O Partido dos Trabalhadores vem intensificando suas ações para se reaproximar dos evangélicos e tentar fazer o segmento esquecer os deboches e críticas feitas pelo ex-presidente Lula no passado. Para tanto, até música gospel passou a ser considerada.
Após as decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) que anularam as condenações de Lula – embora ele não tenha sido inocentado, os processos voltaram à estaca zero, o que garante seu direito à disputa eleitoral em 2022 – no âmbito da Operação Lava-Jato estão motivando o PT a tentar se reaproximar dos fiéis evangélicos.
Uma das iniciativas do PT é vender uma imagem de alguém que foi injustiçado, e para isso o partido estaria produzindo vídeos em que o ex-presidente é retratado como alguém que superou adversidades.
De acordo com informações do jornal O Globo, um desses vídeos produzidos para serem veiculados de maneira informal nas redes sociais e aplicativos de mensagens tem como trilha sonora a música A Vitória Chegou, da cantora gospel Aurelina Dourado. O clipe oficial da música tem 265 milhões de visualizações no YouTube, o que deve ter servido como base para sua escolha pelo PT.
A jornalista Amanda Almeida resumiu o trabalho do partido nesse momento: “Mesmo sem marqueteiro ainda definido para 2022, o PT investe em silêncio numa produção caseira de vídeos para distribuição em massa por mídias sociais. Focado em Lula, o material, que em grande parte não traz o selo oficial do partido nem é assumido em suas páginas, exalta a trajetória do ex-presidente. Um deles busca dialogar diretamente com os evangélicos, segmento social com quem o PT perdeu o diálogo e, hoje, tenta desesperadamente se reaproximar”.
Morde e assopra
Outro jornalista d’O Globo, Lauro Jardim, reportou que Lula teria feito uma videoconferência com integrantes do PT do Rio de Janeiro e recomendou aos militantes a leitura do livro Em Nome de Deus, de Karen Armstrong, que fala retrata as religiões cristã, judaica e islâmica como “fundamentalistas”.
Nessa mesma conversa, segundo o jornalista, Lula “sugeriu a leitura aos companheiros e gastou uns bons minutos elogiando o modo com o qual o evangélico acolhe a população mais vulnerável. Fez inclusive comparações, bem ao seu estilo. Disse que quando alguém bate à porta dos sindicatos com alguma necessidade urgente, é logo instado a ir à rua colar cartazes”.
Lula teria seguido sua comparação dizendo que se “essa mesma pessoa resolve recorrer à Igreja Católica, ouve do padre que o sofrimento é importante e que a felicidade virá na vida eterna”, e concluiu: “Então, o sujeito entra num templo evangélico, relata seus problemas, é acolhido pelo pastor e ganha incentivos a superar as dificuldades ao lado de outras pessoas na mesma situação”.
Essa versão “paz e amor” de Lula em relação aos evangélicos contrasta com a visão de momentos anteriores, em que o segmento foi tratado como adversário. O foco é voltar ao poder e Lula não nega, apostando na curta memória do eleitorado em relação aos escândalos de corrupção que sangraram as contas públicas.
“Tenho dito que o PT precisa voltar para a periferia para aprender a conviver com esse movimento. O que é a Igreja Pentecostal, hoje no Brasil? O que eles representam? Já são 30% ou 35% da população religiosa. No começo do século passado, era praticamente zero”, disse o ex-presidente em janeiro do ano passado.
“O pentecostal da prosperidade têm uma linguagem fácil para conversar com o povo. Porque você tem, de um lado, o autor de todos os problemas, que é o diabo, e a solução toda, que é Deus. E se não tiver solução, o cara é culpado porque não tem fé”, acrescentou, repetindo um discurso feito em 2015, em que tripudiava da pregação dos evangélicos.