A apuração dos votos da eleição presidencial levou Marina Silva (Rede) a um opróbrio político indisfarçável: a terceira colocada dos dois últimos pleitos – acumulando 20 milhões de votos em 2010 e 22 milhões em 2014 – terminou a disputa de 2018 com pouco mais de 1 milhão de votos, ficando atrás, inclusive, do folclórico estreante Cabo Daciolo (Patriota), que obteve 1,3 milhão.
Essa derrocada da ex-senadora e ex-ministra nos governos Lula (PT) pode ser medida por diversos fatores, mas principalmente, pelo esvaziamento do apoio do segmento evangélico. A postura titubeante sobre aborto e legalização de drogas levou Marina Silva a uma espécie de descrédito junto aos seus irmãos na fé.
Agora, Marina Silva deverá ser procurada para se juntar às duas campanhas que disputarão o segundo turno: Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT). Acuada, ela será colocada à prova de seu próprio discurso, já que passou a campanha inteira atacando Bolsonaro e, na última quinta-feira, 04 de outubro, fez duras críticas ao adversário petista durante o debate da TV Globo, dizendo que faltava ao ex-prefeito de São Paulo uma dose de “autocrítica” para reconhecer erros de seu partido.
Daciolo
O deputado federal Cabo Daciolo (Patriota) surpreendeu ao ficar entre os seis primeiros colocados, alcançando 1.348 mil votos, num total de 1,26%. A campanha, baseada em declarações fortes sobre organizações políticas de esquerda – como o Foro de São Paulo – e dias de isolamento em jejum e oração num monte, tornou-se alvo de muitas piadas na internet, mas levou o candidato ao Planalto a superar a votação da experiente Marina Silva.
Outro que foi superado por Daciolo foi o ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (MDB), que investiu, pessoalmente, dezenas de milhões de reais para tentar atrair o voto dos eleitores. Em comparação, o candidato evangélico investiu R$ 808 na campanha, segundo declaração ao Tribunal Superior Eleitoral, contra R$ 53 milhões de Meirelles.