Marina Silva (Rede) entrou numa nova polêmica envolvendo a coerência de suas posturas políticas. Ao declarar que se protegia com uma espingarda durante a infância para não sofrer abusos sexuais, as críticas nas redes sociais foram intensas, já que atualmente a candidata se opõe à proposta de revisão do Estatuto do Desarmamento, feita por Jair Bolsonaro (PSL).
Antes disso, a candidata – evangélica e membro da Assembleia de Deus – já havia se posicionado a favor da realização de um plebiscito sobre a legalização do aborto e das drogas, o que vai contra o entendimento comum no meio cristão a respeito dos temas.
A polêmica surgiu quando um trecho de sua entrevista concedida à revista Marie Claire, em março deste ano, repercutiu nas redes sociais. Nela, a jornalista Maria Laura Neves questiona se Marina Silva sofreu algum tipo de abuso sexual enquanto cortava seringa Acre com as irmãs, já que o ambiente dessa atividade é majoritariamente masculino.
“Nunca. Quando éramos crianças, tínhamos uma espingarda. Eu e minhas irmãs a levávamos para cortar a seringa. Só uma delas sabia atirar e a gente se dividia na estrada para fazer o serviço mais rápido. Ou seja… Não adiantava muita coisa. Mas havia esse medo porque éramos ali talvez as únicas mulheres que cortavam seringa. Minha mãe tinha medo por ser um espaço dos homens”, afirmou a ex-senadora.
Diante da repercussão da entrevista, amplificada por críticas de formadores de opinião, como por exemplo as páginas do Movimento Brasil Livre (MBL) nas diferentes redes sociais, Marina se viu obrigada a tentar explicar seu raciocínio. Segunda a candidata, era “até compreensível” que sua mãe tomasse a atitude que tomou para proteger as filhas.
“[Minha mãe tinha] a ilusão de que uma espingarda, na maioria das vezes sem cartucho – porque ela tinha medo de botar o cartucho, porque tinha medo de cair, disparar, dar um tiro em alguém [poderia nos proteger]”, afirmou Marina Silva à jornalista Anna Virginia Balloussier, do jornal Folha de S. Paulo.
A própria jornalista resume a impressão de quem discorda da candidata: “É muita hipocrisia, apontaram seus detratores”, relatou Balloussier.
Marina acredita que a postura de sua mãe para proteger as filhas era compreensível, mas considera inaceitável que outros tenham a liberdade de tentar proteger os seus da mesma forma: “Crianças, em vez de trabalhar, deveriam estar na escola, em vez de ter que se proteger de agressão, deveriam estar sendo protegidas por suas famílias ou governos”, afirmou.
Convicta, Marina Silva repudia o fato de seus opositores quererem “lançar isso no rosto de alguém que na época tinha de 10 para 11 anos, que não sabia nem direito porque minha mãe tinha tanto medo que nós encontrássemos algum homem, porque não conhecíamos as questões da sexualidade, isso aí é inadmissível”.
“[É preciso agir para que] nenhuma criança tenha que ter, dentro de suas casas, uma arma para se proteger, o Estado é que tem que fazer isso. Fui uma criança ameaçada pelas dificuldades da vida. Por isso, hoje luto para que todas as crianças, em vez de estar trabalhando, estejam na escola”, acrescentou, dando indícios de simpatia com a ideia de que o Estado deve se impor também no seio familiar, um dos pontos rejeitados pelo movimento conservador, que considera que a educação moral e ética dos filhos pertence aos pais.