Uma peça de teatro que supostamente deveria conscientizar alunos com idades entre 14 e 16 anos sobre a importância da prevenção a doenças sexualmente transmissíveis (DST) se transformou numa polêmica intensa por causa do uso de um “pênis gigante” amarrado à cintura de um dos atores, que atuava vestido de palhaço.
O Centro de Ensino Fundamental (CEF) 03 de Planaltina, no Distrito Federal, se tornou manchete de diversos veículos de imprensa no país por conta da peça O Auto da Camisinha, exibida para 150 estudantes. Em certo momento da encenação, os atores cantam “pega, pega a minha r*la”.
A Hierofante Companhia de Teatro, de Ceilândia, responsável pela encenação, se tornou alvo da fúria dos pais dos alunos, embora alegue que a peça seria uma ferramenta pedagógica para abordar o tema nas instituições de ensino, de acordo com informações do portal Metrópoles.
A mãe de duas alunas do CEF 03 afirmou que ficou indignada após o relato de uma de suas filhas, de apenas 12 anos “Ela disse: ‘Olha, mãe, o que aconteceu na minha escola’”. A mulher, que não quis se identificar, disse que a filha soube do ocorrido através de grupos do WhatsApp. “[Ela] viu esse absurdo porque recebeu no celular”, reclamou.
Limites
O pastor Renato Vargens, escritor e líder da Igreja Cristã da Aliança, em Niterói (RJ), comentou o episódio em um artigo e afirmou que a sociedade brasileira, incluindo os cristãos, precisa dar um basta a esse tipo de excesso.
“Sinceramente, não é possível que alguém considere isso normal. Não é possível que boa parte das escolas deste país continue com a erotização de crianças e adolescentes. Ora, isso é um acinte um disparate, um despropósito, mesmo porque, a escola não tem o direito de fazer isso com seus alunos e é claro, com suas famílias”, protestou.
Vargens acrescentou ainda que a “erotização infantil é um fenômeno que está se instalando na sociedade de forma acelerada”, o que evidencia que o fenômeno é parte de uma ação coordenada e silenciosa. “Para nossa tristeza uma onda de libertinagem tem avançado sobre a sociedade brasileira. O tema da sexualidade nas escolas passou a ser assunto principal ganhando espaço significativo no aprendizado do ler, escrever e contar, o que é fruto de uma doutrinação de viés marxista cujo objetivo é desconstruir de forma efetiva os valores judaico-cristãos que regem a sociedade ocidental”, afirmou.
“Infelizmente, tanto a escola como a universidade têm sido atacadas de forma severa pelo marxismo cultural. Alias, essa foi uma das estratégias traçada por Antônio Gramsci, o que para nossa vergonha e tristeza tem logrado êxito no Brasil”, observou, fazendo referência ao filósofo italiano que é louvado nas fileiras progressistas como um dos principais estrategistas do pensamento de esquerda.
CPI
O deputado distrital Rodrigo Delmasso (PRB), presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito da Pedofilia (CPI da Pedofilia), revelou que pretende convocar os membros da Hierofante Companhia de Teatro, de Ceilândia, para dar explicações sobre a peça apresentada.
“Essa peça é indecente, imoral e não contribui em nada na formação dos alunos. Podemos abordar esse assunto de outra forma. A convocação é para explicar por que eles quiseram apresentar para adolescentes, mesmo havendo restrição pelo ECA. Todos os deputados já confirmaram presença e ficaram perplexos com essa apresentação”, afirmou Delmasso.
Segundo a direção da escola, o uso do “pênis gigante” na encenação foi uma surpresa, pois a companhia de teatro não teria informado que usaria adereços do tipo. A professora Adriana Reis, supervisora da escola, alegou que a ideia era promover, de forma lúdica, a discussão sobre problemas como doenças sexualmente transmissíveis e evitar a gestação durante a adolescência no âmbito da educação sexual.
“Recebemos a companhia de teatro, que tem parceria com as secretarias de Saúde e de Cultura, para a apresentação da peça. Nos foram mostrados material como folder ilustrativo, roteiro e temática, que faz parte do currículo oficial. Mas em nenhum momento nos disseram sobre a música nem sobre a genitália do figurino. Pedimos desculpas ao terrível constrangimento causado à comunidade”, afirmou a professora Adriana Reis.
De acordo com a docente, a escola tem pedido desculpas aos pais que procuram a instituição em busca de explicações. Uma nota oficial foi divulgada para explicar o ocorrido: “O tema faz parte do currículo oficial da Secretaria de Educação e a parceria primava pela informação no contexto educacional. Ao tratar do tema orientação sexual, busca-se considerar a sexualidade como algo inerente à vida e à saúde, que se expressa desde cedo no ser humano”, diz trecho do documento.
“Em nenhum momento o material entregue pela companhia teatral explicitava cenas com teor pornográfico. A escola não teve acesso prévio às imagens, figurinos e trilha sonora utilizadas na apresentação. Somente o roteiro da peça foi disponibilizado não se evidenciando, em nenhum momento, um teor pornográfico ou de incentivo à prática sexual”, acrescenta a nota.
Anderson Floriano, produtor, diretor, gestor e ator da companhia teatral, defendeu-se das críticas, dizendo que a peça tem caráter lúdico e já foi encenada em países da África e nos Estados Unidos: “Esse espetáculo existe há 20 anos e já foi encenado mais de 600 vezes, inclusive em outros países. Ele é interpretado em cordel de forma lúdica para falar sobre a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e não tem nada de vulgar. Não queríamos usar um órgão sexual do tamanho natural justamente para evitar essa vulgarização”, afirmou.
Ainda segundo Floriano, a música utilizada na peça é A Rolinha, de Selma do Coco, de 1996. “As pessoas distorcem o espetáculo sem antes mesmo conhecê-lo”, criticou, afirmando que a letra da canção não tem malícia, mesmo que ela tenha sido usada como marchinha no carnaval de 1997.
“Somos simples e diretos para atingir os adolescentes. A peça é aberta e quem quiser se retirar não tem problema, mas não é isso que ocorre. Os jovens gostam”, afirmou Floriano, acrescentando que irá processar a pessoa que publicou a imagem da peça nas redes sociais sem autorização.