A cidade de Nazaré, em Israel, apontada pela Bíblia como o local em que Jesus passou sua infância, sofre atualmente com a crescente rivalidade entre cristãos e muçulmanos e se prepara para a eleição que vem sendo considerada como a mais tensa nos últimos 20 anos.
Atualmente a cidade é comandada pelo cristão Ramiz Jaraiysi, que tenta se reeleger para o quinto mandato consecutivo para o cargo de prefeito. Porém, na eleição que acontece na próxima quinta feira, Jaraiysi enfrentará pela primeira vez a oposição de uma candidata muçulmana, a polêmica deputada Haneen Zoabi, membro do partido nacionalista árabe Balad.
– Religião não costuma ter papel na política de nossa cidade. Mas realmente nessas eleições há grupos fundamentalistas que estão usando a religião para alcançar objetivos políticos – afirma Jaraiysi.
Nazaré é hoje a maior cidade árabe de Israel, sendo que de seus 81 mil habitantes 70% são muçulmanos. Situação bem diferente da vivida há cem anos quando era uma cidade majoritariamente cristã (75%). A inversão dessa proporção se deu nas últimas décadas devido à gradual evasão de cristãos do Oriente Médio e de uma maior taxa de natalidade nas famílias muçulmanas.
Essa tensão religiosa veio à tona nessa eleição, que vai indicar o próximo prefeito da cidade. Entre os cinco candidatos, três são cristãos e dois muçulmanos. Um deles, Abu Ahmad Tawfiq, do Movimento Islâmico, concorre por uma legenda abertamente fundamentalista. Porém, segundo o jornal O Globo, a parlamentar Haneen Zoabi, 44 anos, é que tem reais condições de ameaçar o posto do atual prefeito.
Conhecida por sua postura radicalmente crítica ao governo de Israel, Zoabi tem ampla aceitação entre os árabes-israelenses e tem como um dos principais pontos de sua plataforma de governo a afirmação que de, se eleita, vai lutar pelos direitos de Nazaré com passeatas e protestos em frente ao Parlamento.
– Nazaré e o conflito com os palestinos estão intimamente ligados. A cidade é o coração dos palestinos que moram em Israel. Perdemos nosso país em 1948 e estamos sendo judaizados. Vivemos num país racista, que dá menos oportunidades aos árabes. O atual prefeito está acomodado demais diante do establishment judaico – alega Zoabi, que diz ainda que Israel tem interesse em manter a tensão entre cristãos e muçulmanos em Nazaré, em uma suposta estratégia do “dividir para conquistar”.
Por Dan Martins, para o Gospel+