Um estudo amplo, feito a partir de pesquisas internacionais, concluiu que não existem “genes gays” que induziriam as pessoas à homossexualidade, mas ao invés disso, uma série de outros fatores influenciam no comportamento sexual.
Segundo o maior estudo já realizado sobre genes ligados à orientação sexual, foi comprovado que pessoas que já tiveram ou têm parceiros do mesmo sexo são mais propensas a ter um ou mais de certos marcadores de DNA. Entretanto, mesmo todos os marcadores juntos, os pesquisadores concluíram que não poderiam prever se uma pessoa é gay, bissexual ou heterossexual a partir desses dados.
Em vez disso, centenas ou milhares de genes, cada um com pequenos efeitos, aparentemente influenciam o comportamento sexual, segundo informações do portal Science Mag. O artigo do estudo baseia-se nos resultados apresentados pela mesma equipe em uma reunião de 2018, e enfatiza que os marcadores genéticos não podem ser usados para prever o comportamento sexual.
Estudos de famílias e gêmeos sugerem há muito tempo que o comportamento entre pessoas do mesmo sexo tem um componente genético. A partir dos anos 1990, os cientistas relataram tentativas de associar evidências genéticas à orientação sexual . Nos últimos anos, enormes conjuntos de dados com DNA de centenas de milhares de pessoas tornaram possíveis estudos muito mais poderosos.
Para explorar a genética por trás do comportamento sexual, uma equipe internacional co-liderada pelo geneticista Benjamin Neale do Broad Institute em Cambridge, Massachusetts, usou o UK Biobank, um estudo de saúde de longo prazo de 500 mil pessoas do Reino Unido. A equipe trabalhou com cientistas do comportamento e também consultou grupos de defesa de lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros e Queer (LGBTQ).
A equipe de Neale examinou marcadores de DNA e dados de pesquisas sobre comportamento sexual preenchidas por quase 409 mil participantes do UK Biobank e cerca de 69 mil clientes do 23andMe, uma entidade privada. Todos os participantes do estudo eram de ascendência européia.
As pesquisas britânicas do Biobank e 23andMe perguntaram: “Você já teve relações sexuais com alguém do mesmo sexo?”. A equipe encontrou cinco marcadores genéticos significativamente associados à resposta “sim” a essas perguntas. Dois marcadores foram compartilhados por homens e mulheres, dois eram específicos para homens e um foi encontrado apenas em mulheres.
Uma das variantes genéticas estava próxima dos genes associados à calvície masculina, sugerindo um vínculo com os hormônios sexuais, como a testosterona, e outra estava em uma área rica em genes olfativos, que estavam ligados à atração sexual.
Quando os pesquisadores combinaram todas as variantes que mediram em todo o genoma, estimam que a genética pode explicar entre 8% e 25% do comportamento não-heterossexual . O resto, dizem eles, é explicado por influências ambientais, que podem variar de exposição a hormônios no útero a influências sociais mais tarde na vida. Essa informação passa a ser a admissão científica de que a sexualidade é influenciada pelo comportamento.
Mas os cinco marcadores de DNA encontrados explicaram menos de 1% desse comportamento, assim como outra análise que incluiu mais marcadores com efeitos menores. Assim como outras características comportamentais, como a personalidade, não existe um “gene gay” isolado, diz Andrea Ganna, membro da equipe Broad. Em vez disso, o comportamento sexual de pessoas atraídas pelo mesmo sexo parece ser influenciado por talvez centenas ou milhares de genes, cada um com pequenos efeitos.
Como os pesquisadores relataram no ano passado, eles também descobriram que as pessoas com esses marcadores estavam mais abertas a novas experiências, mais propensas a usar maconha e com maior risco de doenças mentais, como depressão.
Outros pesquisadores alertam que as descobertas são limitadas pelo fato de uma pessoa que teve uma única experiência do mesmo sexo ser considerada não-heterossexual. Ter apenas um desses encontros, por exemplo, pode refletir uma abertura a novas experiências, em vez de orientação sexual, diz Dean Hamer, geneticista aposentado do National Institutes of Health em Bethesda, Maryland. “Essas são descobertas fascinantes, mas na verdade não é um estudo sobre genes homossexuais”, diz Hamer, que em 1993 relatou ter encontrado uma área no cromossomo X que era mais comum em homens gays; essa região não foi encontrada no novo estudo. “Agora estou muito menos empolgado com a possibilidade de obter boas pistas biológicas” para a orientação sexual”, acrescentou.
Bailey gostaria que o Biobank do Reino Unido tivesse perguntado aos sujeitos por qual sexo eles se sentem mais atraídos, não apenas pelo comportamento (como o 23andMe fez). “Eles não tinham uma medida particularmente boa de orientação sexual”, concorda o biólogo evolucionista William Rice, da Universidade da Califórnia, em Santa Barbara, que observa que essa pergunta também capturaria pessoas gays ou bissexuais que não agiram de acordo com suas atrações.
Ainda assim, ele acredita que o estudo trouxe maior compreensão sobre o assunto. “Uma grande parte da população” não é exclusivamente heterossexual, observou ele, acrescentando que essas pessoas “querem entender quem são e por que se sentem assim”.