Lula segue sua cantilena de reaproximação com os evangélicos, repetindo à exaustão que o PT deve entender a forma de pensar do público desse segmento para retornar ao poder. Em suas entrevistas, o ex-presidente deixa transparecer, também, que equipara Deus ao Estado, um raciocínio típico de lideranças comunistas.
A temporada de 580 dias na cadeia após condenação em segunda instância por corrupção e lavagem de dinheiro – sentença confirmada posteriormente em terceira instância – permitiu a Lula assistir muitos programas evangélicos na TV, e o petista disse que aprendeu muito sobre a forma como os pastores, em especial os neopentecostais, se comunicam com o povo.
“O que o PT tem que entender é que essas pessoas [evangélicos] estão na periferia, oferecendo às pessoas pobres uma saída espiritual. As pessoas estão ilhadas na periferia, sem receber a figura do Estado. E recebem quem? De um lado, o traficante. De outro lado, a Igreja Evangélica, a Igreja Católica”, afirmou Lula ao Uol, transparecendo a equivalência que faz entre Deus e o Estado.
Segundo o líder petista, é hora do partido mudar de postura em relação aos evangélicos, para reconquistar os votos: “Eles estão entrando na periferia, porque o povo, quando está desempregado e necessitado, a fé dele aumenta. Essa fé, do povo brasileiro, é muito grande e nós temos que respeitar. E ao invés de sermos do contra, temos que saber como é que a gente lida com esse novo modo de pensar do povo brasileiro. Inclusive de pensar a religião”, declarou.
Antes dessa entrevista de Lula, o PT havia divulgado uma carta aberta em que declara sua intenção de “ensinar” ao povo evangélico como deve “ler e interpretar a Bíblia”, em outra sinalização de que tem se inspirado na tática de governos comunistas, como ocorre atualmente na China.
O foco é voltar ao poder e Lula não nega, apostando na curta memória do eleitorado em relação aos escândalos de corrupção que sangraram as contas públicas. “Tenho dito que o PT precisa voltar para a periferia para aprender a conviver com esse movimento. O que é a Igreja Pentecostal, hoje no Brasil? O que eles representam? Já são 30% ou 35% da população religiosa. No começo do século passado, era praticamente zero”, contextualizou.
“E o pentecostal da prosperidade têm uma linguagem fácil para conversar com o povo. Porque você tem, de um lado, o autor de todos os problemas, que é o diabo, e a solução toda, que é Deus. E se não tiver solução, o cara é culpado porque não tem fé”, acrescentou, repetindo um discurso feito em 2015, em que tripudiava da pregação dos pastores evangélicos.
Lula continua acreditando que seu partido tem meios de atrair pastores e fiéis: “PT tem muita gente evangélica. A Marina Silva [hoje na Rede] é evangélica, embora ela tenha começado a sua formação dentro de um convento católico, ela virou evangélica e era uma pessoa ligada à igreja evangélica no meu governo. A Benedita da Silva é um símbolo de uma figura petista evangélica. O Walter Pinheiro, que foi senador pelo PT da Bahia, era evangélico e uma figura muito atuante na igreja. Muita gente na periferia, que é do PT, é evangélica”, finalizou.
PSDB
A proposta de se aproximar dos evangélicos não passou despercebida pelo PSDB, única legenda de centro-esquerda que jamais se aliou ao PT.
Os tucanos ironizaram a declaração recente de Lula de que teria “jeitão de pastor” e lembraram do histórico do ex-presidente, acostumado a mudar de opinião conforme a conveniência: “O próximo passo é abrir uma igreja e se intitular bispo”, ironizou o partido no Twitter.