O pastor John Piper falou sobre livre-arbítrio em seu podcast e afirmou que a ideia de que o ser humano tem autonomia total para fazer escolhas é filosófica, e não bíblica.
O assunto foi proposto por um ouvinte que citou a passagem de Jeremias 24.7 para afirmar que sua compreensão do texto indica que as pessoas são livres para nutrir desejos humanos e fazer escolhas na direção dessas preferências.
Partindo desse ponto, Piper respondeu ao ouvinte esclarecendo que “a maioria das pessoas tem visões muito diferentes do que significa livre-arbítrio”, o que dificulta a conversa sobre o tema.
Entretanto, o pastor foi enfático: “Eu certamente não acredito que exista algo como o livre-arbítrio humano definido como autodeterminação decisiva”.
Tomando como base o relato do Jardim do Éden em Gênesis, o pastor definiu seu ponto de partida argumentativo: “Como as pessoas podem ser livres, já que a Bíblia diz que estão mortas em delitos (Efésios 2.5), escravas do pecado (Romanos 6.20), sob o domínio do pecado (Romanos 3.9), cegas para a realidade espiritual (2 Coríntios 4.4), endurecidas contra Deus (Efésios 4.18) e incapazes de se submeterem a Deus (Romanos 8.7)?”.
“Essas pessoas mortas, escravizadas, dominadas, cegas, duras e impotentes têm liberdade de vontade, porque isso significa que elas são livres para fazer e acreditar no que mais desejam – ou seja, o pecado. Isso é o que elas são livres para fazer. E eu concordo que, se vamos sustentar que a vontade é livre, essa é a definição que devemos usar. Então, falar de livre-arbítrio, então, é falar de uma vontade que é livre para fazer e acreditar no que mais deseja – mas não é livre para desejar a Deus acima de tudo”, pontuou Piper.
O pastor acrescentou que há uma “abundância de textos bíblicos que descrevem a escravidão da vontade e a necessidade da graça soberana para tirar uma pessoa da morte espiritual para a vida e a fé”.
“Por exemplo, em Efésios 2.5-6, Paulo não diz que, quando estávamos espiritualmente mortos, Deus nos deu uma espécie de regeneração pela metade, onde agora, naquele novo estado de vida pela metade, fornecemos a nós mesmos o ato de fé decisivo e autodeterminado – o ato de produzir o desejo mais forte por Jesus que nos empurra para além da linha para crer. O que Paulo diz é que, enquanto estávamos mortos, Deus não apenas nos deu vida, mas também nos ressuscitou com Cristo e nos assentou ‘com ele nos lugares celestiais em Cristo Jesus’. Em outras palavras, a ação de Deus é decisiva – desde a morte, passando pela ressurreição espiritual, até nossa posição firme e salva na presença de Deus em Cristo. Existem muitos textos que ensinam a mesma coisa sobre a graça soberana”, argumentou o pastor.
O pastor completou seu raciocínio dizendo que “o livre-arbítrio, entendido como o poder da autodeterminação final ou decisiva, não é ensinado em nenhum lugar da Bíblia”, o que torna essa ideia um erro teológico.
“Nem um único versículo, nem um único texto ensina que existe algo como o poder da autodeterminação humana final. Então, de onde vem essa ideia de que devemos ter a autodeterminação final? Vem de uma pressuposição filosófica que as pessoas trazem para a Bíblia. A pressuposição filosófica é que, se não tivermos a autodeterminação final, não podemos ser responsabilizados por nossas próprias crenças e ações diante de Deus. Bem, a Bíblia simplesmente não afirma essa pressuposição”, enfatizou, segundo a tradução do portal Voltemos ao Evangelho.
John Piper concluiu sua argumentação dizendo que “a Bíblia ensina que Deus tem caminhos que não entendemos e que Ele sabe como governar todas as coisas, inclusive a vontade humana, de tal forma que somos verdadeiramente responsáveis, verdadeiramente passíveis de prestação de contas – e Ele, ao mesmo tempo, é verdadeiramente soberano”.