O pastor, teólogo e escritor Yago Martins concedeu uma entrevista ao jornalista Paulo Polzonoff Júnior sobre a liberdade como conceito indispensável para a sociedade, com ênfase no ambiente religioso, e afirmou que o direito dos cristãos pregarem contra a homossexualidade deve ser preservado.
A prerrogativa usada por Yago Martins para fazer a afirmação politicamente incorreta é uma defesa dos próprios interesses da comunidade LGBT, uma vez que se o direito ao discurso religioso for tolhido, essa mesma “espada” pode ser erguida contra esse grupo social em um cenário político diferente do atual.
A argumentação do pastor foi construída a partir de uma constatação: “Todos nós, enquanto sociedade, estamos retrocedendo. As pessoas devem ter o direito de acreditar no que quiserem acreditar. Um Estado laico significa que nenhum grupo religioso tem poder sendo concedido pelo Estado mais do que a outros, o que se manifesta muito claramente no Brasil. A gente tem um ambiente de liberdade religiosa muito bem estabelecido, mas tudo é sempre muito frágil”, introduziu.
Yago Martins lembrou que “por mais que a liberdade religiosa nos seja dada de forma impreterível na nossa Constituição, a gente também tem várias ações do Ministério Público indo em direção a líderes religiosos, contra suas liberdades de crença, por causa de opiniões e ideias que são simplesmente aplicação do próprio ideário religioso”.
Provocado pelo jornalista da Gazeta do Povo, Yago afirmou que a percepção de muitas pessoas é que “a liberdade religiosa parece algo restrito apenas àquele grupo fanático que quer liberdade religiosa para poder falar mal de gay”, mas o conceito é muito mais amplo e profundo. “É essa a imagem que o pessoal tem. Para poder ofender mulheres e tirar delas o direito sobre o próprio corpo, e essas coisas assim. Mas, liberdade religiosa é baseada na ideia de que sua crença é inviolável”, resumiu.
“Veja, as pessoas dizem que morrem de medo de uma teocracia no Brasil. […] Se você tem esse medo real, de que religiosos apareçam e criem um conto da Aia, um The Handmaid’s Tale no Brasil, um tipo de teocracia que cerceia suas crenças, qual é a alternativa para isso, então? É cercear a crença do religioso?”, questionou.
Homossexualidade
O tema que incomoda grande parte da comunidade LGBT é recorrente no mundo atual justamente por conta do alto grau de presença dessa minoria na mídia.
Embora a homossexualidade não seja o único pecado contra o qual as igrejas pregam, há um movimento por parte de setores políticos com propósito de censura, e Yago Martins define esse fenômeno como um risco para a liberdade como um todo.
“Se dentro de uma meta-ética própria do ambiente religioso eu acredito que uma prática é pecaminosa, veja, eu não estou dizendo que essa pessoa tem que apanhar, que tem que sofrer, que tem que invadir terreiro e quebrar tudo, que tem que dar com o pau na cabeça do homossexual”, constatou.
“Se eu estou simplesmente dizendo que aquela prática não é aprovada pela vida de fé que você escolheu participar, por que esse discurso tem que ser tolhido socialmente? Por que é que o Ministério Público tem que investigar pastor porque ele fala contra a auto-determinação sexual?”, questionou o pastor.
As igrejas praticam sua liberdade religiosa de forma a não interferir na integridade daqueles que a rejeitam: “A partir do momento que esse discurso é calibrado com graça, com misericórdia, com a ideia de que a gente não pode ser violento contra essas pessoas, você está na esfera do discurso e da percepção antropológica”, argumentou o pastor.
Em seguida, Yago enfatizou que “a mensagem cristã é uma mensagem de graça e de misericórdia, que condena todo mundo”, e exemplificou: “Se tem uma coisa que o cristianismo sabe, é dizer que a gente é pecador, falho. Ele condena os adúlteros, os orgulhosos, preguiçosos, os lascivos, os que querem ficar ricos. Nós somos condenados de muitas formas”.
“Há um grupo específico, que está dentro de uma pauta política, uma agenda social muito bem manifesta, e se ofende, diz que nós devemos ser tolhidos na nossa liberdade de pregar, isso e aquilo outro. Isso é loucura, porque se a espada for colocada em outro pescoço, se o governo do momento for mais afeito aos ideais cristãos, essa postura de cerceamento de ideia vai se levantar contra os cerceadores. E eles querem isso? Não”, reiterou.