Uma comissão sobre cinema na Jordânia, país predominantemente muçulmano, está pedindo à Netflix que exclua a série Messiah – produzida pelo casal cristão Mark Burnett e Roma Downey – do catálogo.
Os cineastas jordanianos entenderam que o “conteúdo da série pode ser amplamente percebido ou interpretado como uma violação da santidade da religião”, e pediram que a plataforma de streaming exclua Messiah das opções disponíveis no país.
A série estreou nesta quarta-feira, 01 de janeiro, mundialmente. De acordo com informações do portal The Christian Post, a série tem dez episódios contando o antagonismo entre uma agente da CIA e um homem misterioso identificado como Al-Masih, que chamou atenção das autoridades por realizar milagres e reunir seguidores com a mensagem de que foi enviado por um ser divino.
A série foi criada por Michael Petroni, roteirista de As Crônicas de Nárnia: A Viagem do Peregrino da Alvorada e cocriador do drama espiritual Miracles, da rede de TV ABC. A produção foi desenvolvida por Mark Burnett e Roma Downey, casal descrito na mídia dos EUA como “os cristãos mais barulhentos de Hollywood e responsável por outra série de sucesso: A Bíblia.
Messiah teve cenas gravadas na Jordânia, com o apoio da Royal Film Commission (RFC), que emitiu autorização para as filmagens após ler uma sinopse da série. A produção conseguiu, inclusive, isenção de impostos no país.
No entanto, na última segunda-feira, 30 de dezembro, a RFC divulgou um comunicado pedindo que a Netflix se abstivesse de transmitir a série no país predominantemente muçulmano, já que 95% da população da Jordânia segue o islamismo sunita, enquanto uma pequena minoria segue os ramos xiitas.
“A história é puramente fictícia e os personagens também, mas a RFC considera que o conteúdo da série pode ser percebido ou interpretado em grande parte como uma violação da santidade da religião, possivelmente violando as leis do país”, afirmou o comunicado. “Ainda mantendo firmemente seus princípios, notavelmente o respeito à liberdade criativa, a RFC – como instituição pública e responsável – não pode tolerar ou ignorar mensagens que infringem as leis básicas do Reino”.
Antes da estreia, a série já despertava a desconfiança de que seria alvo de críticas no meio cristão, pela clara alusão – inclusive no título – a Jesus Cristo, o Messias. A rejeição por parte de muçulmanos, motivada por razões diferentes, também já era esperada, uma vez que uma petição online reuniu mais de 4 mil assinaturas pedindo o banimento por ser vista na religião como uma “propaganda anti-islâmica”.
Um porta-voz da Netflix indicou que não recebeu um pedido legal formal para remover a série do serviço jordaniano e acrescentou que Messiah é uma “obra de ficção […] que não se baseia em nenhum personagem, figura ou religião”.
“Todos os programas da Netflix apresentam classificações e informações para ajudar os assinantes a tomarem suas próprias decisões sobre o que é certo para eles e suas famílias”, disse a empresa.
Enquanto isso, me meio à controvérsia, Michael Petroni afirmou que que vê a série como um ponto de partida para pessoas de várias origens: “É uma conquista no programa que ele realmente não prega. Na verdade, apenas apresenta as coisas e coloca a questão no colo dos espectadores, o que eu acho que é a melhor maneira de iniciar uma discussão sobre coisas como sistemas de crenças e fé. Não é um tipo individual de experiência. Eu acho que é uma experiência que você assiste e depois discute”.