo duas discussões diferentes. E elas não percebem isto”.
“As pessoas olham para casos, por exemplo, como a morte de George Floyd e veem essa situação trágica. E por um lado, há essa compensação universal sobre o que aconteceu. Mas então o que acontece? As pessoas estão explicando isso, de duas maneiras diferentes. Algumas pessoas dizem: ‘veja, existe o racismo’. E há outras pessoas que estão dizendo: ‘espere, você sabe, havia quatro oficiais. Dois negros, um asiático e o oficial branco que fez isso, como declaramos que isso é racismo?’”, explicou.
”O que é um exemplo disso são essas duas visões de mundo concorrentes. Uma visão de mundo, que diz ‘o racismo é individual; é uma questão individual do coração’. E é nesse mundo que lidamos com a questão do coração individual, com a mensagem do Evangelho. Mas há outra visão de mundo que diz: ‘não, não, não, não, independentemente da questão individual do coração, esta é uma questão estrutural e institucional’. Portanto, é isso que confunde as mentes das pessoas. Às vezes, eles dizem que não importa quais são os fatos do caso. Isso é evidência de racismo estrutural e institucional. E o que isso está fazendo é separar as pessoas. Como estamos tendo duas conversas diferentes, isso não faz sentido um para o outro”, avaliou.
Por fim, o teólogo – que é negro – relatou ter sido atacado por se posicionar de maneira crítica a respeito desses movimentos: “Quando você fala sobre isso de uma maneira geral, as pessoas tendem a pensar ‘oh, você simplesmente não tem empatia; você simplesmente não tem compaixão; você simplesmente não entende o quão ruim isso é’. Eu, que cresci em um ambiente infestado de drogas, de gangues em Los Angeles, nascido em 1969. Cresci durante a era do crack, durante a guerra às drogas, filho de uma mãe budista. Eu não fui criado no cristianismo. Nunca ouvi o Evangelho na minha infância e adolescência, até que cheguei à universidade”, contestou.
“Por isso não entendo quando as pessoas tentam me excluir desse debate. Eu já fui abordado de forma truculenta pela polícia, porque simplesmente estava sentando na calçada, no lugar errado na hora errada. Eu sei que esse tipo de coisa acontece. E, no entanto, ainda digo, que essas ideologias são venenosas”, enfatizou Voddie.
Ele acredita que os cristãos devem abrir mão de mensagens que apontam para uma salvação que não seja o Evangelho de Jesus, e que estas bandeiras “precisam ser confrontadas” porque “essas ideologias realmente comprometem nossa mensagem, como cristãos”.
“Estou preocupado com as pessoas. Estou preocupado com a justiça. Estou preocupado com almas. E eu sei de onde essas coisas vêm. Eu entendo de onde elas vêm. E não estou disposto a escrever a minha própria Bíblia. Mas não aceito o fato de alguém me forçar a concordar com certas coisas, simplesmente porque, se eu não o fizer, irão me rotular. Eu não poderia me importar menos com as pessoas me rotulando e me chamando de nomes. Eu sei quem eu sou diante de Deus. Minha consciência está limpa”, encerrou, conforme informações do portal FaithWire.