No primeiro debate presidencial do segundo turno das eleições 2022, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reagiu a uma pergunta feita pelo presidente Jair Messias Bolsonaro (PL), onde o mesmo declarou ter sentido “muito orgulho” por ter estado com o ditador Daniel Ortega, da Nicarágua.
Na ocasião, Bolsonaro perguntou ao ex-presidente se ele considera Ortega um amigo político, citando casos de perseguição sofridos por líderes cristãos no país. Conforme o já noticiado pelo GospelMais, igrejas contrárias ao governo têm sido fechadas pelo regime ditador.
Lula, por sua vez, buscou se evadir da pergunta do presidente Jair Bolsonaro, colocando a truculência ditatorial de Ortega em dúvida ao iniciar a sua resposta utilizando o pronome “se”.
“Se o Daniel Ortega está errando, o povo da Nicarágua que puna o Daniel Ortega”, disse o petista, com destaque nosso. Antes, também, Lula lembrou que esteve nas comemorações dos 30 anos da queda do regime ditatorial de Anastasio Somoza, que durou na Nicarágua do ano 1937 ao 1979.
“Eu senti muito orgulho de no dia 19 de julho de 1980 ir participar da comemoração do aniversário da Revolução Sandinista que derrubou um ditador chamado Somoza, de 30 anos”, afirmou o ex-presidente.
Vereadora reage
A vereadora Sonaira Fernandes (Republicanos-SP), membro da Igreja Assembleia de Deus que vem tendo o seu nome bastante popularizado nas redes sociais, reagiu à fala de Lula. Para ela, o petista disse se orgulhar de algo que acabou resultando na “morte de milhares de pessoas”.
“Lula afirmou ter orgulho de ter participado da revolução Sandinista na Nicarágua, uma tomada violenta de poder marcada pela morte de milhares de pessoas, incluindo padres, e que marcou a chegada de Daniel Ortega ao poder pela primeira vez”, disse ela em sua rede social.
Ex-aliado preso
Se houve algum motivo de orgulho pela Revolução Sandinista no passado, a realidade atual é completamente outra. Em uma análise publicada pela revista Envío, da jesuíta Universidade Centro-Americana, o ex-aliado de Ortega, Hugo Torres, comentou a situação do seu país.
“Daniel Ortega se apropriou do partido da revolução, a Frente Sandinista, a desnaturalizou e a transformou no seu partido, em um partido familiar. O mesmo que Ortega fez com a FSLN, privatizando-a e transformando-a em instrumento a serviço de seus interesses, fez com todo o Estado. Hoje, todas as instituições do Estado estão subordinadas politicamente à sua vontade”, disse ele, segundo o El País.
Torres é uma das três figuras que atuaram ao lado de Ortega pela derrubada de Somoza, mas que agora são consideradas inimigas do ditador, por isso foram presas. Os outros dois nomes são Dora María Téllez e Víctor Hugo Tinoco.
Ainda de acordo com Torres, atualmente, “a subordinação que Ortega obteve nas instituições é maior que a obtida por Somoza, porque nos tempos de Somoza havia algum grau de independência no Poder Judiciário”.
Isto é, na prática, a Revolução Sandinista da qual Lula disse sentir “muito orgulho” não foi suficiente para instaurar a democracia na Nicarágua, uma vez que a mesma figura que lutou contra Somoza, no passado, agora também atua de forma ditatorial e ainda mais autoritária: Daniel Ortega! Assista:
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