A investida do Ministério Público Federal (MPF) contra a campanha das sementes de feijão lançada por Valdemiro Santiago ganhou um novo capítulo com o pedido de remoção do vídeo em que o autointitulado apóstolo associa a oferta à cura do coronavírus.
O MPF enviou um ofício ao presidente do Google no Brasil solicitando a retirada do ar de vídeos em que Valdemiro Santiago, líder da Igreja Mundial do Poder de Deus (IMPD), aparece oferecendo sementes de feijão que funcionariam como gesto de fé pela cura do coronavírus.
No ofício, o MPF pediu que a resposta sobre a retirada do vídeo aconteça em até cinco dias. Os procuradores também pedem que a empresa mantenha o material “preservado e acautelado em arquivos e na íntegra”, assim como o registro da quantidade de acessos para “eventuais e futuras providências de responsabilização processuais”.
Valdemiro já havia sido denunciado ao Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP) por suposta prática de estelionato no caso das sementes.
Conforme noticiado pelo portal G1, o procurador federal Wellington Cabral Saraiva entende que o líder Igreja Mundial “usa de influência religiosa e da mística da religião para obter vantagem pessoal (ou em benefício da igreja), induzindo vítimas em erro, pois não há evidência conhecida de cura da Covid-19 por meio de alguma divindade nem por ingestão ou plantação de feijões mágicos”.
“O noticiado não fala explicitamente em pagamento, pois emprega a palavra-código ‘propósito’. As vítimas não fariam pagamentos, mas ’propósitos’. A despeito do disfarce linguístico, o ardil está claro: os fiéis devem pagar valores predeterminados para obter feijões mágicos que os poderão curar da Covid-19, mesmo em casos graves”, destaca Saraiva.
Num dos vídeos, Santiago anuncia a campanha pedindo ofertas mínimas de R$ 100,00.
“Na última reunião de bispos e pastores, apresentando com exame, com laudo médico, gente curada de coronavírus. Em estado terminal, podemos dizer assim. Gravíssimo, num estado muito avançado. E Deus operou e fez maravilha. E tá ali o exame, para quem quiser. Seria bom uma reportagem na Globo, na Bandeirantes, na Record, no SBT, na RedeTV!, para mostrar ao povo o poder de Deus. Aí você vê como é importante a semente, a semeadura. Então o povo obedeceu a José e semeou na terra. E a terra deu o retorno. Toda família se fartou e conseguiu venceu a crise, a epidemia”, diz Valdemiro Santiago.
“A notícia-crime foi enviada ao MP-SP porque o crime a ser investigado é de competência da Justiça Estadual, e o MPF atua perante a Justiça Federal”, justificaram os procuradores federais, acrescentando que Valdemiro Santiago “praticamente debocha da boa-fé de seus seguidores, informando que as sementes germinarão e na planta estará escrito ‘Sê tu uma bênção’”.
“Não se pode, a título de liberdade religiosa, permitir que indivíduos inescrupulosos ludibriem vítimas vulneráveis e firam a fé pública. Não se trata de coibir as pessoas em geral de professar a fé que desejarem e de cultuar as divindades de sua preferência, na forma de sua escolha. Trata-se de impedir que determinados indivíduos se valham desse conjunto de crenças para obter vantagem econômica ilegítima”.
Em sua defesa, a Igreja Mundial do Poder de Deus disse através de nota que “a campanha do mês de maio ‘sê tu uma benção’, representado pela semente do feijão, não se refere a venda de uma ‘promessa de cura’, mas sim o início de um propósito com Deus”.
A instituição entende que “a semente é uma figura de linguagem, amplamente mencionada nos textos bíblicos, para materializar o propósito com Deus” e que não há nenhum oferta de venda de cura: “Nos vídeos não há menção de nenhuma venda, o que rechaçamos veemente, haja vista que trata-se de uma sugestão de oferta espontânea, não tendo nenhuma correlação com venda de quaisquer espécies”.
A Igreja Mundial ressalta que “ao longo de todos esses anos, tem o único e exclusivo propósito de propagação da fé Cristã, onde todas as nossas atitudes se baseiam nos princípios bíblicos, na ética e na legalidade”.