As pressões de países árabes estão levando alguns dos integrantes do alto escalão do governo a fazerem ponderações sobre a mudança da embaixada brasileira em Israel para Jerusalém, uma promessa de campanha do presidente Jair Bolsonaro (PSL), reiterada durante a visita do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu.
O ministro da Secretaria de Governo, general Carlos Alberto dos Santos Cruz, afirmou recentemente que questões práticas resultantes da transferência da embaixada podem inviabilizar a concretização da promessa feita pelo presidente. “Olha, eu não vou falar nem pelo Bolsonaro, nem pelo Ernesto [Araújo, ministro das Relações Exteriores], mas eu acho que eles [evangélicos] vão ficar na esperança”, declarou.
Segundo o ministro, “uma coisa é você dizer que tem intenção, outra coisa é você concretizar” diante das burocracias e pressões externas. “Para sair de uma ideia para a vida real, você tem uma série de outras considerações de ordem prática. Então, eu acho completamente inviável essa conexão“, afirmou Santos Cruz à BBC.
O ministro Santos Cruz, que é considerado um dos mais próximos de Bolsonaro, ponderou que não pode haver pressa na definição da situação: “São coisas que seriam levantadas, consideradas, na avaliação da concretização da ideia. Tudo isso pode até inviabilizar [a mudança da embaixada]. Então, eu acho que o pessoal tem que ter um pouco mais de calma. Entre a ideia e a realidade, você tem uma distância bastante longa”, acrescentou.
O primeiro a realizar essa mudança foi o presidente Donald Trump, que colocou em prática uma decisão tomada pelo Congresso dos Estados Unidos décadas atrás. Ainda assim, a mudança foi realizada em seu segundo ano de governo, após diversas ponderações, medidas e um planejamento aprofundado.
Pressões
A afirmação do ministro Santos Cruz faz eco às declarações de um líder muçulmano brasileiro, que durante a transição de governo alegou ter garantias da equipe que dava suporte a Jair Bolsonaro de que o governo seria parceiro das nações árabes. O interlocutor, que se apresentou como “representante do presidente do PSL”, diz no vídeo que “a mensagem que eu tenho pra passar pra vocês é que as relações do Oriente Médio com o Brasil só têm a melhorar”.
Em outro trecho, o homem jura lealdade à “bandeira da Arábia Saudita” e acrescenta: “Nós estamos muito muito bem com a presidência que vem, as relações só tendem a crescer”. O material foi compartilhado pela página da missão Ecoando a Voz dos Mártires no Facebook.
O deputado federal Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), uma das principais lideranças evangélicas no Congresso, comentou as declarações de Santos Cruz afirmando que a transferência da embaixada é uma das prioridades da bancada, e que os parlamentares irão pressionar politicamente e até realizar mobilização popular caso a decisão não seja tomada até abril.
“Para nós evangélicos, a nossa motivação é [mais] um princípio de fé, do que de questões políticas. Para nós, que acreditamos de verdade na Bíblia, quem abençoar Israel será abençoado nas mesmas bênçãos”, disse Cavalcante.
Bolsonaro
Além das pressões de diferentes lados, o presidente Jair Bolsonaro precisa lidar com a Organização das Nações Unidas (ONU), que através do Conselho de Segurança pode tentar impedir a mudança fazendo valer uma resolução que torna nulos os efeitos da Lei Básica de Jerusalém, votada pelo Parlamento Israelense em 1980.
A resolução em questão é ligada ao Conselho de Segurança das Nações Unidas e tem o número 478, votada também em 1980. O Brasil foi signatário da medida à época, e na prática, o texto declara a negação ao reconhecimento de Jerusalém como capital israelense.
Em entrevista ao SBT, o presidente minimizou o risco de retaliações dos países árabes, importadores de carne brasileira, e reafirmou que fará a mudança da embaixada: “Como disse o primeiro-ministro israelense (Benjamin Netanyahu), a decisão está tomada, está faltando apenas definir quando é que ela será implementada”, pontuou. “Grande parte do mundo árabe está alinhado ou se alinhando aos Estados Unidos. Essa questão da Palestina já está saturando o pessoal do mundo árabe em grande parte”, acrescentou Bolsonaro.