Um missionário norte-americano que atua junto a tribos indígenas brasileiras foi interrogado na última segunda-feira, 31 de dezembro, pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI), após ele ter entrado em uma reserva onde os índios da etnia hi-merimã vivem isolados. O local fica próximo à cidade de Lábrea, no sul do Amazonas.
O missionário norte-americano Steve Campbell atua na região desde 1963, quando chegou à Amazônia ainda criança, trazido pelos pais, que também eram missionários. Ele vive em uma casa na aldeia São Francisco com a mulher, Robin Campbell, e suas duas filhas, também missionárias.
A FUNAI afirmou que irá solicitar ao Ministério Público Federal e a Polícia Federal que investigue a acusação feita a Campbell por entrar no território da tribo isolada, que conta com aproximadamente 100 índios. Segundo o jornal Folha de S. Paulo, o missionário esteve em acampamentos abandonados que haviam sido recém-localizados na região do igarapé Canuaru.
O deslocamento até a área teria ocorrido com a ajuda de um dos índios da etnia jamamadi que haviam participado da expedição mais recente da Funai, em setembro passado. O missionário nega que tenha tentado contato com a tribo isolada, e disse que fez o percurso para ajudar a tribo jamamadi a usar um aparelho de GPS.
A FUNAI adotou uma estratégia, há três décadas, de não manter contato com os índios isolados, incluindo os hi-merimãs. “A memória imunológica deles não está preparada para uma simples gripe ou conjuntivite”, explica Bruno Pereira, coordenador geral de índios isolados da FUNAI.
“Um outro ponto são contatos conduzidos por pessoas que não respeitam a autodeterminação desses povos e suas formas de vida. Historicamente, isso tem acarretado em interferências violentas em suas relações vitais com o ambiente, com as relações familiares, com aquilo que acreditam”, acrescentou.
Segundo Pereira, o MP e a PF devem investigar se o missionário teve interesse de fazer contato, embora o encontro com os índios não tenha ocorrido: “Caso se configure, na investigação, que existiu interesse de fazer contato, de se utilizar da relação dele com outros índios para se aproximar dos isolados, ele pode ser imputado por crime de genocídio ao expor deliberadamente a segurança e a vida dos hi-merimãs”, acrescentou Pereira.
O missionário batista é sustentado por uma igreja da mesma tradição sediada no estado do Maine, nos Estados Unidos. De teologia reformada, Campbell é bastante conhecido em Lábrea e se relaciona com sete das oito etnias que vivem próximo ao rio Purus, somando aproximadamente nove mil indígenas.
O presidente Jair Bolsonaro (PSL) indicou que fará mudanças na política de isolamento dos índios de etnias que vivem em áreas remotas. Após as eleições, ele chegou a declarar que é preciso dar oportunidade para que escolham se desejam viver nas tradições de suas tribos ou se querem experimentar a vida em sociedade. A declaração foi corroborada pela pastora Damares Alves, ministra de Mulheres, Família e Direitos Humanos.