Evangélicos da Nicarágua foram impedidos pela ditadura de Daniel Ortega de comemorar o Dia da Bíblia, mas essa situação não é apenas uma semelhança do que ocorre com os católicos do país.
Um ano depois de voltar ao poder na Nicarágua, Daniel Ortega fez um aceno às lideranças evangélicas ao inaugurar a Plaza de la Biblia em Manágua, a capital. Na ocasião, os principais pastores do país estiveram presentes.
Dez anos depois, em setembro de 2018, evangélicos foram às ruas clamar a Deus, de joelhos, contra a ditadura de Ortega. À época, o ato recebeu o apoio da Aliança Evangélica da Nicarágua, que se esforçava para mobilizar os protestantes do país (uma minoria religiosa) em prol da oração e do jejum pela liberdade.
Agora, em 2022, depois que emissoras de rádio católica foram fechadas, freiras expulsas do país e padres presos por suas manifestações a respeito da política, a repressão parece ter subido de tom também contra os evangélicos.
Por meio da Polícia, a ditadura nicaraguense proibiu as diferentes denominações evangélicas de saírem às ruas para comemorar os 453 anos da tradução da Bíblia com carros alegóricos, leituras e louvores.
De acordo com informações do portal Despacho505, os pastores se veem numa posição servil ao ditador. Na última quinta-feira, 22 de setembro, líderes evangélicos demonstrando satisfação receberam a Ministra da Família, Johana Flores, delegada por Ortega para comemorar o Dia da Bíblia.
Essa cerimônia foi determinada pelo próprio Ortega, para que soasse como uma reafirmação de sua lealdade ao governo. Um sinal disso é que a festa com os líderes evangélicos e a ministra foi reduzida, enquanto os fiéis foram proibidos de expressar a fé na mesma praça que foi inaugurada em 2008, dentre outros locais.
Analistas sustentam que a “oferta” de Ortega aos líderes evangélicos foi suficientemente “gratificante” para que agora que a repressão chegou aos fiéis, eles se mantenham em silêncio como fizeram em 2018, quando o ditador ordenou que os protestos fossem encerrados à força de balas.
É claro que “Ortega rompeu com o povo evangélico, mas não com seus pastores”, critica um especialista em questões religiosas que pede anonimato.
A proibição aos evangélicos de comemorarem o Dia da Bíblica foi divulgada através de um comunicado do Conselho Nacional de Pastores da Nicarágua, com sede em Nagarote.
O pastor Leonel Espinoza, líder do templo Rey de Reyes em Palacagüina, disse a um programa de televisão que eles próprios chegaram a um acordo para celebrar “cada um em seu templo”, já que a ordem para não realizar a chamada caravana de júbilo partiu da Polícia Orteguista.
A realidade dos evangélicos nicaraguenses é o temor de sofrerem um ataque semelhante ao sofrido pelos católicos: “Celebrar a Bíblia não é uma coisa ruim, mas este é um precedente que prevê que as coisas podem chegar a um extremo inesperado. Uma perseguição como a que estão fazendo contra nossos irmãos padres e bispos pode vir”, disse um pastor de uma igreja pentecostal sob condição de anonimato.